A nova fase da Operação Lava Jato, batizada Poço Seco, aprofunda as investigações sobre operadores financeiros ligados aos lobistas João Augusto Henriques Torres e Jorge Luz e seu filho Bruno Luz, todos ligados ao suposto esquema de corrupção de políticos do PMDB na Petrobrás. A 41.ª etapa deflagrada nesta sexta-feira, 26, prendeu o ex-gerente da estatal Pedro Augusto Côrtes Xavier Bastos (Internacional) e busca o ex-banqueiro do BVA José Augusto Ferreira dos Santos.
A PF cumpriu mandados de buscas no Rio, São Paulo e Brasília.
O crime que originou as apurações foi o pagamento de propinas de US$ 40 milhões em contrato bilionário da Petrobrás para exploração de campos de petróleo em Benin, na África. O negócio foi fechado pela Diretoria Internacional, que era cota do PMDB no esquema de fatiamento político da estatal entre partidos da base – PT, PMDB e PP -, sob o comando do ex-diretor Jorge Zelada, preso em Curitiba desde 2015.
O negócio é o mesmo que resultou em uma condenação de 15 anos e quatro meses de prisão para o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em decisão do juiz federal Sérgio Moro, no início do ano.
O peemedebista, preso em Curitiba desde outubro de 2016, teria recebido uma fatia de US$ 1,5 milhão desse capítulo da corrupção. Esse crime resultou ainda em outro processo, sobre suposta lavagem de dinheiro da senhora Cunha, a jornalista Claudia Cruz, que foi absolvida por Moro nesta quinta, 25. O Ministério Público Federal vai recorrer da decisão no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em segunda instância.
Siga o dinheiro. Por meio do rastreamento das movimentações financeiras das contas usadas por João Henriques para repassar propinas para Cunha, nesse negócio, a força-tarefa da Lava Jato chegou a elementos que indicam que outro operador financeiro importante pode estar envolvido na lavagem do dinheiro restante pago. Trata-se de Álvaro Gualberto Teixeira de Mello, dono da ATM, que seria próximo dos operadores financeiros do PMDB já presos no escândalo Petrobrás. O investigado foi alvo de condução coercitiva nesta sexta-feira, 26.
Em seu depoimento à Lava Jato, no ano passado, João Henriques citou Mello e disse que uma empresa ligada a ele foi sócia de um negócio do alvo da Poço Seco, relacionada à área de energia.
O ex-BVA, que teve mandado de prisão temporário decretado por Moro, também é ligado a João Henriques e pode levar investigadores a novas provas de pagamentos de propinas para políticos, em especial, do PMDB.
“Um dos segredos de se investigar lavagem de dinheiro é justamente seguir o rumo. Para nós seguirmos o dinheiro temos que analisar o comportamento dos operadores, são agentes profissionais da lavagem de dinheiro”, explicou o procurador Regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima. “A partir desses profissionais, muitas vezes encontramos novos crimes. Um operador revela não só aquele crime antecedente pelo qual nós chegamos a ele, mas também outros crimes.”
Movimentação. A condenação de Cunha por recebimento de propina nesse negócio de concessão dos direitos de exploração de um bloco de poços de petróleo no país africano trata de apenas uma parte do valor da corrupção.
O delegado Igor Romário de Paula, da Polícia Federal, em Curitiba, explicou que ‘um terço’ da propina paga a no negócio flui de contas ligados ao lobista João Henriques, do PMDB, já réu da Lava Jato, e a partir dele para as contas dos novos operadores investigados na 41.ª fase.
“A estratégia de focar em operadores é de sucesso desde o começo da Lava Jato. A gente começou com operadores e segue nisso até hoje. Se revelou como uma das formas mais eficientes de se ampliar as investigações”, explicou o delegado, coordenador da equipe da Lava Jato em Curitiba.
O inquérito que originou a Poço Seco não tem políticos como alvo direto. “Nesse momento não temos nenhum indicativo além de Cunha. A fase ainda é investigatória, não há de se chegar a nenhuma conclusão nesses termo”, afirmou o procurador da Lava Jato.
Durante conferência com a imprensa, o procurador foi indagado se a Poço Seco envolveria pagamentos de propinas a outros políticos do PMDB.
Carlos Lima observou que a análise das contas de operadores financeiros e o rastreamento de quem são os recebedores deles devem levar a Lava Jato a provas sobre novos nomes e outros já sob apuração, tanto em Curitiba, na primeira instância, como nos processos no Supremo Tribunal Federal (STF), nos casos contra alvos com foro privilegiado, como parlamentares e ministros.
O PMDB tem reiterado desde que o nome da agremiação surgiu na Lava Jato que jamais autorizou que qualquer pessoa agisse em nome do partido.
Com informações O Estado de São Paulo