Os números sobre o impacto da violência na saúde pública brasileira, apresentados, nesta quarta-feira (1), pelo Instituto Sou da Paz, mostram que o País gastou, em 2022, R$ 41 milhões do orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações hospitalares de 17 mil e 100 vítimas da criminalidade com arma de fogo. Segundo a entidade, os valores não retratam todos os gastos, ‘’uma vez que não existem informações desagregadas que permitam identificar e estimar os custos de outros tipos de assistência a essas vítimas’’. O estudo revela, ainda, que, no perfil das pessoas internadas, a maioria é formada por homens, negros e jovens.


Se comparado com anos anteriores, o Instituto Sou da Paz aponta que ‘’há uma tendência de queda dos custos sobretudo a partir de 2018 – ano em que os homicídios caíram abruptamente no país e que também marca o início da redução das internações, à exceção de 2021, que tem um sobressalto’’.


A redução nos custos, reflete também, de acordo com a pesquisa, a diminuição de casos de alta gravidade, que custam mais, e a defasagem dos preços de referência da tabela SUS para ressarcimento dos serviços prestados.


AGRESSÕES E PERFIL DAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA


O estudo mostra, ainda, que as agressões intencionais são a principal causa de internações decorrentes de ferimentos por arma de fogo e responderam por 75% dessas internações em 2022. Surgem, em seguida, os acidentes (17%) e as lesões autoprovocadas (1,5%), restando 6,5% de casos em que a causa do ferimento não foi identificada.


Outro dado do estudo: os homens representaram 89,6% das vítimas: ficam mais tempo internados, sua diária custa mais e sua taxa de mortalidade hospitalar é maior, o que possivelmente reflete a gravidade maior das lesões que os vitimam em comparação com as mulheres. Jovens são mais vitimados, mas sua proporção entre os pacientes tem diminuído. Ainda assim, respondem por mais da metade das internações ao longo da série até 2022.


A pesquisa destaca, também a violência armada vitima mais pessoas negras: em 2022, representaram 57% das internações e as vítimas não negras, 16%. ‘’Chama atenção o retrocesso na qualidade da informação desde 2021, quando a proporção de registros sem identificação do perfil racial chegou a 32%, interrompendo a tendência de redução do dado ignorado sobre raça/cor observada ao longo da série’’, observa o estudo.

A população negra, observa a pesquisa do Instituto Sou da Paz, ‘’permanece mais tempo internada, porém sua diária custa menos, o que pode refletir desigualdades em termos de acesso aos recursos de saúde, tais como procedimentos mais complexos cujo preço/custo de referência é mais elevado’’.


ACESSO À SAÚDE


Em outra vertente do estudo, os números apontam que, no Brasil, a taxa de óbitos por arma de fogo é duas vezes maior do que a taxa de internações por ferimento provocado por arma de fogo, mas há diferenças regionais importantes que resultam em cargas desiguais nos sistemas de saúde estaduais.

  • A taxa de internações é quase 70% maior do que a de óbitos por arma de fogo no Distrito Federal, 50% maior no Piauí e 22% maior no Acre.
  • Por outro lado, a taxa de óbitos chega a ser mais de 45 vezes maior do que a de internações por arma de fogo em Pernambuco, seguido por Mato Grosso e Goiânia .
    Segundo o estudo, a discrepância entre óbitos e internações indica a intensidade e gravidade das lesões que levam à morte imediata, sem que as vítimas sequer cheguem a receber cuidados médicos, mas também pode ser resultado da concentração do atendimento em centros hospitalares que contam com serviços especializados disponíveis e recebem pacientes de diversos lugares, ou seja, que sofreram a violência em um lugar, mas foram atendidos em outro.

(*) Com informações da Assessoria de Imprensa do Instituto Sou da Paz

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