A frieza do debate sobre a corrida pelo Governo do Estado e o Senado foi quebrada com as declarações do ex-governador e presidenciável Ciro Gomes (PDT) que bateu duro no senador Tasso Jereissati e no PSDB. Ciro, durante a convenção do PDT, na última quinta-feira, em Fortaleza, chegou a dizer que se Tasso assumisse candidatura ao Governo do Estado seria um traidor porque o PSDB tem representante na administração Camilo Santana. Filiado ao PSDB, Maia Júnior, segundo os tucanos, por decisão pessoal, ocupa a Secretaria de Planejamento do Estado. Ciro havia dito, ainda, que Tasso manda no BNB e em cargos do Governo Federal no Ceará.
As declarações de Ciro Gomes caíram como pólvora em paiol, provocaram reação no PSDB e representam o fogo que a oposição precisa para reconstruir a unidade que a levou a concorrer ao Governo ao Governo do Estado, em 2014, e à Prefeitura de Fortaleza em 2016. “Ciro deu uma entrevista mentirosa, fez acusações gravíssimas ao senador Tasso. Ele tem um caráter que se manifesta neste tipo de declarações, que mostram claramente que ele não está preparado para disputar cargo nenhum”, reagiu o Presidente da Executiva Regional do PSDB, ex-senador Luiz Pontes, em entrevista, neste sábado, ao Jornal O POVO.
Luiz Pontes considera desonesta a postura de Ciro Gomes com as críticas ao senador Tasso Jereissati. ‘’O Ciro conhece a decência, a seriedade, a correção e a ética do Tasso. O Ciro sabe dessas qualidades, mas, por oportunismo, carreirismo e demagogia usa do jogo de palavras para atacar e agredir’’, disse Luiz Pontes, ao lembrar que o senador cearense sempre se opôs a indicação de nomes do PSDB para o Governo do presidente Michel Temer.
‘’O senador Tasso apoia projetos que estão na agenda do Governo Federal, mas jamais pediu cargo ou defendeu que o PSDB indicasse nomes para compor a equipe do presidente Michel Temer. Insinuar que o Tasso manda em cargos é desonesto’’, expôs Pontes, ao dizer, ainda, que Ciro comete outra injustiça ao atribuir ao senador tucano a retenção de recursos para o Estado do Ceará. ‘’O Tasso representa o Estado em Brasília e abre as portas abertas do gabinete para o governador Camilo Santana que já o procurou para discutir questões de interesse do Estado’’, disse Pontes.
Sobre a presença de Maia Júnior como filiado do PSDB no Governo Camilo Santana, Luiz Pontes foi taxativo: “O Camilo foi pedir ao Tasso que liberasse o Maia, e o Tasso disse que isso era uma questão pessoal dele, que não tem nada a ver com o PSDB”. A entrada de Maia Júnior em 2016 para a administração estadual gerou especulações sobre uma possível aproximação do PSDB com o Governo de Camilo. O PSDB, como expôs Luiz Pontes, sempre foi claro nessa questão: ‘’o Sr. Maia Júnior foi para o Governo por contra própria, por decisão pessoal e não partidária’’, afirma o tucano.
CIRO X TASSO
Pré-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes tem a sua ascensão política bancada pelo hoje senador Tasso Jereissati. Em 1987, ao assumir o seu primeiro mandato, Tasso o fez líder do Governo na Assembleia Legislativa e o projetou para, em 1989, conquistar a Prefeitura de Fortaleza. Ciro começou no PDS e, ao se aliar ao grupo de Tasso, desembarcou no PMDB, indo, em seguida, para o PSDB, sigla pela qual se elegeu, em 1990, para o Governo do Estado. Depois, passou pelo PPS, PSB, PROS e, hoje, está no PDT. Tasso nasceu no PMDB e foi um dos fundadores, em 1988, do PSDB, onde permanece até hoje.
Ciro não chegou a concluir o mandato de governador porque Tasso o indicou Ministro da Fazenda no Governo do presidente Itamar Franco (1992-1994). Ciro ganhou projeção nacional, manteve-se filiado ao PSDB por mais algum tempo, mas depois rompeu com os tucanos nacionais a partir dos conflitos com o então presidente Fernando Henrique Cardoso. O conflito nacional não o impediu de manter uma boa convivência com o seu padrinho político Tasso Jereissati por mais dois ou três anos.
Em 1994, Tasso concorre ao Governo do Estado, recebe o apoio do grupo de Ciro Gomes e vence a eleição. Tasso retribui a boa relação com os irmãos Ferreira Gomes e banca a candidatura de Cid, irmão de Ciro, para presidente da Assembleia Legislativa (1995-1996). Cid ganha projeção e, em 1996, se elege, com apoio de Tasso Jereissati, a Prefeitura de Sobral. O tempo passa e surgem divergências entre membros dos grupos de Tasso e Ciro.
Com a renovação de quadros e a expectativa de poder, Tasso e Ciro vão aos poucos se distanciando. Ciro trilha caminho próprio e, em duas oportunidades, disputa a Presidência da República, embora mantivesse aliança no Ceará com o grupo de Tasso. Em 1998, Tasso concorre à reeleição, ganha um novo mandato e elege, ainda, para o Senado, com apoio dos irmãos Ferreira Gomes, o então deputado estadual Luiz Pontes (PSDB).
Quatro anos mais tarde, Ciro e Tasso mantém o mesmo palanque para eleger o então senador Lúcio Alcântara para governador. As duas vagas ao Senado ficam com Tasso Jereissati (PSDB) e Patrícia Gomes (PPS). Os aliados de Ciro passaram a pressioná-lo para construção de um caminho sem atrelamento ao tassismo. A tática ganha corpo e, em 2006, após oito anos como prefeito de Sobral, Cid Gomes é eleito governador.
Cid, porém, teria recebido apoio de Tasso e de alguns tucanos que estavam rompidos com o então governador Lúcio Alcântara. Lúcio tentara a reeleição, mas sem o apoio direto de Tasso, que se encontrava na metade do primeiro mandato de senador, perdeu a disputa. Cid se reelege governador em 2010 e, aliado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elege senadores José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (PMDB) impondo a única derrota ao tucano Tasso Jereissati que, naquela eleição, tentava renovar o mandato de senador.
Em 2014, Tasso ganha a disputa ao Senado contra Mauro Filho, que recebe o apoio de Cid e Ciro. O tucano ajudou a levar Eunício Oliveira ao segundo turno da corrida ao Palácio da Abolição. Cid e Ciro ganham o segundo com Camilo Santana. Em 2016, a oposição, reunindo PMDB, PSDB e PR, enfrenta o grupo de Cid e Ciro na corrida pela Prefeitura de Fortaleza – de um lado, Roberto Cláudio, candidato à reeleição, contra o Capitão Wagner. Roberto e Wagner chegam ao segundo turno, com o atual prefeito reeleito. A eleição de 2018 poderá ter, mais uma vez, a oposição unida. As discussões sobre a disputa eleitoral do próximo ano ganham mais visibilidade com o combustível jogado pelo ex-governador Ciro Gomes em direção ao senador Tasso Jereissati.