20 milhões de votos nos dois últimos pleitos, ausência de acusações de corrupção, bom desempenho nas pesquisas eleitorais deste ano, Marina Silva (Rede-AC) tem todos esses pontos a seu favor. Contudo, a ex-senadora não tem conseguido mobilizar apoiadores suficientes para chegar à sua terceira tentativa de chegar à Presidência da República.

A saída dos deputados federais Alessandro Molon e Aliel Machado da Rede, na semana passada, expôs a fragilidade da Rede e o isolamento vivido pela ex-senadora a sete meses da eleição. Além dos parlamentares, nomes que ocuparam postos estratégicos nas campanhas de 2010 e 2014, como Neca Setúbal, Guilherme Leal, Sérgio Xavier e João Paulo Capobianco, também se distanciaram nos últimos anos.

Eduardo Giannetti, principal conselheiro de Marina na área econômica em outras disputas, não demonstra o mesmo entusiasmo de pleitos passados. “Estou finalizando um projeto de livro e, por isso, tenho conversado pouco com a Marina. Pretendo apoiá-la em 2018, mas com um grau de envolvimento menor do que em 2014”, disse.

Gianetti não é o único. Conforme apurou o Jornal O Globo, aliados que estiveram ao lado da líder da Rede, desde que ela se tornou uma figura de destaque do cenário político nacional, evitam criticar abertamente a pré-candidata. Alguns a admiram e manifestam intenção de votar nela novamente, mas todos reconhecem: uma série de erros está fazendo Marina deixar escapar a chance de se posicionar como favorita no pleito de outubro.

Fora de debates na TV

Agora com apenas três parlamentares (dois deputados e um senador) na Rede, Marina pode ficar de fora dos debates televisivos. Segundo a legislação, apenas os candidatos de partidos com pelo menos cinco congressistas têm participação obrigatória. A Rede tem até o dia 7 de abril, final do prazo da janela partidária para troca de legendas, para atrair pelo menos dois parlamentares.

A situação precária da Rede para a campanha, dizem pessoas próximas, é resultado de desorganização e ausência de pragmatismo por parte da pré-candidata. A “falta de tato político” de Marina é citada pelos que deixaram a Rede. Segundo eles, Marina vacila entre os deveres de uma presidenciável, como a necessidade de marcar posição sobre temas sensíveis, e a de liderança de um movimento social. Também é criticada por ter um tempo próprio, às vezes, muito demorado, para tomar decisões e por cercar-se de auxiliares que sempre concordam com suas posições.

A relação de Marina com os parlamentares começou a dar errado no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Enquanto os dois deputados que agora deixaram a sigla e o senador Randolfe Rodrigues, do Amapá, foram vozes ativas contra a saída da petista, Marina demorou quatro meses até contrariá-los e afirmar que era favorável ao processo. A declaração foi feita uma semana antes da votação na Câmara, após, pelo menos, seis meses de debates em Brasília.

Lideranças estaduais que também se afastaram do partido afirmam que a visão “nem de esquerda e nem de direita” defendida por Marina não foi incorporada pela militância que participou da construção do partido, sobretudo aqueles historicamente ligados à esquerda. “Marina sempre se manteve distante de decisões mais contundentes em relação a muitos pontos polêmicos”, lamenta um deles, citando por exemplo o processo do ex-presidente Lula na Lava-Jato.

Um parlamentar, que já negociou o seu ingresso na Rede, afirma que o partido sofre de falta de clareza sobre o seu projeto para o País e, por isso, não consegue angariar novos integrantes. O grupo mais próximo de Marina e a própria pré-candidata costumam rechaçar alianças com forças políticas mais tradicionais, associando esse tipo de acordo à “velha política”. A postura viria de conselhos do núcleo da Rede.

No círculo restrito de pessoas ouvidas por Marina estão membros da Executiva Nacional do partido como Pedro Ivo, Bazileu Margarido, Carlos Painel, Zé Gustavo e a ex-senadora Heloísa Helena. “Se você fala mal da Marina perto deles, eles ficam bravos, porque a idolatram, tratam-na como um mantra. Se você está próximo dela e quer ajudá-la, eles ficam mais bravos ainda porque não querem perder esse espaço, disse um dos ex-aliados”.

Isolamento

O processo de isolamento de Marina não é novo. Desde 2011, entusiastas de seu projeto político foram se afastando. Logo após a eleição de 2010, quando a então candidata pelo PV chegou aos 19,6 milhões de votos, os seus principais aliados naquele momento — como o então vice, o empresário Guilherme Leal, acionista da Natura — a incentivaram a se valer do apoio obtido nas urnas para iniciar a construção de um novo movimento político.

Apesar dos inúmeros apelos, Marina descartou a ideia e se recolheu. Somente em 2013 anunciou a intenção de criar a Rede, que só foi homologada pela Justiça Eleitoral em 2015, obrigando-a a ingressar no PSB para disputar as eleições de 2014. Inicialmente, Marina era vice na chapa de Eduardo Campos, mas acabou sendo candidata a presidente depois da morte dele, num acidente aéreo.

Ao longo do tempo, seus apoiadores se engajaram em outros projetos políticos. Leal, por exemplo, lançou, ainda em 2011, a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), uma organização voltada para formação de novos quadros políticos. O ex-secretário do Meio Ambiente de Pernambuco Sérgio Xavier, um dos responsáveis pela aliança com o PSB em 2014, se dedica ao movimento Fazemos, que pretende criar novos canais para envolver a sociedade na política. O cientista político Leandro Machado, auxiliar nas campanhas de 2010 e 2014, hoje é um dos coordenadores do movimento Agora, de renovação da política.

Nem todos se afastaram por diferenças com a ex-senadora. A educadora Neca Setúbal se incomodou com as críticas dos adversários que recebeu durante a campanha de 2014, quando era coordenadora do programa de governo, por ser da família acionista do Banco Itaú. Procurada para saber se pretende voltar a colaborar com Marina, Neca informou que não pretende tratar do assunto no momento.

Rede rebate críticas

Porta-voz da Rede ao lado de Marina, Zé Gustavo rebate as críticas contra a ex-senadora. Sobre a sua suposta falta de habilidade política, ele diz que “não é uma questão de habilidade política. Habilidade política é falar com a sociedade, que dialoga com as pessoas e não com as pesquisas de marketing. Infelizmente no Brasil a gente apequenou o que significa fazer política”, lembrou.

Zé Gustavo acrescenta que a Rede está se empenhando para buscar novos parlamentares. “Estamos conversando com senadores e deputados e com outros partidos também”, explica. O porta-voz da Rede acrescenta ter expectativa de que os antigos aliados se juntem ao projeto presidencial deste ano. “É natural que ocorra esse afastamento durante quatro anos para quem não tem um mandato”, finaliza.

Com informações do Jornal O Globo