Os ventos começam a soprar em direção à economia da Região Norte do Ceará, especialmente, na área onde está localizado o Município de Santa Quitéria, sede da maior mina de urânio do País. Os olhares de todos estão voltados justamente para a mina de Itataia que, nesse final de semana, ganha destaque nacional com uma reportagem do Jornal Folha de São Paulo dando ênfase ao processo de licenciamento do empreendimento.


A nova rodada de análises, que prevê a realização de audiências públicas, já começou. As audiências públicas foram liberadas pelo Ibama (Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). De acordo com a reportagem, os debates devem ocorrer nos próximos três meses e prometem ser intensos.

GUERRA APRESSA DEBATE SOBRE ITATAIA

O projeto prevê um investimento de R$ 2,3 bilhões e a geração de 11 mil empregos para a exploração de uma abundante reserva de urânio associada ao fosfato, matéria-prima para indústrias de fertilizantes e rações.


A invasão da Ucrânia pela Rússia, que é o maior fornecedor desses insumos, despertou a retomada dos debates sobre a necessidade do País criar seus próprios caminhos para auto-suficiência na produção de fertilizantes.


Esse caminho, como tem defendido o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (FAEC), Amílcar Silveira, passa pela mina de Itataia, em Santa Quitéria.


Amílcar mobilizou um grupo de empresários para reunião, no mês de março, em Fortaleza, com a então Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para falar da urgência e importância da retomada do debate sobre a exploração de urânio e fosfato em Santa Quitéria. O encontro com o Ministra teve desdobramentos com outras reuniões em Brasília.


VOZES CONTRÁRIAS
As licenças ambientais estão entre os maiores entraves para a liberação do empreendimento que enfrenta, também, resistência de grupos que lutam contra obras e projetos que possam representar riscos à saúde da população e ao meio ambiente. A reportagem do Jornal Folha de São Paulo registra, nesse caso da mina de Itataia, que movimentos sociais, indígenas e pesquisadores se opõem ao projeto.
O grupo tem realizado lives e debates sobre o tema, promove passeatas e produziu estudos e pareceres que apontam riscos de contaminação por radiação. Os representantes dos movimentos batem à porta de gabinetes em Brasília alertando para os riscos à saúde da população e ao meio ambiente e pedem aos deputados federais e se senadores para se posicionem contra o plano. A contaminação de ar e da água com radiação é uma das principais preocupações.


COBRANÇA POR MAIS TRANSPARÊNCIA
Enquanto o Governo Federal quer retomar os debates e acelerar as obras de mina de Itataia, a pesquisadora e médica Raquel Rigotto, especialista em saúde coletiva da UFC (Universidade Federal do Ceará), alertou, em declarações à reportagem do jornal paulista, que há necessidade de maior transparência com informações para as comunidades entenderem melhor e conhecerem a realidade sobre a exploração de urânio e fosfato.


Segundo Raquel Rigotto, que acompanha o projeto, “a maior parte das informações é considerada estratégica e permanece em sigilo, o que nos autoriza a pensar no pior”. Ela afirma, ainda, ao reforçar essas preocupações, ‘’que há uma longa lista de tipos diferentes de cânceres que podem ser causados pela exposição à radiação, além de alterações psicológicas, dependendo das concentrações e do tempo de exposição a materiais radioativos’’.


GOVERNO FEDERAL QUER ITATAIA
A reportagem destaca, ainda, que as manifestações críticas à exploração de urânio e fosfato em Santa Quitéria vão de encontro à política de mineração do Governo Federal. A área é considerada estratégica e prioritária para o Governo Bolsonaro que, em 2019, lançou, conforme a reportagem, um ambicioso plano que prevê a construção de seis usinas nucleares até 2050, num investimento de R$ 30 bilhões.
Com a agenda de projetos sendo tirada do papel, o governo conseguiu reativar, em 2020, a mina de Caetité, no Interior do Estado da Bahia, que estava parada há cinco anos, e incluiu a jazida de Santa Quitéria como estratégica nesse plano. A estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil) é a responsável pelo processamento do urânio em Santa Quitéria.


Ao entrar em funcionamento, a mina de Santa Quitéria, de acordo com o diretor de Recursos Minerais da INB, Rogério Mendes Carvalho, em declaração citada pela reportagem do Jornal Folha de São Paulo, o projeto de Itataia vai colocar o Brasil em outro patamar na produção de urânio, com uma projeção de 2.300 toneladas de concentrado por ano, três vezes mais que a demanda nacional.