Ex-dirigentes do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) confirmaram à revista “Veja” a informação de delatores da Odebrecht de que a legenda vendeu seu tempo de rádio e tv à campanha de Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014. Os ex-dirigentes confirmaram à tv Globo as afirmações feitas à revista.

Ainda de acordo com a revista, esses dirigentes afirmaram que o PROS vendeu, por R$ 2 milhões, seu tempo de rádio e tv para candidatos que disputavam eleição para governos estaduais em 2014.

De acordo com eles, a venda foi feita às campanhas de Paulo Skaf, candidato do PMDB em São Paulo; Delcídio do Amaral, candidato do PT em Mato Grosso do Sul; Marconi Perillo, candidato do PSDB em Goiás; e Anthony Garotinho, candidato do PR no Rio de Janeiro.

O PROS negou, em nota, as acusações. De acordo com o partido, todas as doações de campanha que recebeu foram “devidamente prestadas à Justiça eleitoral.” O PROS afirmou ainda que os ex-dirigentes do partido que falaram à revista “não fazem parte do PROS, foram expulsos do partido e desde então tentam intervir na executiva por meio de ações judiciais infrutíferas, inclusive, com uma delas extinta diante da ilegitimidade ativa deles.”

O presidente Michel Temer afirmou que não vai se pronunciar. O PT disse que não vai comentar as denúncias. A reportagem contatou a assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff, mas não havia obtido reposta até a última atualização desta reportagem.

Odebrecht

Em depoimento ao Ministério Público Federal dentro de acordo de delação premiada no âmbito da Lava Jato, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, afirmou que o PT orquestrou um esquema para a compra do tempo de rádio e tv de cinco partidos que faziam parte da coligação de apoio à candidatura de Dilma: PROS, PCdoB, PRB, PDT e PP.

 De acordo com Alexandrino, cada partido receberia R$ 7 milhões, que foram pagos pela Odebrecht. Ainda de acordo com ele, o intermediário da operação foi o então tesoureiro da campanha presidencial de Dilma, Edinho Silva, hoje prefeito de Araraquara (SP).

De acordo com a mais recente edição da revista “Veja”, o ex-deputado federal pelo PROS Salvador Zimbaldi admitiu que recebeu de Alexandrino Alencar um pacote contendo dinheiro, que foi repassado ao partido.

Zimbaldi, de acordo com a revista, disse que ficou sabendo depois que dentro do pacote havia R$ 500 mil e que se tratava de parte do pagamento pela venda do tempo de tv do PROS ao PT. O ex-deputado contou, ainda segundo Veja, que pegou o pacote a pedido do presidente do PROS, Eurípedes Junior. Depois de recebê-lo das mãos de Alexandrino Alencar, contou Zimbaldi, o pacote foi entregue a um funcionário do partido, que o levou a Brasília.  Por meio de nota, o presidente do PROS, Eurípedes Junior, afirmou que “nega com veemência as acusações.”

O ex-tesoureiro e fundador do PROS, Niomar Calazans, disse à revista ter testemunhado a transação. Ele afirmou que, antes do primeiro turno da eleição de 2014, Eurípedes Junior, que estava negociando o tempo de tv com o PT, teria comentado com ele: “vai entrar uma grana boa aí, fechamos acordo com a Dilma.” Segundo Calazans, o dinheiro teria ido para o bolso do presidente do partido e abastecido campanhas políticas na forma de caixa dois.

O presidente de honra do partido, Henrique José Pinto, também acusa o atual presidente Eurípedes Junior. Ele disse que, na época, chegou a comentar com Eurípedes se os R$ 7 milhões não eram dinheiro demais. Segundo Henrique José Pinto, Eurípedes teria respondido: “é pouco, vale R$ 50 milhões.” Henrique José Pinto, de acordo com a revista, também afirmou que o PROS vendeu tempo de rádio e tv às campanhas de Paulo Skaf, candidato do PMDB em São Paulo; Delcídio do Amaral, candidato do PT em Mato Grosso do Sul; Marconi Perillo, candidato do PSDB em Goiás; e Anthony Garotinho, candidato do PR no Rio de Janeiro. O presidente de honra do PROS, afirmou, segundo a Veja, que “o Eurípedes pediu R$ 10 milhões a cada candidato nos estados, mas acabou fechando por R$ 2 milhões”.

PROS

“O PROS preza pela autonomia das executivas estaduais, respeitando as conjunturas políticas locais e as diretrizes partidárias, no que se refere às suas bandeiras de atuação, como por exemplo, a redução de impostos e as políticas públicas voltadas para a saúde, educação, segurança, transporte, energia renovável, agricultura sustentável, turismo e cultura, entre outras áreas. Não houve enriquecimento do presidente do partido. Com relação a Salvador Zimbaldi, que era o presidente do estado de SP na época e não é mais, ele que responda pelas acusações feitas a ele. Não houve qualquer pedido do presidente nacional do partido para que ele recolhesse qualquer valor de doação eleitoral ilegal”, diz o partido na nota.

O PROS afirmou ainda que “todas as suas doações de campanha foram devidamente prestadas a Justiça eleitoral”. Informou ainda, sobre os ex-dirigentes citados pela “Veja”, que “essas pessoas que confirmaram algo não fazem parte do PROS, foram expulsos do partido e desde então tentam intervir na executiva por meio de ações judiciais infrutíferas, inclusive, com uma delas extinta diante da ilegitimidade ativa deles.”

PDT

“Em primeiro lugar é importante esclarecer que o ônus da prova cabe ao acusador. O PDT foi o primeiro partido político que declarou oficialmente apoio à chapa de Dilma Rousseff. Foi no dia 10 de junho de 2014, quando a então candidata Dilma Rousseff foi ao partido em ato público amplamente divulgado pela imprensa. Isso já comprova, diante das datas apresentadas pelo delator, que o anúncio aconteceu meses antes do suposto pagamento. O PDT irá agir no âmbito da Justiça e tomar as medidas necessárias para que o delator comprove o que afirmou. Para nós está clara a tentativa de ganhar algum tipo de benefício contra seus crimes, inventando calúnias contra o PDT.”

Edinho Silva

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que foi tesoureiro da chapa Dilma/Temer em 2014 afirmou em nota que “a grande maioria dos partidos que formavam a coligação de 2014 já integrava o governo. Portanto, era natural que apoiassem sua reeleição.” Edinho Silva disse ainda ser “muito estranho acusar as alianças da campanha Dilma de compra de tempo de televisão já que todas as demais candidaturas também formaram alianças” e que “causa estranheza tal acusação, mais estranho ainda que uma empresa do porte da Odebrecht não tivesse autonomia para optar pela legalidade de suas doações.” Ele afirmou ainda que “sua atuação como coordenador financeiro se deu dentro das normas legais e as doações estão declaradas ao TSE.”

Anthony Garotinho

Garotinho afirmou que “nunca ouviu falar desse assunto.”

Marconi Perillo

“A formação da coligação eleitoral do governador Marconi Perillo se deu segundo critérios de afinidade propositiva, estritamente de acordo com as regras estabelecidas pela legislação eleitoral.”

Paulo Skaf

Skaf disse desconher totalmente o assunto.

Delcídio do Amaral

“O PROS compôs a chapa majoritária ao governo de MS com consequente apoio ao partido e aos seus candidatos conforme demonstrativo do TSE”, disse o ex-senador. Delcídio afirmou ainda que “o mesmo apoio ocorreu com os demais partidos que compuseram a chapa do Delcídio.” A reportagem entrou em contato mas não havia obtido, até a última atualização deste texto, retorno de PCdoB, PP e PRB.

Fonte: G1