A separação litigiosa entre o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, e sua ex-mulher, além da disputa pela guarda do filho do casal, incluiu também acusações de furto de cofre, ocultação de bens e relatos de “comportamento explosivo” e “desmedida agressividade” por parte do presidenciável.
As informações constam de um processo de cerca de 500 páginas obtido pela revista Veja e revelado na noite dessa quinta-feira, 27. No documento, Ana Cristina Siqueira Valle acusou seu ex-marido de ocultar milhões de reais em patrimônio pessoal na prestação de contas à Justiça Eleitoral em 2006, quando foi candidato a deputado federal — e eleito em seguida.
Segundo a revista, Ana Cristina também acusou o ex-marido de furtar US$ 30 mil e mais R$ 800 mil — sendo R$ 600 mil em joias e mais R$ 200 mil em dinheiro vivo — de um cofre que ela mantinha em agência do Banco do Brasil, em 26 de outubro de 2007. O caso resultou em um boletim de ocorrência registrado na 5ª Delegacia de Polícia Civil, no mesmo dia. A ex-mulher também disse no processo que a renda mensal do deputado na época chegava a R$ 100 mil.
Para tal, Bolsonaro recebia “outros proventos” além do salário de parlamentar — à época, segundo a Veja, de R$ 26,7 mil como parlamentar e outros R$ 8.600 como militar da reserva. Ela não especificou quais seriam as fontes extras. Em janeiro deste ano, o Jornal Folha de São Paulo mostrou o aumento de patrimônio registrado por Bolsonaro e seus filhos — e como adquiriu imóveis por preços abaixo do valor de mercado.
As acusações da ex-mulher descritas no processo obtido pela Veja incluem o caso revelado pelo Jornal Folha de São Paulo sobre a disputa da guarda do filho do casal, Jair Renan. Ana Cristina afirmou, segundo documentos obtidos no Itamaraty, que ela sofria ameaças de morte de Bolsonaro. Em 2009, teria fugido para a Noruega por medo do deputado. A narrativa de Ana Cristina foi confirmada à Folha por brasileiros que conviveram com a ex-mulher de Bolsonaro naquele país.
Conforme também revelou o Jornal Folha de São Paulo, Bolsonaro acionou o Itamaraty devido à disputa de guarda entre o casal, que acontecia em paralelo ao desenrolar do caso do cofre. Segundo a revista Veja, enquanto a ex-mulher o acusava de furto do cofre, o deputado dizia que Ana Cristina tinha sequestrado o filho Jair Renan. Atualmente, Ana Cristina usa o sobrenome Bolsonaro e é candidata a deputada federal pelo Podemos. Hoje ela nega as acusações — diz que foram excessos na separação — e defende o ex-marido.
Ana Cristina também reagiu de forma negativa à reportagem do Jornal Folha de São Paulo que revelou as ameaças de morte relatadas por ela ao Itamaraty. Em vídeo divulgado nas redes sociais, a ex-mulher do deputado chamou o jornal de “sujo” e se colocou à disposição de Bolsonaro para ajudá-lo a se tornar presidente.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, a ex-mulher do deputado chamou o jornal de “sujo” e se colocou à disposição de Bolsonaro para ajudá-lo a se tornar o próximo presidente do Brasil. A separação de Bolsonaro e da ex-mulher foi oficializada em 2008, depois de dez anos em que o casal ficou junto.
Em relação à acusação de furto do cofre, Ana Cristina foi chamada a depor duas vezes pela polícia, mas não compareceu — em 2017, o caso foi encerrado sem esclarecimento. Questionada pela revista Veja, Ana Cristina se esquivou e não explicou sobre como resolveu o litígio com Bolsonaro e passou a apoiá-lo publicamente.
“Quando você está magoado, fala coisas que não deveria”, limitou-se a dizer. Sobre as joias, a ex-mulher de Bolsonaro disse que eram coisas que havia juntado após ganhá-las de Bolsonaro. Questionada sobre por que não atendeu às convocações para depor na polícia, Ana Cristina respondeu: “Não lembro. Fiquei quieta”. Por quê? “Não me sentia à vontade. Iria dar um escândalo para ele e para mim. Deixei para lá”, disse à revista Veja. “Nós dois tínhamos um acordo de abrir mão de qualquer apuração porque não seria bom.” Procurado, Bolsonaro não quis dar entrevista.
Com informações do Jornal Folha de São Paulo