Pré-candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes defendeu a dissolução do acordo em que a Boeing comprou 80% da área de aviação comercial da Embraer. Em encontro com empresários e sindicalistas patronais, Ciro afirmou que enviou uma carta aos presidentes das duas empresas orientando-os a não consumar a fusão até que o próximo presidente tome posse, e que não vê uma possibilidade “saudável” de acordo.

“Esse acordo feito no estertor de um governo e na iminência de 84 dias de uma eleição presidencial é clandestino e absolutamente ameaçador da segurança nacional brasileira. Portanto, ele não deveria ser consumado, e, se for, tem que ser desfeito”, declarou Ciro, alegando que o conteúdo da carta será divulgado nesta quarta-feira.

Ainda no evento, Ciro, que é defensor da revogação da reforma trabalhista, aprovada pelo presidente Michel Temer, moderou o tom. O presidenciável justificou a declaração de revogar pura e simplesmente a reforma, a que já classificou como uma “porcaria”, por sua origem de militante. “O que farei é trazer a bola de volta para o meio do campo e rediscutir a reforma trabalhista”, disse, reforçando que nada será revogado sem que uma nova proposta seja aprovada.

A mudança de tom também é vista como uma tentativa de se aproximar dos partidos do chamado “blocão”. Ao moderar o tom, ele atenderia, inclusive, a uma demanda do DEM, partido que ele também luta para ter o apoio.

Em meio às negociações para o fechamento de alianças na disputa presidencial, Ciro disse que todas as sugestões em discussão com partidos de centro-direita do chamado “blocão” são bem-vindas e nenhuma fere princípios, ou seja, são possíveis de serem conciliadas ao seu plano de governo. O presidenciável falou em um evento promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), na capital paulista.

“Não quero ser dono da verdade, não quero ser ditador do Brasil. Quero reunir as melhores ideias para que o país celebre um novo projeto nacional de desenvolvimento”, disse, a jornalistas, após o evento.

Para tentar dar celeridade à conquista de apoio de partidos como DEM, PP, PRB, SD e PR — chamado de blocão —, o assessor econômico de Ciro, Mauro Benevides, foi escalado para dialogar nessa terça-feira com técnicos indicados por algumas das siglas. O objetivo, segundo um dos caciques do blocão, é o de chegar a um consenso sobre as propostas até o fim da semana que vem.

De acordo com Ciro, Benevides enviou um e-mail resumindo a conversa ainda nessa terça-feira, 17. Entre os pontos mais delicados, segundo interlocutores, estão as reformas trabalhista e da Previdência e a intenção de Ciro de estabelecer um limite de gastos para pagamento de juros da dívida pública.

Os caciques do blocão já tiveram duas grandes reuniões em Brasília e em São Paulo desde sábado passado. Questionado sobre quais pontos foram debatidos na ocasião, Ciro limitou-se a dizer que os parlamentares pediram para conversar sobre seu programa de governo, mas que não entraram em detalhes. As negociações continuam nesta semana, com um novo encontro marcado para esta quinta-feira.

Mais distante das negociações parlamentares do PR, ligados ao empresário Josué Gomes, filiado ao partido e sondado por Ciro para ser vice, têm manifestado apoio ao pedetista. O momento é oportuno, já que a relação entre o PR e o PSL de Jair Bolsonaro esfriou depois que o senador Magno Malta desistiu de ser vice do ex-capitão do Exército para concorrer à reeleição do Senado, e também diante da resistência de Valdemar Costa Neto, principal liderança do PR, em ceder às imposições de Bolsonaro em alguns estados, como Rio de Janeiro e São Paulo. Ciro afirma que também espera o apoio da sigla.

Em paralelo à aproximação com os partidos de centro, Ciro também mira o apoio de legendas à esquerda. A prioridade é uma aliança com o PSB, a quem ele “quer muito”, mas ainda há resistências de lideranças em estados-chave como São Paulo e Pernambuco, onde está a cúpula do partido. Nas palavras de Ciro, o PSB tem sido muito correto em relação a ele, sobretudo ao explicitar contradições existentes em alguns estados.

“Salvo o que está acertado na base, tem o PSB de Pernambuco, meus companheiros e amigos, que tem uma preferência de aliança com o PT. E aqui em São Paulo, o meu querido amigo e governador Márcio França tem uma preferência pelo PSDB. Isso está um problema para eles. Para mim, não, compreendo isso completamente”, afirmou.

O PCdoB, por ora, sustenta a pré-candidatura de Manuela D´Ávila, e só estaria disposto a retirá-la se houvesse uma aliança de esquerda. Na manhã de ontem, Ciro e o presidente do PDT, Carlos Lupi, se reuniram em Recife, com a presidente nacional do PC do B, Luciana Santos, o presidente da fundação Mauricio Grabois, Renato Rabelo, e com Renildo Calheiros (irmão do senador Renan Calheiros MDB-AL), integrante do comitê central. Ciro negou a possibilidade de Manuela ser sua vice.

“Em nenhum momento nós deixamos de considerar com muito respeito à candidatura [da Manuela], que tem se desenvolvido de forma brilhante. Apenas quis comunicar os meus passos diretamente a eles, porque espero governar com o PCdoB”.

Questionado sobre a possibilidade de reunir partidos com diferentes inclinações ideológicas na mesma chapa, o pedetista diz que é “assim que o Brasil foi redemocratizado e assim que o Ceará é governado com grande êxito.”

“Todos esses partidos fazem parte da nossa aliança no Ceará, o que dá uma certa naturalidade nesse diálogo” disse. “É absolutamente ilusória a ideia de que qualquer um de nós, possíveis candidatos, vai resolver o problema do Brasil sem um amplo diálogo com forças contraditórias às nossas originais”, acrescentou.

Ainda na palestra, enquanto falava sobre privilégios de juízes e promotores, Ciro criticou em tom ofensivo o promotor que o processou por injúria racial no caso em que atacou o vereador paulistano do DEM, Fernando Holiday.

“Um promotor aqui de São Paulo resolve me processar por injúria racial. E pronto, um filho da puta desse faz isso. Ele que cuide de gastar o restinho das atribuições dele, porque se eu for presidente essa mamata vai acabar”, afirmou Ciro.

Com informações do Jornal O Globo