O presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Edvaldo Santana, estima que o apagão da última quarta-feira, que deixou 13 estados do Norte e Nordeste às escuras, causou prejuízo de R$ 600 milhões para a economia brasileira. As falhas ocorreram no linhão de transmissão da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. O executivo, que foi diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), disse que apesar de ainda não se saber as causas do apagão que afetou cerca de 70 milhões de pessoas no país, certamente não foi apenas a falha em um disjuntor da subestação do Xingu-Estreito, conforme afirmou o Operador Nacional do Sistema (ONS).
Em entrevista ao GLOBO, Santana alerta que o fato de o sistema elétrico brasileiro ser interligado permite que um eventual acidente em um equipamento se propague por todo sistema e não fique restrito ao local onde aconteceu a falha. O executivo diz ainda que as investigações são uma caixa-preta.
— A Abrace vai esperar os resultados das investigações, que é uma verdadeira caixa-preta, sem transparência, da qual o consumidor, que paga a conta, não chega perto. De modo geral, são conduzidas para minimizar os efeitos da culpa, quando encontram culpados. Ainda não temos a conta (dos prejuízos) com precisão, mas devem superar os R$ 600 milhões, considerando o que deixou de ser produzido nas regiões afetadas — calculou Santana.
O presidente da Abrace disse que o apagão foi um evento “que jamais poderia ganhar a abrangência que alcançou”, envolvendo mais de 25% do total da carga que estava sendo gerada naquele momento. Segundo Santana, o país investe muito para evitar que acidentes de grandes proporções se espalhem pelo sistema:
— Para eventos de grandes proporções se investe muito, mas sem efetividade. O sistema de proteção, com o ilhamento de uma área do acidente, parece não ter funcionado novamente. E foi um problema que aconteceu em momento estratégico para o setor elétrico. Não há um só governo que não tenha um apagão para chamar de seu.
Executivo não descarta falhas na construção da linha
O executivo acredita que não foi apenas uma falha no disjuntor (equipamento de proteção que evita danos em outros aparelhos) provocou o desligamento do sistema Norte/Nordeste:
— Tudo indica que a ocorrência dificilmente está relacionada a uma simples falha do disjuntor. Uma outra sequência de falhas será identificada no decorrer da fiscalização. Os dados, se o sistema foi bem projetado, ficam armazenados em algum lugar, não sendo difícil se encontrar a cadeia de erros.
De acordo com o presidente da Abrace, sistemas de redundância (que são acionados em caso de falhas ou acidentes) são controversos e, muitas vezes, ineficazes, conforme temos visto nos últimos apagões, lembra Santana:
— Muitos países, entre eles os Estados Unidos, temem a interligação dos grandes sistemas elétricos. Ao mesmo tempo que a interligação permite uma redundância de equipamentos, e pagamos por isto, é ela que facilita a propagação de uma ocorrência que poderia ser resumida a uma subestação. Além disso, a boa operação da redundância é determinada por treinamento e ótima qualificação do pessoal, o que assegura uma coordenação precisa das ações. No Brasil, há um só operador do sistema, mas, nessas horas, ele precisa coordenar as ações de uma dezena ou mais de transmissoras e usinas, o que dificulta mais ainda o isolamento da área afetada.
Edvaldo Santana não descarta, também, que falhas na construção da linha de transmissão podem ter causado o apagão. A construção do linhão atrasou por causa de problemas como a saída da espanhola Abengoa, que entrou em recuperação judicial no ano passado. A empresa era responsável pela construção de um dos trechos das linhas.
— Como é uma instalação muito nova, não se descarta a possibilidade de um problema construtivo, dada a compreensível pressa para recuperar o atraso da Abengoa.
Com informações O Globo