Quase dois terços dos 1.431 casos notificados de febre amarela no País estão sem solução. Desde janeiro, quando o alerta para o aumento inesperado da doença foi dado, equipes de vigilância conseguiram concluir a análise de 504 casos – 379 foram confirmados e 125, descartados. Outros 927 registros suspeitos continuam em investigação.
“Os resultados são essenciais. É com base nos dados que podemos saber a dimensão da epidemia”, afirma o epidemiologista da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, André Freitas. “Sem números precisos sobre evolução de casos, não há como avaliar a eficácia das medidas adotadas até o momento”, diz o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Cláudio Maierovitch.
Embora a vacinação esteja sendo feita, novos casos suspeitos continuam a ser registrados. “É um sinal de que algo não vai bem. Se a vacinação da população suscetível tivesse sido feita no tempo correto, logo depois dos primeiros registros de mortes de macacos e de casos suspeitos em humanos, o número de novas infecções já deveria estar caindo”, afirma Freitas. A estimativa é de que a pessoa fique protegida contra infecção por febre amarela 15 dias depois de receber a vacina. “Já temos mais de dois meses de epidemia e casos novos continuam a aparecer”, observa o epidemiologista.
Uma das possíveis razões para a lentidão na investigação de casos suspeitos de febre amarela é o atraso na realização do teste laboratorial. Maierovitch afirma que, em média, resultados do exame que identifica a presença de anticorpos para a doença ficam prontos em 15 dias. O problema acontece quando o teste é feito de forma tardia, dias após o aparecimento dos sintomas. Nessas condições, há o risco de o resultado ser inconclusivo. Isso obriga a repetição do teste e faz com que outros fatores, como histórico do paciente, onde ele vive, se está ou não vacinado contra a doença, passem a ser considerados.
Essa demora se soma a problemas identificados nos laboratórios. A Funed, referência para a doença em Minas – epicentro da epidemia –, recebeu apenas em fevereiro insumos para o teste PCR (que identifica fragmentos do vírus), apesar de o Estado há anos ser considerado área de risco para febre amarela. Em nota, o Ministério da Saúde informou estar se esforçando para reduzir os prazos para investigação e atribui a demora na confirmação à complexidade da análise. Atualmente, oito laboratórios de referência estão encarregados de fazer a avaliação de casos em humanos.
Cobertura vacinal. Além do atraso no diagnóstico, Freitas sustenta ter havido falhas na vacinação. Ele avalia ser necessária, por exemplo, a extensão da aplicação das vacinas no sul da Bahia, onde já há suspeita de casos de mortes de macacos por febre amarela. De acordo com o Ministério da Saúde, no entanto, a medida deve ser adotada somente quando as suspeitas de casos são confirmadas.
Áreas consideradas de maior risco para febre amarela continuam exibindo níveis de cobertura vacinal abaixo do que seria considerado seguro. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em Minas, por exemplo, 74% da população que reside em área considerada de maior risco está protegida. Houve avanço em relação a janeiro, quando a cobertura atingia 53,43%. Mesmo assim, não há ainda como se dizer que há uma situação de segurança.
Em São Paulo, em regiões onde a vacina é recomendada, a cobertura atinge 72,48%. “Em algumas cidades, esses indicadores já estão melhores, como a região de Rio Preto, Botucatu e Franca. Mas o esforço para atingir os 80% ainda continua”, afirma o coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo, o infectologista Marcos Boulos. Na Bahia, as cidades consideradas de risco apresentam 72% da população vacinada. No Espírito Santo, o porcentual é de 58%.
Com informações O Estado de São Paulo