O empresário Alexandre Margotto confirmou em acordo de delação premiada que Eike Batista pagou propina ao corretor Lúcio Funaro e ao ex-deputado Eduardo Cunha para que o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) investisse, em 2012, R$ 750 milhões na empresa LLX Açú Operações Portuárias S.A. Criada em março de 2007, a empresa fez parte do grupo EBX e, atualmente, é controlada pelo Grupo EIG, que adquiriu aproximadamente 53% do capital social da LLX Logística S.A e mudou o nome para Prumo Logística S.A. Margotto é apontado como braço-direito de Funaro.
No subanexo 11.7 de sua delação, Margotto explicou aos investigadores as “ilicitudes envolvendo o investimento do FGTS na empresa LLX, bem como envolvendo o empresário/executivo Eike Batista”. Em depoimento gravado em vídeo, Margotto disse que Funaro não mantinha relações com Eike e dizia que o empresário não conseguiria “1 real” na Caixa sem sua ajuda. Segundo Margotto, o corretor se “enaltecia” do suposto “poder de veto” que tinha nas liberações de valores do fundo.
Funaro teria avisado Fabio Cleto “para não fazer nada, não assinar nada” com as empresas de Eike. Cleto era o vice-presidente de fundos do governo e loteria da Caixa, indicado por Cunha e Funaro, e também assinou um acordo de delação. “Se ele acha que tem a turma do PT, ele vai ver a dificuldade que vai ter pra pegar esse empréstimo”, teria dito Funaro ao delator.
Na versão do delator, a situação teria mudado após um jantar entre Funaro e Eike realizado em Nova Iorque. A reunião, revelada a Margotto por Funaro, teria sido intermediada por Joesley Batista, da holding J&F, que também teria participado do encontro. O empresário nega.
Ainda segundo Margotto, após Lúcio lhe contar sobre o encontro, Fabio Cleto teria confidenciado que Cunha deu ordens para que o aporte do FGTS na empresa de Eike tivesse seguimento. Assim como Cleto em sua delação, o braço direito de Funaro não soube apontar o valor recebido por Cunha, mas afirmou que o corretor recebeu ao menos 1,5 milhão.
O ex-vice presidente de fundos do governo e Loteria da Caixa, Fabio Cleto, foi o primeiro a revelar os pagamentos indevidos da empresa de Eike para Cunha e Funaro. Em sua delação premiada, Cleto assumiu ter recebido ao menos R$ 240 mil pela operação e apontou Funaro como operador de Cunha no caso – sem declinar os valores recebidos pelo ex-deputado.
Como revelou o Estado, o braço direito de Funaro detalhou em sua delação como o grupo político do PMDB da Câmara, liderado por Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, atuava na liberação de valores para grandes empresas junto a órgãos públicos, em especial a Caixa. O acordo foi tornado público na sexta-feira, 17, pelo juiz Vallisney de Souza, da 10.ª Vara Federal do Distrito Federal.
A J&F, por meio de nota de sua assessoria de imprensa, negou a intermediação e que Joesley Batista tenha participado de qualquer encontro entre Funaro e Eike. Ainda segundo a empresa, suas relações comerciais com Funaro “são lícitas, legais e devidamente documentadas.”
A empresa reitera também que está à disposição do MPF e da Justiça caso haja algo a acrescentar. Sobre Margotto, a J&F afirma que nenhum de seus executivos “tiveram ou têm qualquer relação” com ele. A defesa de Cunha e de Funaro não responderam aos contatos da reportagem. A defesa de Eike Batista não foi encontrada para comentar a afirmação de Margotto.
Com informações O Estado de São Paulo