Uma combinação de fatores extremamente favorável, como a supersafra de grãos, a atividade econômica fraca e o câmbio apreciado, pode fazer com que a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) em 12 meses até junho registre deflação neste ano. Se essa tendência se confirmar, será a primeira deflação acumulada em 12 meses pelo indicador desde janeiro de 2010, quando o recuo foi de 0,66%. Para este mês, Fábio Romão, economista da LCA Consultores, projeta um recuo em 12 meses de 0,55% do IGP-M.
“O IGP-M rumando para uma deflação em 12 meses é algo importante, porque ele indexa vários contratos, como, por exemplo, o aluguel, que entra no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, a medida oficial de inflação)”, observa. Pelo fato de ser um indexador importante, uma deflação no IGP-M acaba contaminando negativamente os preços de vários setores da economia.
Nas contas de Romão, a deflação do IGP-M em 12 meses e também e de -0,43% para junho, segundo sua projeção, devem contribuir para a perda de fôlego da inflação ao consumidor. Para o IPCA deste mês, a expectativa dos analistas consultados pelo último Boletim Focus do Banco Central é uma deflação de 0,12%. O economista espera uma queda de 0,02% para este mês.
Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, calcula que a inflação medida pelo IPCA deste mês fique em -0,09%. Na primeira quadrissemana do mês, o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, que mede a inflação na cidade de São Paulo, já apontou esse resultado: deflação de 0,10%. Recuo da tarifa de energia elétrica, preços geralmente baixos dos hortifrutigranjeiros na metade do ano e também o fato de a inflação ser normalmente baixa na metade do ano são fatores apontados por Heron para essa previsão.
“Caminhamos para uma inflação mais favorável do que pensávamos”, diz Heron. Em junho, a inflação ao consumidor medida pelo IPCA em 12 meses deve ficar em 3,3%, prevê. “Em 12 meses até agosto, o IPCA deve estar próximo de 3%”, confirma Romão. Heron acha que o IPCA deste ano gire em torno de 3%.
BC. Diante desse cenário favorável de preço, Heron diz que o Banco Central foi precipitado ao informar que pretende reduzir o ritmo de queda de juros. “Se a inflação despencar, como o BC fica?” Isso porque, com a inflação em baixa, o juro real será muito alto e acabará inibindo o investimento tão necessário para impulsionar a atividade.
Com informações O Estado de São Paulo