Delatores da Odebrecht relataram à Procuradoria-Geral da República que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), recebeu no exterior R$ 50 milhões pagos como propina para que ele defendesse os interesses da empreiteira nas usinas hidrelétricas do Rio Madeira, Jirau e Santo Antônio. O caso está sendo investigado em um dos cinco inquéritos contra o tucano, autorizados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-executivo da empreiteira Henrique Valladares afirmou que o “cronograma de pagamento” feito a “Mineirinho”, codinome atribuído a Aécio, foi em parcelas que variavam de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões. Ele disse que o roteiro para os repasses foi fornecido pelo ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, aliado do tucano e chamado por ele de “operador do PSDB”.
A maioria dos depósitos teria sido feita em uma conta em Cingapura controlada por Alexandre Accioly, empresário amigo de Aécio, que é dono da rede de academias Bodytech. Valladares contou que, no total, as propinas pagas a agentes públicos, referentes às usinas, somaram R$ 120 milhões.
O empresário Marcelo Odebrecht relatou que o valor foi acertado com Aécio em uma reunião no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador de Minas, em maio de 2008, quando o tucano ainda comandava o Estado. Pelo combinado, a Odebrecht teria que pagar R$ 30 milhões e a Andrade Gutierrez, R$ 20 milhões.
O objetivo dos pagamentos seria conseguir apoio de Aécio no relacionamento com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), controlada pelo governo de Minas. A estatal e a Odebrecht integraram o consórcio que venceu a licitação para as obras de Santo Antônio.
Marcelo disse que os “vultosos repasses financeiros” foram feitos ao senador e seus aliados porque Aécio “sempre teve forte influência na área de energia”.
Aécio foi citado por ao menos cinco colaboradores da Odebrecht como o autor de pedidos de propina e caixa 2, entre 2008 e 2014. Somados, os valores mencionados pelos colaboradores alcançam R$ 89,5 milhões. A PGR, embora sustente haver indícios suficientes de que o tucano se envolveu em corrupção, fraude a licitações e desvio de recursos públicos, ainda não tem clareza sobre a cifra total que teria sido paga a ele e a aliados.
Conforme os delatores, os pagamentos supostamente solicitados por Aécio foram feitos também em espécie a intermediários. “A Odebrecht mantinha um histórico de relacionamento com o senador, pautado na oferta de valores em troca de benefícios ilícitos”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas colaborações e nas provas apresentadas pelos depoentes.
Defesa. Em nota, o PSDB sustentou que “são totalmente falsas as acusações feitas pelo delator”. “O senador Aécio Neves não recebeu recursos ilícitos e aguarda a identificação das supostas contas citadas para desmascarar mais essa mentira.”
O partido afirmou que, “apesar de os delatores terem enfatizado que pretensas doações mencionadas ao senador não envolveram nenhum tipo de ato ilícito, contrapartidas, corrupção ou propina, o fato é que elas não existiram”.
“A afirmativa sobre a Cemig feita por Marcelo Odebrecht não faz sentido. A empresa Andrade Gutierrez se tornou sócia da Cemig apenas em agosto de 2010, após comprar a participação do BNDES, do governo federal, na empresa mineira. Nessa época, o senador Aécio Neves não era mais governador de Minas.” Sobre a soma dos valores citados pelos colaboradores, a assessoria de Aécio disse, em nota, que “não foi apresentada nenhuma prova que vincule o senador a nenhum ato ilícito”.
Com informações O Estado de São Paulo