Aliado de primeira linha do Palácio do Planalto, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), em um jantar com deputados e senadores na terça-feira (3), fez uma leitura sobre dificuldades da base de sustentação política ao Governo sobre as dificuldades que Michel Temer deverá enfrentar para barrar a segunda denúncia da Procuradoria Geral da República que começa a tramitar na Casa.

Há focos de insatisfação com o Planalto dentro da própria base aliada – deputados do PSD e PSDB expõem descontentamento. Segundo relatos de quatro participantes do encontro, Maia disse acreditar que Temer terá votos suficientes para derrubar a acusação formal da PGR , mas apontou que o governo cometeu erros no relacionamento com seus aliados e, portanto, encontrará no plenário um ambiente menos favorável do que na primeira denúncia apresentada contra ele.

O encontro foi organizado pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que recebeu para um jantar em sua casa senadores de oposição ao governo, como Renan Calheiros (PMDB-AL), Jorge Viana (PT-AC) e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), além de deputados da base aliada de Temer que são próximos de Maia. Os parlamentares fizeram críticas duras ao governo e chegaram a sugerir a elaboração de uma agenda que poderia ser colocada em prática por Maia caso a Câmara aprove o prosseguimento da denúncia, e Temer seja afastado do cargo.

A senadora Kátia Abreu fez elogios ao presidente da Câmara e propôs a criação de uma nova agenda para o país, que deveria ser adotada por ele se assumir o poder. Maia não reagiu a esta e a outras intervenções que trataram de uma possível queda de Temer, de acordo com os presentes.  O presidente da Câmara reforçou o discurso de que não pretende interferir na votação da denúncia contra Temer por organização criminosa e obstrução da Justiça. Ecoou, entretanto, parte das críticas feitas ao governo tanto pelos parlamentares da base aliada quanto pelos da oposição.

Maia relatou ter feito um alerta a Temer e ao ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), no início de agosto, quando primeira denúncia contra o presidente foi barrada na Câmara, de que aquele momento representava o renascimento do governo e de que era necessário criar uma nova gestão para o país. Ele disse acreditar que o Palácio do Planalto não realizou essa refundação.

Na avaliação dos participantes do encontro, Temer deverá receber, nesta segunda denúncia, mais votos pelo prosseguimento da denúncia do que a seu favor. Em junho, acusado formalmente pela PGR  de corrupção passiva, 263 deputados votaram para barrar a denúncia e outros 227 deram voto contra Temer.

As principais queixas se direcionaram à articulação política do governo, à dificuldade de fazer avançar no Congresso a pauta de reformas e medidas de estímulo econômico, e, principalmente o cumprimento das promessas feitas à base aliada na votação do início de agosto.

Os deputados reclamam que o Planalto não quitou faturas de liberação de verbas para suas bases eleitorais. Esta semana, o governo anunciou o descongelamento de R$ 9,8 bilhões em gastos que haviam sido bloqueados no Orçamento. Esses recursos devem ser usados para agradar à base aliada.