Apneia obstrutiva do sono (SAOS) é um distúrbio grave em que a respiração pausa e reinicia diversas vezes durante o adormecimento, resultando em sensações persistentes de cansaço e sonolência, além de aumentar o risco de condições cardiovasculares. Um estudo divulgado pelo Colégio Americano de Cardiologia, aponta que a doença é prevalente em pacientes que apresentam maior risco de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) devido à terapia contra o câncer, representando uma ameaça a mais para o surgimento de alterações no órgão.
Os resultados da pesquisa mostram que a incidência de apneia obstrutiva do sono foi de 54% no grupo de pacientes submetidos apenas a cuidados cardiovasculares e de 39% nos participantes cardio-oncológicos. A presença de SAOS nos participantes do segundo grupo foi igual ou superior a outros fatores de risco que aumentam a probabilidade de ocorrência de ICC. Mesmo com um percentual de sangue que o ventrículo bombeia para o vaso sanguíneo durante a contração do músculo cardíaco estabilizado, o estado e a gravidade da apneia do sono foram associados a uma tensão anormal do ventrículo esquerdo.
A prevalência de SAOS no grupo de cardiologia geral foi semelhante às taxas relatadas em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr), que indica que o coração está muito fraco para bombear adequadamente, ou insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp), em que o órgão está muito rígido para se encher adequadamente de sangue, entre 52% com ICFER e 48% com ICFEr.
Segundo os autores, as evidências da pesquisa sugerem que o strain longitudinal global (SLG) — medida de detecção de distúrbios sutis no bombeamento do órgão —, e do ventrículo esquerdo foi mais anormal em pacientes com apneia do sono não tratada ou com pontuação elevada no questionário de avaliação de risco do distúrbio.
“A identificação desses indivíduos pode permitir a intervenção precoce de um factor de risco claramente associado à insuficiência cardíaca, agora reconhecido como afetando a terapia do cancro e a sobrevivência”, observa, em nota, Mini K. Das, diretora do programa de cardio-oncologia do Baptist Health, nos Estados Unidos, e principal autora do trabalho.
Diagnóstico
Para o estudo, a equipe avaliou a prevalência da SAOS entre 296 pacientes de cardiologia geral e 218 de cardio-oncologia. Em ambos os grupos, os pesquisadores coletaram dados obtidos a partir de uma ferramenta de triagem amplamente utilizada para detecção de apneia do sono em pacientes com suspeita do distúrbio, conhecida como STOP-BANG, além do histórico de sono dos participantes.
O questionário STOP-BANG é constituído de oito perguntas, cada uma baseada em uma letra da sigla: Snore, Tiredness, Observed, Blood Pressure, BMI (body mass index), Age, Neck, Gender — ronco, cansaço, observação, pressão arterial, IMC (índice de massa corporal), idade, pescoço e gênero, em português. As questões são atribuídas a respostas de sim ou não, variando de 0 a 8. Uma pontuação menor que três simboliza alta sensibilidade para detecção de SAOS moderada e grave.
Além dos resultados coletados pela ferramenta diagnóstica, a equipe utilizou informações de ecocardiograma — exame que utiliza ondas sonoras para produzir imagens do seu coração — da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) e os resultados do SLG foram medidos nos pacientes do grupo cardio-oncológico.
Mini K. Das relata que o objetivo da pesquisa era identificar com precisão fatores de risco de doenças cardíacas em pacientes oncológicos que pudessem ser identificados por meio de métodos de detecção alternativas, além de exames diagnósticos como o ecocardiograma.
“O ecocardiograma evoluiu para ser uma ferramenta útil para detectar e, portanto, tratar precocemente a cardiomiopatia em pacientes com apneia do sono e na população cardio-oncológica. Por isso, também, queríamos ver se existem marcadores de eco compartilhados que identificam os pacientes que estão em maior risco e como eles iniciam sua jornada para tratar o câncer”, disse, em nota, Das.
Para a médica, os resultados do estudo sugerem que o método utilizado no estudo pode ser integrado no diagnóstico da SAOS em grupos de risco cardíacos. Ela observa que são necessários mais estudos são necessários, no futuro, para investigar o efeito da SAOS em pacientes oncológicos, além de condições cardíacas.
“A apneia do sono deve ser incorporada nos algoritmos de risco atuais e é necessário um estudo maior para avaliar o impacto da apneia do sono nesta população de alto risco. Acreditamos que a avaliação da apneia do sono deve fazer parte da avaliação de risco de rotina para pacientes submetidos à terapêutica contra o câncer”, ressalta, Das.
(*)Com informação do Jornal CB