Existe algo mais inovador e criativo do que a natureza? Não, a natureza é um grande sistema de inovação. E quando falamos em sistema, nos referimos a um conjunto de elementos interdependentes que geram algo unificado. Sabemos que as espécies só podem sobreviver se forem capazes de responder a um problema, implantando estratégias adaptativas. Ou seja, é basicamente a teoria da biologia evolutiva de Charles Darwin.
A inovação não está apenas no criar, mas também no se adaptar aos diferentes cenários. E isso a natureza faz de forma perfeita. Os ecossistemas são redes formadas por redes menores, que geram trocas e todas estão interligadas. Quando se altera uma conexão, o efeito cascata gera uma alteração imensa. É aí que percebemos que aquele pequeno elemento, aparentemente irrelevante, pode gerar grande impacto.
Inovação é uma oportunidade de resolver problemas técnicos ou complexos. Isso é basicamente o que a natureza faz todos os dias. Como exemplo, podemos observar o lírio do brejo que é nativo da Ásia, foi introduzido no Brasil como planta ornamental, e rapidamente difundido pelo País inteiro, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Com grande capacidade de resistência, a planta se adapta facilmente às margens de lagos e espelhos d’água. O lírio-do-brejo pode, além de invadir canais e riachos e entupir as tubulações de hidrelétricas, causar outros problemas.
Ele foi introduzido propositalmente, sendo uma espécie que brota facilmente e tem grande capacidade de resistência. Por não conviver com outras espécies, a planta expulsa as plantas nativas de seu habitat, sendo um problema bem grave, especialmente nas regiões de floresta atlântica.
Outro fator que faz com que a natureza seja extremamente inovadora é a resiliência. A capacidade de se recuperar de adversidades e mudanças no ambiente, sem ser alterada de maneira substancial e continuar se desenvolvendo no futuro. Aplicado ao design de serviços ou de novos produtos, se uma solução não for resiliente suficiente ao ponto de passar por pequenas adversidades (fluxos de mercado, por exemplo), a inovação de nada adianta.
Agora que você já entendeu a natureza, como isso se aplica ao cenário da Educação?
Devemos integrar as áreas do conhecimento e assim garantir a aprendizagem. Vejamos: qual bacia hidrográfica se situa sua escola? Qual o relevo em que ela se encontra? Qual a história do bairro e desse território? Você sabe qual a praça mais próxima a escola? Que tal olhar no seu território as possibilidades educativas e de interação com a natureza do bairro? Muito mais do que uma fonte de aprendizado, olhar para o território da escola é um exercício de cidadania na prática!
Em escolas que usam a natureza como sala de aula, há comprovadamente uma melhora no desempenho dos alunos. Além disso, eles tendem a ser mais criativos, concentrados, autônomos e com maior imunidade a doenças (Objetivo 4) dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um apelo universal da Organização das Nações Unidas (ONU) à ação para acabar com a pobreza, proteger o planeta e assegurar que todas as pessoas tenham paz e prosperidade.
A natureza é democrática e inclusiva, dialoga e acolhe pessoas de todas as idades, sem distinção de gênero ou poder aquisitivo (Objetivo 5) da ODS. Diante da realidade da concentração da população em cidades, a Criança e Natureza intercede para que ofereçam mais áreas verdes e natureza (Objetivo 11) da ODS. Sabemos que as crianças são as futuras guardiãs do planeta e, ao criarem vínculo afetivo com os ambientes naturais, serão mais propensas a preservar a natureza quando adultas (Objetivos 6, 14 15, 16 e 17) da ODS.
O que você pode fazer?
A Constituição Federal, em seu artigo 227, determina que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, sua proteção integral e seus interesses. Muito pode ser feito por todos – famílias, educadores, profissionais de saúde, ambientalistas e gestores públicos – para promover uma infância rica em natureza.
Faça! Inove! Crie! Ouse!
* Carlos Dorlass é Diretor Geral do Colégio Marista Arquidiocesano, localizado em São Paulo (SP).