As eleições deste ano terão, pelo menos, 19 réus em processos ligados à Operação Lava Jato e 12 acusados pelo Ministério Público em desdobramentos da operação na condição de candidatos em outubro. Parte deles, inclusive, aparece bem posicionada em pesquisas de intenções de voto.

Além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve a candidatura a presidente barrada pela Justiça Eleitoral, a lista de réus e denunciados inclui seu substituto, o também petista Fernando Haddad, alvo de processo na Justiça Eleitoral de São Paulo, e lideranças do Congresso que tentam renovar seus mandatos, como Edison Lobão (MDB-MA) e Valdir Raupp (MDB-RO).

Em Alagoas, por exemplo, são líderes na mais recente pesquisa do Ibope para o Senado Renan Calheiros, apontado pela Procuradoria-Geral como integrante do “quadrilhão” do MDB, e Benedito de Lira, também denunciado como membro de organização criminosa, mas do PP.

Para o governo do estado, o eleitor tem como principais opções o ex-presidente e senador Fernando Collor (PTC), réu acusado de corrupção, lavagem e organização criminosa, e Renan Filho (MDB), herdeiro do clã Calheiros, foco de um inquérito no Superior Tribunal de Justiça derivado da delação da Odebrecht.

Também se destacaram em pesquisas recente do Ibope para o Senado o catarinense Raimundo Colombo (PSD), ex-governador que é réu na Justiça Eleitoral, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), candidata em Minas Gerais e duas vezes denunciada na Lava Jato, o paraense Jader Barbalho (MDB), denunciado sob suspeita no caso do “quadrilhão” do MDB, e Ciro Nogueira (PP), denunciado que tenta se reeleger no Piauí.

Entre presidenciáveis, Geraldo Alckmin (PSDB) foi acusado na semana passada em ação de improbidade pelo Ministério Público de São Paulo, e José Maria Eymael (DC) passou a ser investigado em 2017 na esteira da delação da Odebrecht.

O Jornal Folha de São Paulo localizou 63 casos de investigados que são candidatos e outros 15 políticos que tiveram investigações arquivadas e novamente estão concorrendo.

A maior parte dos investigados são congressistas incluídos nas “listas de Janot”, como ficaram conhecidos os inquéritos pedidos pelo então procurador-geral da República em decorrência das delações da Lava Jato.

Repasses via caixa dois estão no centro da maioria dessas investigações, mas há também casos que se tornaram símbolos dos escândalos de corrupção, como o de Lúcio Vieira Lima, deputado federal do MDB da Bahia e irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima.

Ambos são réus em processo sobre os R$ 51 milhões em dinheiro encontrados em um apartamento em Salvador. A favor dos alvos da operação está o novo modelo de financiamento da eleição, que aumentou o poder das cúpulas ao instituir o fundo eleitoral bancado com dinheiro público. A força financeira deve fortalecer as candidaturas à reeleição de nomes mais conhecidos do eleitorado, ainda que sejam alvos de delações.

Para o professor Milton Lahuerta, coordenador do Laboratório de Política e Governo da Unesp (Universidade Estadual Paulista), as circunstâncias tornam as eleições ainda mais indefinidas, com uma tendência a favorecer candidatos de discursos antipolítica.

“Contribui bastante o modo como a judicialização, especialmente a Lava Jato, acabou se relacionando com a política. Uma lógica que, em nome de se fazer justiça para muitos setores da sociedade, passa a ideia de que toda a política é podre. Isso se generalizou.”

Para Lahuerta, o debate da eleição acaba ofuscado pelas questões judiciais e dificulta uma agenda de consenso.

Com informações do Jornal Folha de São Paulo