O projeto “Fábrica Escola”, parceria entre Judiciário do Ceará e outras instituições, promoveu o terceiro casamento coletivo para apenados, egressos e pessoas interessadas em formalizar a união. A cerimônia teve como juíza de paz Verônica Pires de Alencar Santos, do Cartório Jereissati, e ocorreu na noite dessa sexta-feira (26/05), no Centro de Fortaleza.
Trocaram alianças durante a solenidade três casais. Wagner Pereira, 36 anos, do regime aberto, casou-se com Luci Rufino, 40. Os dois, que já têm filhos de outros relacionamentos e nunca haviam formalizado a união, se conheceram há um ano e dois meses, na “Fábrica Escola”.
Ele, que vende bolsas, já tinha habilidade com costura e se profissionalizou no projeto, onde passou nove meses. “Eu não tinha condições financeiras, e o projeto me deu essa oportunidade. Tanto eu, como minha esposa vamos realizar um sonho, que também é das nossas famílias. Então, hoje é o dia. Estou feliz. A minha família está vendo que eu quero algo na vida, quero mudanças, viver uma vida realmente. Espero que esse passo seja para o resto da vida”, disse Wagner.
Emocionada, Luci descreveu a situação como momento de “felicidade imensa. Hoje eu estou tão feliz que não tenho nem palavras. Já estou aqui há mais de dois anos. Foi uma casa que me acolheu. Sou grata a todos. Foi aqui que conheci meu grande amor. Por isso, fico mais feliz ainda. Agora é seguir em frente e lutar juntos, vencer.”
Outro reeducando, Francisco de Assis Araújo da Costa, uniu-se à Ana Cristina dos Santos, que não é egressa nem apenada. Estão há dez anos juntos. Ele ficou preso por quatro anos e quatro meses, mas agora está no regime semiaberto. A esposa é quem dá o suporte para a ressocialização dele.
A filha de Ana Cristina, Kerem Yara, afirmou que está muito feliz pelo momento vivido pela mãe. “Ela sabe o quanto eu torço pelos dois. Quero que eles sejam muito felizes”.
Ana Cristina definiu o casamento como “maravilhoso. É tudo o que queria. Minha mãe tinha esse sonho. Ela já faleceu, mas estou realizando a vontade dela. Quero ao lado dele, ser feliz, com amor, respeito, valor. Levei cinco filhos e um neto para morar com ele. Somos avós gloriosos.”
“Isso representa a união com ela e com os filhos. É uma guerreira na minha vida. Ela lutou para me ver fora da cadeia e conseguiu”, ressaltou Francisco de Assis.
Já Josué Oliveira dos Santos e Lidiane do Vale Viana, que estão juntos há quase 14 anos, não cumprem pena, nem são egressos. Eles, que têm três filhos, souberam do casamento coletivo por meio de terceiros e resolveram aproveitar a oportunidade.
O gestor do “Fábrica Escola”, Vicente Pereira, destacou que a iniciativa já é reconhecida pela comunidade. “Para que um projeto dessa natureza dê certo e tenha o sucesso que este tem, é preciso que acolhamos a família. Estamos fazendo o terceiro casamento comunitário. Isso nos orgulha e fortalece os laços entre apenado, família e comunidade. Com isso, conseguimos índices sensacionais de não reincidência. Eles passam e retornam para visitar e agradecer. A comunidade empresarial já solicita reeducandos e nos dá a motivação para a continuidade desse trabalho.”
O projeto é uma parceria entre Judiciário, por meio das Varas de Execução Penal, Ministério Público, Defensoria Pública, Universidade Estadual do Ceará (Uece), Associação Cearense de Magistrados (ACM), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Fundação Deusmar Queirós, Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Ceará (OAB/CE), Serviço Social do Comércio (Sesc) e outras instituições públicas e privadas.
Com TJCE