O Ceará recebeu a visita do presidenciável do PT, Fernando Haddad, entre a noite da última sexta, 19, e sábado. O Estado foi o único do Nordeste em que Haddad não venceu no primeiro turno – Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado na disputa presidencial deste ano, ficou na primeira posição no Ceará, seguido de Haddad e Jair Bolsonaro (PSL). Para atrair eleitores de Ciro no Estado, contudo, Haddad passou a se ancorar em outro nome: o governador reeleito Camilo Santana (PT).

Vale lembrar que, no Ceará, Ciro conquistou mais de 40% dos votos válidos na primeira etapa da eleição presidencial, seguido por Haddad, com 33%, e Bolsonaro, 21%. Encerrado o primeiro turno, Haddad esperava um apoio formal do pedetista, mas ele não veio de forma enfática. Ciro disse que não apoiaria Bolsonaro, ao mencionar a expressão “ele não”, mas, em nenhum momento, disse “Haddad sim”.

Uma das razões para o apoio de Ciro não ter sido efetivo foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mesmo preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula conseguiu articular para deixar a candidatura do pedetista isolada, afastando o PSB de uma aliança para a corrida presidencial. Dessa forma, Lula conseguiu dar fôlego à sua candidatura que, no final, acabou sendo a de Haddad, em razão da Lei da Ficha Limpa. Sem apoiadores fortes, a candidatura de Ciro perdeu força.

Ciro é uma das principais lideranças políticas do Ceará, ao lado de seu irmão, o ex-governador e senador reeleito Cid Gomes (PDT). O partido dos irmãos decidiu dar “apoio crítico” à candidatura do PT. Na última segunda, porém, Cid levou a expressão ao pé da letra. Em um ato para demonstrar apoio à candidatura petista, o irmão de Ciro disse que o PT precisava fazer uma autocrítica, caso contrário perderia a eleição. A fala repercutiu mal entre petistas, principalmente os do Ceará, que já apontaram o desejo de rever a aliança com os irmãos Gomes após o segundo turno. Mesmo assim, Cid continuou dando apoio a Haddad, dizendo que ele seria o “menos pior” para o País na disputa com Bolsonaro.

Sem encontro

Entre a noite de sexta-feira, 19, e sábado, o petista esteve por cerca de 20 horas em cidades do estado: da capital a Juazeiro do Norte e Crato, a cerca de 500 quilômetros de Fortaleza. Em nenhum momento, Haddad e Cid se encontraram ou participaram de atos políticos juntos no Ceará.

No sábado, 20, enquanto Haddad cumpria agenda pelo Ceará, o senador eleito participou de um adesivaço pró-Haddad em sua base política, a cidade de Sobral, a cerca de 230 quilômetros da capital cearense. Segundo membros ligados a equipes petistas ouvidos pelo Portal Uol Notícias, o senador temia reações dos militantes do partido caso aparecesse em público. “Ele sabe que, se for a ato, pode ser hostilizado, depois do que falou”, disse uma fonte.

Para a campanha de Haddad, seria importante ter o apoio efetivo dos irmãos Gomes. Sem eles, os votos no Ceará podem se pulverizar entre o caminho natural dos eleitores de Ciro, que seria Haddad, a outras opções, como invalidar o voto e, inclusive, apoiar Bolsonaro. Desde o início do segundo turno, grupos de apoio ao candidato do PSL têm crescido, por exemplo, em Juazeiro e em Crato, como verificou a reportagem no sábado.

Haddad chegou a presenciar uma carreata de apoiadores de Bolsonaro em Crato quando deixava a cidade após seu ato no sábado. Durante seu giro pelo Ceará, Haddad foi questionado sobre não ter acontecido um encontro com Cid após o episódio. Foi quando ele apontou que seu cabo eleitoral no estado é Camilo Santana, que conquistou mais de 79% dos votos válidos, sendo reeleito em primeiro turno. No total, foram 3,4 milhões de votos conquistados por Camilo. Já Cid, na disputa para o Senado, conseguiu 3,2 milhões. Na corrida pela Presidência, Ciro quase bateu os 2 milhões de votos no Ceará, enquanto Haddad chegou a 1,6 milhão.

O pedetista não menospreza os eleitores do pedetista, mas ressalta a conquista de seu colega de partido. “A maior parte do eleitorado do Ciro veio para a nossa candidatura, fizemos aqui a reeleição do Camilo Santana com quase 80% dos votos. Se eu tiver os votos do Camilo, eu estou feliz. Não é, Camilo?”, questionou Haddad ao governador, que o acompanhava em agenda em Juazeiro, sendo aplaudido por militantes que acompanhavam seu pronunciamento à imprensa.

Camilo foi responsável por organizar o ato em que Cid apresentou seu “apoio crítico”. Ele também atuou ativamente na organização das agendas de Haddad pelo Ceará, tendo levado o presidenciável até sua cidade, Crato. Lá, Camilo, em discurso, também criticou Bolsonaro, como Haddad tem feito constantemente no segundo turno, chamando o adversário do colega de partido de “frouxo”.

O governador reforça junto a seu eleitorado que Haddad é o candidato da união do país, “chamando todas as forças, como nós fizemos aqui no Ceará”. E se Ciro, que viajou para a Europa após ficar de fora do segundo turno, não demonstrou apoio a Haddad, Camilo faz questão de falar nos discursos que profere a seus eleitores: “Haddad sim”. Resta acompanhar o dia 28 de outubro para saber se o governador conseguiu transferir seus votos e aumentar em mais de 40 pontos percentuais a performance de Haddad no Ceará.

Com informações do Portal Uol Notícias