Perda de peso, manchas avermelhadas pelo corpo, diarréia, assaduras. Esses eram alguns dos sintomas apresentados pela pequena Noemi, de apenas três meses, filha da dona de casa Azenate Barbosa. A menina nasceu em julho deste ano com 3,6 kg e, mesmo sendo amamentada de forma exclusiva, chegou a perder quase metade do peso em um mês. A mãe não entendia o porquê e, após a consulta com a pediatra, no município de Pacatuba, descobriu que ela tinha Alergia à Proteína do Leite da Vaca (APLV).
“Minha filha ficou muito debilitada. Tenho certeza de que se eu tivesse seguido o conselho das pessoas de dar outra fórmula, ela não estaria mais viva. A médica deu esse diagnóstico porque notou que os sintomas eram bem parecidos com os do filho dela, que também tem essa alergia”, disse.
Noemi foi umas das 180 crianças atendidas neste sábado (21) em novo mutirão do Programa de Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), realizado no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Os atendimentos ocorreram no ambulatório de especialidades do hospital no período da manhã e da tarde. Ao todo, 90 crianças de Fortaleza e 90 do Interior previamente agendadas, foram atendidas pelo serviço.
Agora, Azenate está confiante de que a filha irá ganhar mais peso e ficar saudável. “Ainda bem que já deu certo hoje a consulta e iremos sair daqui com a fórmula fornecida pelo governo do Estado. A lata do leite dela custa mais de 200 reais e só dura três dias. Com certeza, isso irá ajudar bastante, além do que, ela será acompanhada por aqui, com todos os médicos necessários”, destacou.
A secretária da Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, que acompanhou a programação no período da manhã, diz que esse é um momento extremamente importante para a Saúde do Estado: “nossa intenção é zerar, até o final do ano, a fila de espera, tanto de Fortaleza, como do interior do Estado. Esse é o terceiro mutirão que a gente faz esse ano e, caso ainda tenhamos fila, iremos realizar mais um, para que os atendidos pelo programa APLV possam ter uma rotina de atendimento normal”, destaca.
A maior demanda hoje é de crianças de Fortaleza, com 281 crianças a serem atendidas. Os atendimentos especializados contemplaram os pequenos que necessitam iniciar o tratamento pelo Programa APLV. Outros atendimentos aconteceram em maio e beneficiaram mais 180 crianças.
A diretora-geral do Hias, Fábia Linhares, destaca que a alergia à proteína do leite de vaca é uma infecção que acomete crianças, principalmente até dois anos de idade. “Isso causa uma angústia muito grande nas mães, porque tem várias manifestações clínicas, que causam sofrimento nos bebês e crianças. Por conta disso e por ser uma patologia que precisa de um olhar especializado, esse é um acompanhamento multidisciplinar. Assim, a Sesa abraçou essa causa e se comprometeu a zerar a fila, através desses mutirões. O objetivo é fazer com que mais crianças tenham acesso de forma mais rápida à fórmula e ao acompanhamento necessário”, diz.
De acordo com a secretária executiva de Atenção à Saúde e Desenvolvimento Regional, Joana Gurgel, os pacientes com suspeita diagnóstica de APLV provém do sistema da atenção básica de todos os postos de saúde. “Esses pacientes chegam até nós através da Central de Regulação e há uma fila por ordem cronológica e por ordem de gravidade. O paciente que é mais grave tem prioridade nessa fila. Nós fazemos o atendimento mensal ou semanal, a depender do caso. Recebemos, mensalmente, uma média de 180 a 200 novos pacientes. Nessa fila, metade dos atendidos reside em Fortaleza”, explica.
O atendimento feito no Hias inclui cadastro, avaliação pela enfermagem, consulta médica, avaliação nutricional e dispensação da fórmula, culminando na adesão ao programa. No atendimento realizado neste sábado, 15 médicos atenderam pela manhã e 16 à tarde, com uma equipe de gastroenterologistas, alergologistas, nutricionistas e psicólogos. A fórmula é entregue a cada 30 dias e o atendimento médico é agendado conforme a condição clínica do paciente, com consultas marcadas a cada 3 ou 6 meses.
O público da capital que esteve presente no mutirão foi regulado nas Unidades Básicas de Saúde, de acordo com o laudo médico fornecido tanto na rede pública, como por meio do atendimento da rede privada. Para o público do interior, a regulação é realizada através das Secretarias da Saúde de cada município. Mensalmente, são disponibilizadas vagas para as cidades, e o acompanhamento do programa contempla crianças de até três anos de idade.
Hospital Infantil Albert Sabin é referência em atendimento pediátrico
O Hias é referência em atendimento pediátrico de alta complexidade nas regiões Norte e Nordeste do país. Inaugurada em 1961, a unidade conta com 32 especialidades médicas e uma equipe multidisciplinar, oferecendo diversos serviços de saúde infantil como atendimento ambulatorial, internação cirúrgica, cirurgias de urgência e eletivas, terapia intensiva, cuidados paliativos, Hospital Dia, Centro de Infusão e Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), além de ser destaque no tratamento de doenças raras, oncologia e neurocirurgia.
Distribuição da fórmula é realizada em três pontos
As crianças com suspeita de alergia à proteína do leite de vaca são atendidas nos postos de saúde do interior e da capital e, em seguida, inseridas na Central de Regulação estadual ou municipal. Após receber diagnóstico, a fórmula é prescrita pelo médico e a criança é incluída no Programa de Assistência.
O Programa APLV iniciou em 2005, somente com a dispensação da fórmula. Desde então, seguindo a diretriz da Sesa para descentralizar o serviço, vem se expandindo e hoje conta com uma equipe multiprofissional com gastroenterologistas, alergologistas, nutricionistas, psicólogos e enfermeiros, mantendo, também, a entrega da fórmula para atender às necessidades específicas de cada criança. A iniciativa atende cerca de 3.400 crianças em todo o Estado.
Atualmente, a fórmula é distribuída no Centro de Treinamento Professor Antônio de Albuquerque Sousa Filho, da Secretaria da Educação (Rua Adolfo Moreira de Carvalho, s/n, no bairro Edson Queiroz), onde também funciona o acompanhamento dos pacientes. Também são pontos de atendimento do Programa, o HIAS e o Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) da Unifor (R. Maramaldo Campelo – Edson Queiroz).