Um estudo liderado pelo cientista brasileiro Alysson Muotri na Universidade da Califórnia, em San Diego, mostrou o impacto do gene GTF2I no comportamento social das pessoas.

“Gosto de descrever esse gene como o gene do preconceito. Sem ele, todos no mundo são seus amigos”, diz o cientista brasileiro.

Na pesquisa, os cientistas conseguiram determinar que o GTF2I seria um dos genes responsáveis pelas relações sociais e um erro genético pode determinar se o indivíduo apresenta traços mais sociáveis ou mais reservados.

“Existe uma região no cromossomo 7 que todos nós humanos temos, que tem 25 genes. Quando você perde, tem uma deleção genética, um erro genético, você acaba tendo a síndrome de Williams, que te torna extremamente social. O outro erro genético é a duplicação dessa região. Pessoas com essa região duplicada acabam tendo uma forma de autismo. Elas são mais introvertidas, com medo do contato social”, explica Muotri.

Muotri explica que indivíduos com síndrome de Williams prendem a atenção de todos, têm um vocabulário mais sofisticado, são interessados na vida das pessoas. Muitas vezes, a síndrome é tratada como “o oposto do autismo”.

Os pesquisadores investigaram então o impacto do gene no desenvolvimento neural.

“As regiões que facilitam as percepções do mundo são moldadas durante o desenvolvimento do cérebro, pelo menos as networks que você vai usar no seu córtex para estabelecer uma relação com a sociedade, incluindo a relação hierárquica. Esse gene é muito importante para moldar as primeiras redes neurais que vão formar todo o contexto social humano “, diz Alysson Muotri.

Para o estudo, os cientistas criaram organoides cerebrais sem o gene GTF2I. A equipe percebeu que, aos dois meses de idade, esses organoides eram menores do que aqueles com GTF2I. Os pesquisadores também notaram que a perda do gene resultou no aumento da morte celular, na diminuição da atividade elétrica e em defeitos nas sinapses, ressaltando a influência do gene durante o desenvolvimento do cérebro fetal.

O cientista brasileiro explica que o trabalho abre portas para potenciais tratamentos para aumentar a sociabilidade da pessoa com autismo ligado ao GTF2I.

“Estamos procurando quais medicamentos podemos utilizar para alterar as vias moleculares que são controladas por esse gene”, completa Muotri.