Lideranças de partidos disseram neste domingo que os resultados da pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial ajudam a entender o atual momento, mas ainda esperam mudanças no quadro nos próximos meses. A um ano da eleição de 2018, o levantamento mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mantém na frente, com vantagem significativa sobre os principais adversários. O petista tem pelo menos 35% das intenções de voto nos cenários testados.
Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede) empatam em segundo lugar. O deputado federal oscila entre 16% e 17% e a ex-senadora varia entre 13% e 14% nos cenários com o ex-presidente no páreo. Para a senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), a liderança de Lula mostra que “o povo brasileiro sabe o que quer e opta por quem olha pelos pobres”.
O deputado federal Carlos Zarattini (SP), líder da bancada do partido na Câmara dos Deputados, concorda que o cenário é positivo para o PT, mas espera modificações até a eleição. Uma das variáveis está relacionada ao que ele considera a ausência de um candidato de centro direita.
Para ele, não apareceu um adversário competitivo que possa representar o governo atual, de Michel Temer (PMDB). O surgimento desse nome, segundo Zarattini, deve reduzir a intenção de voto em Bolsonaro.
Condenado pelo juiz Sergio Moro, Lula corre o risco de ter que deixar a disputa, caso a decisão seja mantida pela segunda instância, o que também provocaria uma reorganização de forças. O partido não admite publicamente a hipótese de substituição do ex-presidente como candidato.
Presidente do PSDB no Estado de São Paulo, o deputado estadual Pedro Tobias diz que “gostaria que estivesse mais alto” o índice de intenções de voto em Alckmin, seu aliado.
O governador e o prefeito da capital, João Doria (PSDB), apresentam desempenho equivalente: têm 8% de preferência na disputa com Lula, Bolsonaro e Marina, segundo o levantamento.
“Mas a cada dia é um chumbo em cima do PSDB. Veja o caso do Aécio”, diz Tobias, referindo-se às denúncias contra o senador e ao afastamento dele do cargo.
Para o líder tucano, no entanto, o cenário deve melhorar. “O candidato nosso vai ser o Geraldo, porque o povo vota na estabilidade, na tolerância, não na loucura, no radicalismo, em Bolsonaro. Com toda a movimentação de Doria, ele esperava subir. Não deu.”
Doria tem viajado pelo país tentando aumentar seu grau de conhecimento e apostando que com isso poderá crescer nas pesquisas, mas isso até agora não aconteceu. Em entrevista à Folha neste domingo, o prefeito disse que 2018 está longe. “Sou candidato a continuar sendo prefeito de São Paulo”, afirmou.
O expressivo índice de intenções de voto em Lula, na opinião de Tobias, é algo inexplicável. “Tem que chamar alguém que faz tese de doutorado em psiquiatria para entender.”
COM TEMER
Aliados de Temer no Congresso atribuem a resiliência de Lula nas pesquisas ao eleitorado histórico que o apoia, situação que, afirmam, independe dos desdobramentos das investigações contra o ex-presidente.
“O eleitorado do Lula é muito firme, é uma faixa do eleitor que é dele, que ele ajudou com o Bolsa Família, principalmente no Nordeste. É o cara mais simples, do povão, que não está preocupado com o noticiário”, afirma o deputado Beto Mansur (PRB-SP), um dos principais aliados do presidente na Câmara.
Outro dos integrantes do bloco de defesa do peemedebista, Darcísio Perondi (PMDB-RS) diz que os cerca de 35% de intenção de voto em Lula reúnem “o eleitorado do PT”. Segundo ele, o cenário eleitoral do segundo semestre do ano que vem será muito diferente e refletirá a recuperação econômica que o governo espera para esse período.
Para o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), a pesquisa do Datafolha mostra que Lula tem uma “militância muito consolidada”, mas ao mesmo tempo amarga uma rejeição bem alta (42%), “o que confirma a percepção de que a sociedade procura um novo nome”.
Sobre as consequências de eventual impedimento de Lula se candidatar caso seja condenado em segunda instância, aliados de Temer consideram que parte desse eleitorado irá migrar para uma candidatura de centro. “Uma coisa é certa: não migrará para a extrema direita, para Jair Bolsonaro, mas para o centro, e é aí que o DEM tem procurado se colocar, inclusive conversando com gente de fora da política”, diz Efraim.
Para Perondi, dificilmente o PMDB terá candidato, o que deve levar o governo a apoiar um nome do PSDB ou do PSD. “O que tem hoje é Doria, Alckmin e Meirelles. Hoje. Mas dificilmente aparecerá um novo nome.”
DEMOCRACIA X DITADURA
A queda no apoio da população à democracia mostrada na pesquisa é vista como preocupante pelas lideranças partidárias.
Segundo o Datafolha, o apreço do eleitorado por essa forma de governo diminuiu nos últimos anos: 56% das pessoas concordam com a noção de que a democracia é sempre melhor do que outras formas de governo, ante 66% em dezembro de 2014.
Por outro lado, 21% dos eleitores admitem a ideia de que em certas circunstâncias uma ditadura é melhor do que um regime democrático. O índice três anos atrás era de 15%.
Na avaliação dos dirigentes, a percepção dos entrevistados se deve ao que consideram ataques aos partidos e aos políticos. “Criminalizaram a política, que é um dos sustentáculos da democracia”, diz Gleisi. “Isso é fruto da união de posicionamentos de setores mais reacionários da sociedade com parte da mídia e a Lava Jato.”
Com informações Folha de São Paulo