O faturamento do comércio eletrônico foi de R$ 185 bilhões no Brasil, em 2023 — um aumento de 106% em relação ao registrado no ano de 2019, antes da pandemia do coronavírus. E, para se ter uma ideia, a participação nas vendas totais do varejo cresceu de 6,04% para 9,22%. O universo on-line, porém, também atrai criminosos. Alguns dos riscos moram nos anúncios de produtos e serviços.
— A praticidade das compras on-line, à qual os brasileiros estão tão habituados, pode oferecer não apenas conveniência, mas expor a muitos riscos e resultar frequentemente em vítimas de fraudes — alerta Denis Ferreira Lourenço, head de Cybersecurity da empresa de soluções em segurança digital Caf: — Os fraudadores operam de maneira cuidadosa, muitas vezes assemelhando-se a empresas ou usuários legítimos.
Os criminosos agem por meio de e-mails, redes sociais, sites e até lojas em marketplaces legítimos. Nos anúncios criados, os golpistas podem criar um negócio original ou podem imitar setores de uma grande empresa, para pegar carona na sua popularidade.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o envio de mensagens ou e-mails falsos — conhecido como phishing — é um dos principais artifícios usados para roubar dados de usuários. A vítima, ao não perceber a fraude, acaba clicando nesses links e fornecendo seus próprios dados para o fraudador, que poderá usá-los indevidamente. Outra tática é a clonagem de canais oficiais de marcas famosas, explica Osmany Dantas de Arruda, professor do curso de Ciências de Dados e Negócios da ESPM:
— Um golpe comum é a partir da clonagem de um site de um evento ou de um show. Essa duplicação é muito parecida com o site original na parte que interessa ao ofensor. Patrocinando o link, o criminoso consegue ainda que ele seja um dos primeiros resultados a aparecer em sites de busca.
Por isso, seja um link recebido por e-mail ou um encontrado em plataformas de busca, é importante ficar atento a sinais de adulteração.
— Embora falsifiquem o design e as funcionalidades dos sites oficiais de marcas consolidadas, muitas vezes é possível notar erros de digitação em seus links, o que escancara a tentativa de golpe. Além disso, vale a pena sempre navegar pelo site antes de encaminhar uma possível compra, apenas para se certificar de que funciona como esperado — diz Bruno Mattos, coordenador de Projetos do NetLab, laboratório de pesquisa em internet e redes sociais, da UFRJ, dedicado a diagnosticar o fenômeno da desinformação digital: — Constantemente, nos deparamos com sites que mimetizam outros muito visitados, mas com botões que não funcionam, páginas sem conteúdo e mecanismos de busca que não retornam quaisquer resultados.
Eletrônicos e renegociações de dívidas são temas usados
Há certos comportamentos que, quando identificados, não deixam dúvidas: trata-se de golpe. Como uma letra diferente no site de uma grande empresa. Também há sinais que se não configuram imediatamente uma tentativa de fraude, mas devem colocar os consumidor em alerta.
Em campanhas como a Black Friday ou de promoções muito agressivas, por exemplo, é possível encontrar uma quantidade limitada de produtos com desconto. Mas a indução à compra com expressões como “últimas unidades” deve fazer o consumidor redobrar a atenção com o ambiente na hora de comprar.
— Os fraudadores geralmente empregam gatilhos mentais para chamar a atenção e criar um senso de urgência nos consumidores, especialmente em relação aos preços — explica Denis Ferreira Lourenço.
O diretor de Negócios do grupo de soluções digitais EXA, Alan Morais, explica que, entre os produtos mais oferecidos em anúncios para a aplicação de golpes, os líderes são os eletrônicos.
— São objetos de desejo e por atraírem um público mais amplo. Adicionalmente, têm preços maiores, o que aumenta o valor obtido a cada golpe — afirma.
Quando o anúncio é de serviços, temas comuns são os descontos para quitar dívidas.
— Existem muitas falsas ofertas para quitar dívidas com até 90% de desconto. Os golpistas abordam as pessoas se passando por profissionais do programa “Desenrola Brasil”, por exemplo, que foi promovido pelo governo federal — conta Morais.
São ciladas
1 Fique atento a anúncios de grandes empresas ou entidades em perfis com poucos seguidores. Segundo Bruno Mattos, coordenador de projetos do NetLab., da UFRJ, nas redes sociais, alguns anunciantes se passam por grandes empresas, sejam varejistas ou até instituições de Estado. Sempre que encontrar um anúncio aparentemente veiculado por elas, é importante se certificar de que se trata de um canal oficial e não uma mera falsificação. Os sinais de um perfil falso podem ser: a ausência de selo de autenticação, poucos seguidores e quase nenhuma interação orgânica com outras páginas e usuários.
2 Cuidado com plataformas de leilões de carros. Há sites que usam de maneira fraudulenta o nome e a identidade visual do Detran.RJ. Mas o órgão alerta que não tem plataforma para a realização de leilões. Para uma participação com segurança em evento deste tipo, a recomendação é verificar no site do Detran.RJ o edital de leilão, publicado com antecedência mínima de 15 dias, e confirmar se o pregão está sendo processado na plataforma do leiloeiro designado. Pode-se ainda entrar em contato com a Comissão de Leilão do órgão, pelo e-mail [email protected], ou ir presencialmente à sede do Detran.RJ (Avenida Presidente Vargas 817, 6º andar, Centro).
3 Desconfie de supostos sites de governo com domínio “.com” ou “.org”. O Detran.RJ lembra ainda que o domínio, ou seja, o endereço da plataforma, pode indicar um golpe. Se está usando símbolos de um órgão público, seja municipal, estadual ou federal, o endereço costuma terminar com “gov.br”.
4 Suspeite de links que comecem com caracteres, números ou termos estranhos, alerta o Guia de Segurança da Americanas. Por exemplo: “http://183.197.112/blackfriday”. Aliás, uma medida de proteção recomendada é sempre verificar se um site começa com “https” e se aparece o símbolo de um cadeado ao lado da barra de endereço. Ambos indicam ao usuário que uma conexão é segura.
6 Evite negociações com pagamentos fora da plataforma do anúncio. Criminosos solicitam, muitas vezes, pagamentos fora do ambiente do marketplace em que criaram suas lojas falsas, para não ficarem suscetíveis ao bloqueio do repasse após uma denúncia. Empresas como Shopee e Americanas alertam aos clientes que nunca façam pagamentos por outras vias ou repassem dados de pagamento por chat, mensagem, e-mail ou telefone., digite diretamente o endereço do site na barra do navegador. Nunca clique em links enviados por e-mails, SMS ou apps de mensagens.
Para prestar atenção
7 Observe anúncios com referências a jornais impressos e on-line. Segundo Bruno Mattos, um primeiro aspecto dos anúncios fraudulentos identificados pelo NetLab é a referência constante a veículos de imprensa, fabricando manchetes falsas sobre programas assistenciais do governo, medidas de renegociação de dívidas da população e remédios milagrosos para perda de peso, artrose e até câncer. Para não cair em armadilhas, deve-se verificar se o tema foi realmente noticiado pela fonte que é referenciada.
8 Fique atento a anúncios com recortes de telejornais. Mattos explica que os golpistas também adulteram trechos de telejornais, substituindo as falas de um apresentador ou um repórter por mensagens geradas por inteligência artificial. Por isso, é fundamental se atentar a alguns detalhes, como se aquilo que é dito realmente casa com os movimentos da boca de quem fala. Se algumas palavras são pronunciadas de maneira estranha, isso pode indicar que o software empregado não foi capaz de gerá-las com precisão.
9 Cuidado com a indução da compra por impulso. Anúncios que mencionam baixo estoque ou promoções que estão prestes a terminar são táticas para apressar a decisão do consumidor. Segundo Isadora Lewandowski, especialista em Marketing de Performance na Mobly, muitos golpistas usam isso para evitar que a pessoa tenha tempo de pesquisar a reputação da loja ou do produto.
10 Desconfie de perfis recentes nas redes sociais. Muitos dos perfis fraudulentos são criados pouco antes de os anúncios irem ao ar. Por isso, contas com poucas postagens ou interações orgânicas são suspeitas. Isadora Lewandowski alerta que, no Instagram, é possível verificar a data de entrada do usuário na plataforma. Basta clicar nos três pontinhos no canto superior direito e, depois, em “Sobre essa conta”.
11Fique alerta sobe poucas opções de pagamento. Segundo Denis Ferreira Lourenço, em anúncios fraudulentos, as pessoas são direcionadas para pagamento via Pix e boleto, mais suscetíveis a fraudes. A recomendação é observar se os dados registrados correspondem ao da empresa vendedora. Evite pagar para pessoas físicas.
12 Cuidado com preços exageradamente abaixo dos praticados pela concorrência ou pela própria marca. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) recomenda, nesses casos, redobrar a atenção com avaliações e comentários registrados no anúncio.
13 Desconsidere e-mails de promoções com links. Ao receber uma mensagem não solicitada ou um link de site no qual não esteja cadastrado, é importante verificar se empresa é idônea. Acesse o site digitando os dados no navegador, não clicando no link, diz a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).
(*)com informação do Jornal Extra