Com menos de dois anos de mandato, o presidente Jair Bolsonaro mudou o discurso e está convencido de que, ao atender a recomendações aliados para ampliar os programas de distribuição de renda, estará, ao mesmo tempo, construindo o caminho da reeleição em 2022. Claro, a travessia tem percalços, mas a montagem da base de apoio parlamentar ajuda o Governo a superar crises.
A decisão do presidente Bolsonaro de agir mais, ouvir mais e falar menos, talvez já retrate as primeiras intervenções dos novos aliados. Bolsonaro saiu do Cariri com a certeza de que, ao acompanhar a chegada das águas do Rio São Francisco no Ceará, poderá dedicar mais tempo a agenda política com visitas aos Estados, ampliando bases políticas e pavimentando a caminhada à reeleição. E, nessa trajetória, tem ações que começam a ser desenhadas e podem gerar arrepios aos adversários.
Uma dessas ações é a ampliação de programas de distribuição de renda: o Governo Federal aprofunda os estudos para mudar a nomenclatura do Bolsa Família para chamá-lo de Renda Brasil e, com a cara nova, aumentar, de forma expressiva, o número de beneficiados. Aliados de Bolsonaro no Ceará falam nos bastidores que a nova versão, denominada Renda Brasil, pode chegar, em um ano, ao dobro do número de beneficiários. Hoje, são 950.000 beneficiados com o Bolsa Família. Já imaginou mais 500.000 nesse bloco?
A projeção de aumentar o número de inscritos no sucessor do Bolsa Família, ou seja, no Renda Brasil, que incluiria, também, beneficiários de outros programas sociais, pode ser interpretada como ilusão ou um sonho distante da realidade, principalmente, após o rombo a ser herdado nas contas públicas com a pandemia do coronavírus.
Setores da oposição podem descrer dessa projeção, mas os novos aliados do Planalto apostam e acreditam que, para se reeleger, é preciso que o presidente, além da melhoria na performance política, leve fartura à mesa de quem tem muito pouco na cozinha. O caminho nessa direção começa a ser aberto com a prorrogação por mais três meses (julho, agosto e setembro) do auxílio emergencial.
Os números do auxílio emergencial falam bem alto e, se, no mês de outubro, o Governo Federal mantiver, para desempregados, trabalhadores informais e beneficiários do Bolsa Família, a ajuda de R$ 300,00 – valor da última parcela, pelos cálculos do Ministério da Economia, estará dando uma boa injeção nas atividades econômicas, fazendo a alegria de milhões de pessoas e proporcionando um Natal mais feliz para quem sofre com a pandemia do coronavírus.
O Governo Federal calcula que, com o auxílio emergencial, que fica encerrado em junho, a União está bancando uma conta de R$ 150 bilhões para ajudar 64 milhões de brasileiros. Claro, parte desses brasileiros poderá estar de volta ao mercado de trabalho em um período de seis a 10 meses, mas, mesmo assim, antes de conquistar a carteira assinada, um contingente gigantesco de pessoas continuará precisando da ajuda do poder público. E, nesse caso, o governo (federal) não pode, nem deve se furtar de estender a mão.
Com o braço social, o Governo Federal atrai simpatias, melhora a avaliação política e converte, mesmo que existam desgastes políticos, a generosidade econômica em força eleitoral. Esse filme não é novo e a receita, se repetida, será sucesso.