Nos próximos 20 anos, a obesidade deve avançar entre todas as faixas etárias de crianças e adolescentes no Brasil e, de forma mais significativa, chegar a 24%, ou seja, 1 a cada 4, daquelas de 5 a 9 anos. É o que prevê um novo estudo apresentado no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO, da sigla em inglês) de 2024, que foi realizado em São Paulo, por pesquisadores da Fiocruz e do Instituto Desiderata.
Se nada for feito, a estimativa é que, até 2044, o percentual também alcance 15% das crianças de 10 a 14 anos e 12% dos adolescentes de 15 a 19. Segundo os responsáveis pelo trabalho, a obesidade infantojuvenil é um dos principais problemas de saúde pública hoje e eleva o risco de uma gama de doenças, como diabetes tipo 2, asma, hipertensão, distúrbios metabólicos, entre muitas outras.
Para chegar nos percentuais, os pesquisadores utilizaram as tendências nacionais de crescimento da doença entre os jovens abordadas por outros estudos brasileiros. Os resultados apontam que, se elas forem mantidas, e nenhuma medida eficaz seja implementada, a obesidade avançará para todas as faixas etárias e em ambos os sexos.
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Anvisa divulga plataforma para paciente saber qual remédio similar pode ser utilizado no lugar do medicamento de marca. Ainda assim, a prevalência é maior entre os meninos. De acordo com as projeções, hoje 22,1% daqueles entre 5 e 9 anos já vivem com a obesidade, o que deve crescer para 28,6% daqui a 20 anos. Entre as meninas da mesma idade, deve aumentar de 13,6% para 18,5%.
Já entre aqueles de 10 a 14 anos, o crescimento será de 7,9% para 17,6%, enquanto nas garotas da mesma faixa etária a prevalência da obesidade passará de 7,9% para 11,6%. Entre os adolescentes de 15 a 19 anos, o número passará de 8,6% para 12,4% entre os homens, e de 7,6% para 11,0% entre as mulheres.
No trabalho, os autores escrevem que as projeções “apoiam a necessidade urgente de políticas públicas para prevenir e tratar o sobrepeso e a obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS)”. Além disso, eles destacam que, “para resolver efetivamente essa questão, é essencial implementar políticas fiscais e regulatórias que promovam ambientes alimentares mais saudáveis, especialmente para crianças e adolescentes”.
Adultos brasileiros também serão mais obesos
A obesidade infantojuvenil carrega um grau a mais de preocupação, já que são indivíduos ainda em formação, nos quais os impactos da doença podem ser mais significativos. Porém, o alerta da comunidade científica quanto ao futuro não é restrito aos mais jovens.
Também no ICO 2024, um outro estudo, conduzido pelo mesmo pesquisador da Fiocruz, Eduardo Nilson, projetou que, até 2044, 48%, ou seja, metade dos adultos brasileiros, viverá com obesidade. Na faixa etária, o quadro é definido por um índice de massa corporal (IMC) igual ou acima de 30 Kg/m2. O indicador pode ser calculado a partir do peso em quilos dividido pela altura ao quadrado.
Além disso, a pesquisa estima que outros 27% dos adultos terão um quadro de sobrepeso daqui a 20 anos, quando o IMC está entre 25 Kg/m2 e 29,9 Kg/m2. A faixa já eleva o risco para diversas doenças. Com isso, ao todo, 71% dos brasileiros (130 milhões), quase 3 em cada 4, terão obesidade (83 milhões) ou sobrepeso (47 milhões).
Hoje, esse percentual já é da maioria da população adulta, alarmantes 56%: 34% com obesidade e 22% com sobrepeso. Os pesquisadores salientam que isso é resultado de um avanço nas últimas décadas. Citam que a prevalência de obesidade, por exemplo, quase dobrou de 2006 para 2019, quando chegou a 20,3% da população adulta.
Até 2044, o estudo prevê ainda que o excesso de peso em alta levará a 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas, e a 1,2 milhão de mortes, ligadas a ele, como aquelas provocadas por diabetes e doenças cardiovasculares.
“Com base nas tendências atuais, a carga epidemiológica e econômica do sobrepeso e da obesidade no Brasil aumentará significativamente, portanto políticas robustas precisam ser implementadas no país, incluindo o tratamento dos casos existentes e a prevenção do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias”, escrevem os autores.
Os pesquisadores argumentam que “há muitas coisas que podemos e devemos fazer”. “Em primeiro lugar, dentro do sistema de saúde, é fundamental tratar os casos existentes de obesidade e evitar que os casos de sobrepeso transitem para a obesidade”, dizem.
“Pensando na prevenção do sobrepeso e da obesidade é importante trabalhar em todas as faixas etárias, desde a primeira infância até a idade adulta, melhorando os ambientes alimentares por meio de políticas regulatórias e fiscais que facilitem escolhas alimentares saudáveis, como consumir uma diversidade de alimentos frescos e minimamente processados e, ao mesmo tempo, evitar escolhas não saudáveis, como alimentos ultraprocessados”, continuam.