A Federação Única dos Petroleiros (FUP) do Brasil chama a atenção da sociedade para um possível desmonte da Petrobrás. O alerta é feito pelo coordenador da comissão econômica criada pela entidade para acompanhar a gestão da estatal e tem como base o plano de redução da dívida da empresa apresentada pela direção da Petrobrás na semana passada. A companhia disse ter  prejuízo de R$ 14,8 bilhões em 2016 e dívida de R$ 314 bilhões, 20% menor que em 2015, para justificar as medidas que preveem ainda desinvestimento e venda de ativos – como empresas subsidiárias e até campos do pré sal.

A avaliação da FUP e dos economistas é que as decisões administrativas da atual gestão da Petrobras podem comprometer o seu futuro. “Não dá para entender porque a Petrobras está vendendo algo que outras companhias do mundo querem comprar. Tanto que a Shell (EUA) e a Total (França) estão vendendo em outros países para comprar no Brasil”, afirma José Maria. A comissão econômica da entidade é composta pelo coordenador da FUP, José Maria Rangel, e os economistas Cloviomar Cararine (técnico do Dieese), Rodrigo Leão e Eduardo Costa Pinto (professor de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

A movimentação contrária ao plano da Petrobrás encabeçada pela entidade, propõe a realização de uma audiência pública no Congresso Nacional onde os representantes sindicais dos empregados da estatal possam debater essas medidas com os diretores e conselheiros da companhia. “A diretoria da Petrobras vai ter explicar porque quer vender ativos a preço de banana. Essa é uma política entreguista”, critica José Maria.

FUP ESCLARECE

Para entender porque a Petrobras decidiu diminuir os investimentos e vender subsidiárias e outros ativos, é preciso antes compreender algumas questões técnicas. A atual gestão da Petrobras usou um cálculo contábil conhecido como “impairments” para estabelecer metas que serão adotadas. A companhia avalia periodicamente o valor dos ativos (tudo o que é de propriedade da empresa) que geram lucros antes de contabilizá-los no balanço.

Cada vez que se verificar que um ativo esteja avaliado por um rendimento menor no futuro, ou seja, toda vez que houver uma projeção de geração de caixa inferior ao montante pelo qual o ativo comprado ou construído, a companhia terá que fazer baixa (venda). Isso significa dizer que se a projeção de lucro da Petrobras Distribuidora for menor que aquela calculada pela empresa para recuperar o valor investido ela então terá que ser vendida.

“No entanto, essas projeções futuras da Petrobras são mais rigorosas que aquelas apresentadas por outras companhias internacionais. O mercado do petróleo passa por dificuldades momentâneas, que a Petrobras trata como se fosse uma crise estrutural”, afirma o professor da UFRJ, Eduardo Pinto.

Segundo o coordenador da FUP, a crise que afeta o mercado do petróleo, com baixo valor do barril, provocou prejuízos nas mais importantes empresas do setor. Em 2016 o barril de petróleo foi vendido a um valor 17% inferior ao ano de 2015. Porém, companhias internacionais como a Exxon (EUA) e a Chevron (EUA), realizaram “impairments” menor que os utilizados pela Petrobras. Entre 2014 e 2016, o desinvestimento dessas duas multinacionais foi de US$ 2 bilhões cada uma. Enquanto a Petrobras reduziu US$ 39,48 bilhões. Todas as gigantes do petróleo tiveram números menos conservadores. A Shell US$ 17 bi, a BP (Reino Unido) US$ 12 bi e a Total foi de US$ 8,6 bi.

Além disso, o balanço apresentado essa semana pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, apontou cortes de 32% nos investimentos da empresa e novos ajustes contábeis que reduziram os preços de seus ativos em R$ 21 bilhões, os chamados “impairments”.

“Esse não é o momento de vender. Os preços estão baixos e a crise é temporária. Além disso, o governo Temer quer vender subsidiárias que sempre geraram lucro para a Petrobras, como é o caso da BR Distribuidora. Outro absurdo é a venda de campos do pré sal, nossa riqueza que o mundo inteiro está de olho. E quer fazer isso porque sempre foi do interesse desse governo atrair capital estrangeiro”, ressalta o coordenador da FUP, José Maria Rangel.

NÚMEROS POSITIVOS DA PETROBRAS

Hoje o pré-sal representa mais de 50% da produção de petróleo da Petrobras, de acordo com dados da empresa. Para a comissão econômica da FUP, os investimentos realizados entre 2007 e 2013 foram fundamentais para alcançar esse resultado. Além disso, o custo de produção é inferior a outras reservas. No pré-sal esse valor é de 8 dólares por barril. No passado, esse valor já foi de 35 dólares.

Além disso, a Petrobras teve produção recorde de 2,94 milhões de barris diários de petróleo no final de dezembro e registrou um aumento de 4% na geração de seu caixa operacional. A produção dos campos do pré-sal aumentou consideravelmente a participação do óleo nacional na carga processada pelas refinarias (92% em 2016), reduzindo as importações e melhorando a qualidade e o rendimento da gasolina e dos demais derivados. “Tudo isso só foi possível em função dos investimentos feitos entre 2003 e 2013, o que coloca em xeque a política da atual gestão de reduzir drasticamente os investimentos e vender ativos”, destacou o técnico do Dieese, Cloviomar Cararine.

 

Fonte: Agência Brasil de Fato