A vacina é a saída definitiva para a pandemia de Covid-19. Sem ela, após verificar uma redução sustentada dos casos, é possível flexibilizar o isolamento, mas com testagem para monitoramento de surtos localizados, entre outras medidas. Essa é uma das conclusões de seminário realizado pela comissão externa da Câmara que acompanha as ações do combate ao novo coronavírus. A reunião foi realizada nesta quinta-feira (14) no Plenário da Câmara dos Deputados.
Praticamente todos os especialistas criticaram a falta de uma ação centralizada e de uma linguagem única no enfrentamento da crise. A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima, disse que algumas ações devem ser locais, mas é necessária uma orientação nacional: “É fundamental nós pensarmos numa forte coordenação nacional, isso se torna mais importante e mais premente neste momento. Uma coordenação baseada nas evidências científicas”. disse.
O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, também insistiu no ponto: “Ainda há tempo para uma participação do governo federal, agindo de maneira coordenada e científica. Ainda há tempo e necessidade.”
A deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), relatora da comissão, disse que uma linguagem única fortalece a esperança das pessoas: “Uma linguagem única se faz necessária e é fundamental. Manter a esperança da população brasileira de que vamos sair deste momento difícil também se faz necessário.”
Nísia Lima explicou em que condições é possível pensar em flexibilização: “Não é um fenômeno de curta duração. Todo o mundo tem apontado a possibilidade, a partir da sustentabilidade da queda — ou seja um período sem aumento de casos por 15 dias. Mas é necessário o reforço da vigilância no período seguinte. Fala-se inclusive no novo normal. Ou seja, não voltaremos a exatamente à dinâmica social que tínhamos antes”
A diretora da Fiocruz afirmou ainda que é hora de fortalecer o sistema de vigilância sanitária e o próprio Sistema Único de Saúde (SUS), porque outras epidemias podem surgir no futuro.
Para Márcia Castro, pesquisadora da Universidade Harvard (EUA), o Brasil ainda tem a chance de dar uma resposta mais eficiente, utilizando uma estrutura que já possui: os agentes comunitários de saúde. Ela disse que, em Boston, o governo teve que contratar os chamados “detetives Covid” para ir atrás de contatos de casos positivos com o objetivo de orientar o isolamento.
“Apesar de tudo, eu acho que ainda há tempo. E sinceramente é extremamente difícil imaginar como qualquer decisão de relaxar o distanciamento social possa ser implementada no futuro sem a ajuda dos agentes de saúde. Sem a participação desses detetives Covid. Os agentes comunitários podem realizar busca ativa de idosos, de indivíduos com comorbidades associadas à mortalidade por Covid, bem como mapear as áreas mais vulneráveis dadas as características locais, o padrão de desigualdade local”.
Segundo ela, o uso dos agentes têm sido feito de acordo com prioridades locais, e muitas equipes não têm equipamentos de proteção e nem todos são testados para sair a campo.
O diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês, Paulo Chapchap, minimizou o discurso de quem acredita que no médio prazo teremos a imunidade de uma parte da população: “Nós não vamos sair desta pandemia tendo um alto grau de imunidade da população, a chamada imunidade de rebanho. Isso vai demorar muito. Nos países onde isso está mais adiantado, já apontam para 10 a 20% da população neste momento, depois de termos sofrido o pico, o platô e estarmos no decréscimo.”
Paulo também disse que é preciso ter foco em asilos de idosos, que estariam concentrando de 30 a 60% do total de mortes por Covid-19 no mundo, além de presídios e favelas. Para essas comunidades, seria necessário testar precocemente e isolar os positivos em hotéis ou outros tipos de dormitórios pagos pelo governo.
O diretor ainda disse que, com as subnotificações, é preciso prestar mais atenção às curvas de mortes e de internados para decisões de flexibilização. E listou uma série de medidas para a flexibilização que vão desde o fornecimento em massa de equipamentos de proteção até a garantia de distanciamento social no trabalho ou no transporte público.
Já Armínio Fraga, após destacar que a economia pode cair 8% este ano e a dívida pública bater em 100% do PIB, optou por pontuar que, agora, é preciso gastar. E disse que talvez não adiante disponibilizar crédito bancário para micro e pequenas empresas porque isso não vai chegar a quem precisa.
“Negócios, sobretudo pequenos negócios que empregam muita gente, negócios que têm contato direto com seus clientes, praticamente evaporaram. Então esse é um assunto que embora se traduza na prática na transferência de recursos, ele não é um assunto bancário. É um assunto de política pública. No Brasil, podia ser aperfeiçoado se caminhasse nessa direção. Significa uso de mais recursos, mas eu penso que seriam bem utilizados”, afirmou.
A maior parte dos palestrantes apoiou a necessidade de uma campanha publicitária nacional sobre o combate à pandemia, conforme foi defendido pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Citaram a importância de buscar figuras populares como artistas e atletas.