Um levantamento inédito realizado pela Associação Médica Brasileira (AMB), em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM), revelou que a nova onda de casos de covid-19 atingiu, fortemente, os profissionais da saúde, o que sobrecarregou ainda mais o sistema de saúde no Brasil. A variante ômicron, responsável pela nova leva de casos, atingiu 87,3% dos profissionais da área nos últimos dois meses.
No Ceará, segundo a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), de todos os profissionais atuantes em unidades hospitalares do Estado, o vírus foi responsável por, aproximadamente, 155 dos afastamentos entre dezembro de 2021 e janeiro deste ano.
Reflexo na saúde mental dos profissionais
Segundo o levantamento da APM, o aumento exponencial de casos não afetou apenas a saúde física, como também a mental desses profissionais. Os médicos afirmam que estão apreensivos (51,6%), esgotados (51,1%) e ansiosos (42,7%) com o cenário atual da pandemia. Além disso, observam que os colegas de profissão dos locais em que atuam estão estressados (62,4%), sobrecarregados (64,2%) e com exaustão física ou emocional (56,2%).
Participaram do levantamento, 3.517 profissionais de Medicina de todas as regiões do Brasil que responderam ao questionário online por meio da plataforma SurveyMonkey, entre os dias 21 e 31 de janeiro de 2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A maior parte dos participantes é da região Sudeste, com a faixa etária entre 51 e 70 anos. Eles atuam em hospitais públicos, privados e consultórios de todo o país, sendo que 52,5% estão atuando na linha de frente no combate ao coronavírus.
Na avaliação do médico Cesar Eduardo Fernandes, presidente da AMB, a única forma de amenizar os impactos negativos da pandemia sobre os médicos — e consequentemente da população — é diminuindo os casos:
Avaliação das ações do Governo
Na percepção dos médicos, 7 em cada 10 brasileiros não estão usando máscaras corretamente. Porém, 74% dos profissionais considera que a vacinação tem sido aderira pela população. E eles também opinaram sobre quais pontos o Governo deixa claramente a desejar, a exemplo da realização de testes (21,7%) e no rastreio dos contactantes (8,3%).
Os participantes não avaliaram bem a gestão do Ministério da Saúde sobre como tem levado a crise da Covid-19: 34,4% classificaram a atuação como péssima; 16,6%, ruim; e 21% como regular. Apenas 14,6% dos médicos têm a pasta como referência para determinar o tratamento de pacientes com a doença. A maior parte dos profissionais (65,1%) se baseia nas orientações das sociedades de especialidades e associações médicas.
Os médicos relataram também as dificuldades enfrentadas nesta nova onda de Covid-19 provocada pela Ômicron. A falta de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde foi apontada por 44,8% deles como a maior deficiência na atenção à pandemia do coronavírus. Na pesquisa, feita pela AMB e APM divulgada em fevereiro do ano passado, essa percepção era tida por 32,5% dos entrevistados na ocasião.
Hoje, 96,1% dos médicos que atendem em locais que recebem pacientes com Covid-19 observam tendência de alta no número de casos em algum grau. Quanto aos óbitos, a tendência de alta é apontada por 40,5%.
O aumento exponencial de casos não está gerando mortes na mesma proporção, apesar de o número de óbitos ter aumentado no Brasil no começo de 2022. E isso se deve a dois fatos: grande parte da população brasileira está vacinada, inclusive com a dose de reforço; e a Ômicron se instala primeiro nas vias aéreas do corpo, demorando a afetar os pulmões (na maioria das vezes o sistema imunológico a combate antes que ela consiga “descer”), diminuindo o risco de gravidade da doença.
Fim da pandemia
Os participantes relatam que não estão otimistas quanto ao fim, logo, da pandemia da covid-19: quase 90% deles acredita que novas variantes surgirão, mas a maioria (57,1%) aposta que as próximas cepas causarão muitos casos e poucas mortes. No entanto, 81,4% estão com a percepção de que a ocupação das UTIs está menor do que nos momentos mais críticos de 2021.
Mais da metade dos médicos que responderam à pesquisa considera que as fake news interferem negativamente no enfrentamento à doença: 57,2% deles acreditam que as notícias falsas levam algumas pessoas a minimizar (ou negar) o problema; 55,1% acham que as notícias falsas interferem negativamente, o que dificulta a aceitação, por parte dos pacientes, das decisões dos profissionais da Saúde; 37,7% indicam que as desinformações fazem pacientes/familiares pressionam por tratamentos sem comprovação científica; 13,7% não consideram que as fake news tenham interferência. Nesta pergunta, os médicos poderiam escolher mais de uma resposta.
(*) Com informações O Globo