Pintor do cotidiano, da cultura brasileira e do samba, da sensualidade, das festas populares e dos operários, o artista Di Cavalcanti (1897-1976) ganha uma retrospectiva de sua obra na Pinacoteca de São Paulo, na capital paulista, a partir deste sábado (2).
Chamada de No subúrbio da modernidade – Di Cavalcanti 120 anos, a retrospectiva é a maior exposição já realizada desde a morte do artista, reunindo mais de 200 obras, entre desenhos, pinturas e ilustrações. A mostra poderá ser vista até 22 de janeiro e marca os 120 anos do nascimento do artista.
As obras estarão expostas em sete salas do primeiro andar da Pinacoteca e tem curadoria de José Augusto Ribeiro. O objetivo, segundo ele, é investigar como o artista desenvolveu a ideia de “arte moderna e brasileira”.
Em entrevista à Agência Brasil, o curador disse que a exposição inclui obras de 1910 a 1970, tanto emblemáticas quanto desconhecidas e também de seu início como ilustrador. Ele lembrou que a mostra privilegia as obras entre 1920 e 1950, período mais regular do trabalho do artista, que percorre diferentes vertentes: do cubismo ao surrealismo, passando pelo expressionismo e o muralismo mexicano, entre outros movimentos. “Di Cavalcanti é interessado na representação das pessoas e dos lugares em desenvolvimento e nos extratos mais baixos. Isso o singulariza no modernismo brasileiro. Ele põe os olhos na cidade e nos subúrbios e tem grande interesse pelos morros cariocas, pela zona portuária, pelos bordéis e pelas rodas de samba”, afirmou o curador.
Segundo Ribeiro, a exposição foi fruto de um grande levantamento de localização das obras e reúne trabalhos do artista que integram mais de 60 coleções públicas e particulares do Brasil e de países como o Uruguai e a Argentina.
A mostra também pretende destacar aspectos menos conhecidos da trajetória do artista, como as ilustrações e charges que fez para revistas, livros e capas de discos, além de seu engajamento político: o artista foi filiado ao Partido Comunista. “Di sempre manteve estreita essa ligação entre política e pintura. Ele foi simpatizante de grupos de esquerda, mas sua obra não é panfletária. Essa ligação política é forte, mas atravessa de maneira diferente sua obra”, observou o curador.