Candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad participou de seu primeiro debate de campanha nessa quinta-feira, 20, na TV Aparecida. O ex-prefeito de São Paulo se dedicou a exaltar os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ouviu críticas de Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB).

Em um debate no qual não se podia escolher qual adversário enfrentar – os autores de perguntas e respostas foram escolhidos por sorteio –, os candidatos aproveitaram as oportunidades disponíveis para antagonizar com rivais. Foi o que fez Alckmin quando teve que responder uma pergunta de Haddad sobre o apoio do PSDB ao governo de Michel Temer (MDB).

O tucano defendeu a reforma trabalhista e, com a ausência de Jair Bolsonaro (PSL) – ainda internado devido ao ataque a faca sofrido no dia 6 de setembro –, aproveitou para tentar se colocar como o principal candidato anti-PT. Culpou o partido pelo desemprego no país, afirmou que o PT quebrou o país e que a legenda escolheu Temer para ser vice de Dilma.

Haddad respondeu dizendo que “quem se uniu ao Temer para trair a Dilma foi o PSDB”, em sua única menção à ex-presidente no debate, e ouviu de volta que o PT “lança candidatura na porta de penitenciária” em vez de fazer autocrítica.

Já Ciro Gomes, que disputa com Haddad o eleitorado órfão de Lula, perguntou ao adversário porque o povo deveria acreditar na reforma tributária proposta pelo PT, que não a fez enquanto esteve no poder. “Lula fez uma das maiores reformas tributárias às avessas no país, que foi colocar o pobre no orçamento”, respondeu Haddad, citando uma série de programas sociais petistas.

Coube a Alvaro Dias fazer o ataque mais duro a Haddad, a quem chamou de ‘porta-voz da tragédia” e “arauto da intolerância”. O petista disse que o candidato do Podemos desconhecia a “realidade brasileira”. Meirelles também criticou o PT, dizendo que a atual crise econômica “foi criada pelo Governo da Dilma” e “construída pela aplicação do programa do PT”. Haddad respondeu que os governos Lula e Dilma criaram milhões de empregos e criticou a “ingratidão” de Meirelles, que foi presidente do Banco Central sob Lula.

Bolsonaro, vice e economista são criticados

Mesmo com a liderança no Datafolha de quinta-feira, 20, com 28%, Bolsonaro não foi alvo preferencial dos adversários, sendo citado nominalmente apenas por Marina Silva (Rede) e Meirelles. Guilherme Boulos (PSOL) fez alusão indireta a Bolsonaro ao citar o movimento de mulheres “Ele não”, que se opõe ao candidato do PSL.

Marina e Meirelles fizeram críticas a Bolsonaro por meio de Paulo Guedes, guru econômico do candidato do PSL, que segundo notícia da Jornal Folha de São Paulo quer criar um imposto nos moldes da antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Bolsonaro desmentiu publicamente a ideia, e a divergência foi explorada por Marina, que se disse contra a volta do tributo. “Já no começo da história eu vejo que está tendo um incêndio no Posto Ipiranga. Alguma coisa está acontecendo lá, porque eles não estão se entendendo”, disse Marina, em alusão ao apelido usado por Bolsonaro para falar de Guedes. “Você tem que saber o que quer fazer, para onde quer ir.”

Meirelles foi ainda mais incisivo. “A CPMF é um exemplo do que não pode ser feito, é um exemplo do resultado de alguém que não tem preparo para administrar o país, e principalmente que não tem preparo em economia”, afirmou. Na tréplica, Marina chamou de “declaração desastrosa” a frase do vice na chapa de Bolsonaro, Hamilton Mourão, de que casas com “mãe e avó” são “fábrica de desajustados”.

“Essa visão de política e de país tem que ser combatida. Nós temos que acabar com a ideia de ficar entre a cruz e a espada, entre a violência e a corrupção, entre o cinismo e a atitude que enfrenta os problemas de frente.”

Fim das polarizações

Ao longo do debate, Ciro Gomes buscou se apresentar como o candidato capaz de quebrar o ciclo de polarização política, dizendo que PT e PSDB adotaram as mesmas práticas de “cooptação” de políticos e ocupação de cargos públicos. Para o candidato, o povo deve eleger “ideias, e não caudilhos”.

No fim do debate, Alckmin também quis se colocar como alternativa a uma polarização entre o PT e “os que têm medo da volta do PT e estão indo para uma aventura, um modelo autoritário e intolerante”. “Agora é a hora de fazer uma grande conciliação nacional”, afirmou o tucano.

Os candidatos usaram referências religiosas em diferentes momentos do debate, promovido por uma emissora católica. Logo no início, Boulos afirmou que a luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do qual ele é coordenador, se inspira na mensagem dos “três Ts” do papa Francisco: teto, terra e trabalho.

Já Marina Silva, ao falar sobre corrupção, disse que a prática causou indignação a Jesus, que com um chicote expulsou aqueles que profanavam um templo. Alvaro Dias falou sobre o respeito à dignidade humana e disse que o Brasil é um país de “várias crenças, de várias religiosidades”. Fernando Haddad agradeceu aos bispos católicos por se manifestarem contra a reforma trabalhista.

As TVs que organizam debates são obrigadas, por lei, a convidar os candidatos cujos partidos ou coligações têm ao menos cinco parlamentares no Congresso Nacional. Cabo Daciolo (Patriota) não compareceu porque diz estar em período de “jejum e oração” até o dia 26. Além dos sete participantes do debate, de Bolsonaro e de Daciolo, disputam a Presidência mais quatro candidatos: Eymael (DC), João Amoêdo (Novo), João Goulart Filho (PPL) e Vera Lúcia (PSTU).

Com informações do Portal Uol Notícias