Responsável na atual disputa pelo maior crescimento proporcional nas pesquisas, o capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro, 63, oficializa neste domingo (22) no Rio de Janeiro sua candidatura à Presidência da República pelo nanico PSL.

Em menos de três anos, ele passou de 5% das intenções de voto (dezembro de 2015), para os 17% atuais, nos cenários em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece entre os candidatos.

Deputado federal por sete mandatos, Bolsonaro sempre foi um outsider no Legislativo: de mais de 170 projetos de sua autoria, apenas dois viraram lei. Seus quase 30 anos na Câmara foram pautados pela adoção de um discurso agressivo e radical, incluindo ataques a gays e mulheres, defesa da ditadura militar, de um novo golpe de Estado, assassinato de criminosos, entre outros pontos.

Com esse perfil, reuniu em seu entorno eleitorado em grande parte de extrema direita que lhe dá, hoje, a liderança nas pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Lula.

Apesar de largar na frente, Bolsonaro enfrentará o desafio de conseguir, sem partidos aliados e com um minúsculo tempo de propaganda eleitoral na TV, furar a polarização entre PSDB e PT que vem desde 1995.
O presidenciável trocou, em março deste ano, o PSC pelo PSL, legenda que hoje conta, além dele, com apenas outros sete deputados federais, entre eles o seu filho, Eduardo Bolsonaro (SP).

Antes, passou por outras legendas, como PP, PDC, PFL e PTB.

Uma marca da campanha de Bolsonaro é o improviso. A legenda não contratará um marqueteiro e não há até o momento jingle ou slogan definidos.

O presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno, diz que isso se dá devido à pouca estrutura.

“Nosso trabalho é todo feito de forma espontânea, de acordo com o andar da carruagem. Não há um planejamento até porque os recursos são pequenos.”

Além da presidência da legenda, Bebianno, homem de confiança de Bolsonaro, acumulará a tesouraria e as coordenações de campanha e da parte jurídica.

Bolsonaro precisará driblar a fragilíssima estrutura política. Também tenta fazer uma revisão de seu passado, buscando se distanciar de várias das posições que adotou nesses 30 anos como deputado.
Um exemplo: hoje defende o voto direto e a democracia, mas sempre fez apologia da ditadura militar, e nos anos 1990 chegou a defender abertamente uma nova quartelada no país.

“Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, no dia em que partir para uma guerra civil aqui dentro, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil, começando pelo FHC [então presidente da República], não deixar ele pra fora não, matando! Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente”, disse o pré-candidato na ocasião.

Enquanto tenta desfazer sua imagem de misógino, Bolsonaro esbarra em fatos como as duas ações penais às quais responde no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a acusação de incitação ao estupro e injúria contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).

Ele disse no Salão Verde da Câmara dos Deputados que não estupraria a petista porque ela não merecia.
Ele nega ser homofóbico, mas diz com naturalidade que pais e mães preferem ver, ao chegar em casa, seus filhos com o braço quebrado por terem jogado futebol a vê-los brincando de bonecaBolsonaro se vende como um candidato que não hesita falar o que pensa.

Direciona ao PT e a políticos de esquerda as principais críticas, a quem culpa pela desmoralização da política e das famílias.

Em janeiro de 2018, a Folha revelou que ele e seus filhos parlamentares acumularam exclusivamente na política um patrimônio de pelo menos R$ 15 milhões.

Três dos seus cinco filhos estão no Legislativo —Carlos (vereador no Rio), Flávio (deputado estadual no Rio) e Eduardo (deputado federal).

Apesar de se declarar antipolítico, Bolsonaro tentou se aliar ao PR de Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do mensalão e investigado na Lava Jato.

Seus aliados dizem que o presidenciável é vítima de ataques da imprensa e que seu único interesse nas tratativas com o PR era o de ter como candidato a vice na chapa o senador Magno Malta (PR-ES).

Como a parceria naufragou, o deputado partiu para a tentativa de ter como vice o general reformado Augusto Heleno, que comandou as tropas de paz da ONU na missão internacional no Haiti, na década passada.

O partido do general, o PRP, não aprovou a aliança.

Com isso, o candidato tenta uma solução caseira. Estão cotados o presidente licenciado do PSL, Luciano Bivar, e Janaina Paschoal, autora do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Caso não consiga alianças, Bolsonaro terá 7 segundos nos blocos de propaganda eleitoral na TV.
Para contornar a situação, aposta na propaganda de internet, onde conseguiu montar uma sólida e aguerrida rede de apoiadores.

Na economia, Bolsonaro reconhece não ter afinidade com o tema, mas tem se amparado nas ideias do economista Paulo Guedes, fundador do banco Pactual e pós-doutor pela Universidade de Chicago, um dos berços do pensamento liberal.

Guedes já foi anunciado como futuro ministro da Fazenda por Bolsonaro.

Atualmente ele é CEO da Bozano Investimentos, sediada no Rio de Janeiro.
O economista tem como uma de seus principais propostas a diminuição do tamanho do estado e do gasto público.

Em entrevista à Folha recentemente, defendeu a privatização de empresas como Petrobras e os Correios.
O programa de governo do candidato ainda não está pronto e ele pouco tem falado sobre propostas concretas.

A coordenação do documento deve ficar a cargo do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que não deve seguir a orientação de seu partido de apoiar Geraldo Alckmin (PSDB).

Um dos principais motes da campanha do capitão reformado é a questão da segurança pública e o discurso anticorrupção.

Bolsonaro prometeu nomear militares como ministros em vez de “corruptos e terroristas.”

 

Com informações Folha de São Paulo