O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou, neste sábado (7), a sua pré candidatura ao Palácio do Planalto nas eleições de 2022. Entre militantes e deputados, o tom de Lula era de confiança. No ato, foi lançada a chapa com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice-presidente. Lula aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto. “Até dia 2 de outubro, se Deus quiser”, disse o petista ao final de seu pronunciamento, indicando que vai “percorrer o país”.

Em seu discurso, o ex-presidente adotou um tom mais conciliatório e moderado —mais ameno que o de Alckmin—, dizendo que o país precisa de calma. “Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorriso, caminho, amor, paz e criando harmonia.”

Lula fez elogios a Alckmin, falando que o prato lula com chuchu será o “da moda”. Chuchu é um apelido dado ao ex-governador, antigo adversário de Lula. “Somos de partidos diferentes, fomos adversários. Estou feliz por tê-lo na condição de aliado”, disse.

Para o petista, “o grave momento que o país atravessa, um dos mais graves da nossa história, nos obriga a superar eventuais divergências para construirmos juntos uma via alternativa à incompetência e ao autoritarismo que nos governam”. “É preciso unir os divergentes para poder enfrentar os antagônicos.”

Lula citou a sintonia entre seu discurso e o de Alckmin, que “estão pensando muito parecido”, e falou que “lula com chuchu” vai ser um “prato extraordinário”. Ele não citou o nome do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas fez críticas à atual gestão.

Legado e soberania
Ao começar sua fala, o ex-presidente disse que, “em vez de promessas”, apresentaria “o imenso legado de nossos governos”, citando programas como Minha Casa, Minha Vida, Luz Para Todos, Bolsa Família, entre outros. Lula também fez uma aposta na “defesa da soberania” em diversas ocasiões ao longo do discurso.
“É mais do que urgente restaurar a soberania. Mas isso não se resume à importantíssima missão de resguardar nossas fronteiras. É também defender nossas riquezas minerais, nossas florestas, nossos rios, nossos mares, nossa biodiversidade”, disse. Na opinião do ex-presidente, “nossa soberania e democracia são constantemente atacadas pela política irresponsável e criminosa do atual governo”.

Também ao falar de soberania, citou a Eletrobras e Petrobras —esta última, empresa que, segundo investigações, foi afetada por esquemas de corrupção durante os governos do PT, investigados pela Operação Lava Jato. “Nós precisamos fazer com que a Petrobras volte a ser uma grande empresa nacional, uma das maiores do mundo”, disse, falando que ela deve ficar “a serviço do povo brasileiro”, e não dos acionistas.
Ele também fez acenos aos indígenas, aos negros, às mulheres e à população LGBTQIA+ —grupos em que tem mais apoio do que Bolsonaro. “Nunca um governo como este que aí está estimulou tanto o preconceito, a discriminação e a violência.”


O pronunciamento do petista foi feito em frente a uma bandeira do Brasil, que, nos últimos anos, ficou associada ao bolsonarismo e à direita. O PT fez uma aposta no verde e amarelo no evento de lançamento da pré-candidatura.

Ao contrário do que geralmente acontece em seus pronunciamentos públicos, Lula leu praticamente todo o discurso, com improvisos no final e ao fazer a referência a chuchu.
Ao longo dos últimos meses, o ex-presidente tem feito declarações que geram polêmicas, como a em que considerou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tão culpado quanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pela invasão russa ao território ucraniano. Aliados sugeriram ajustes no discurso do petista, para evitar gafes e cancelamento nas redes sociais, que podem afastar possíveis eleitores.

Constituição
Lula ainda fez a defesa da Constituição brasileira em seu discurso. “Não somos a terra do faroeste, onde cada um impõe a sua própria lei”, disse. “Temos a lei maior —a Constituição—, que rege a nossa existência coletiva. E ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.”

Para o ex-presidente, “a normalidade democrática está consagrada na Constituição”. “É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, de cada um de nós.”

O evento, que aconteceu no Expo Center Norte, na zona norte de São Paulo, marcou também a formalização da aliança das federações PT-PCdoB-PV e PSOL-Rede com os partidos PSB e Solidariedade, criando a frente Vamos Juntos Pelo Brasil, a maior formação em torno do ex-presidente desde 1994.

O objetivo do PT, neste evento, era formar uma espécie de “Novas Diretas”, com figurões de diferentes estados e diversos partidos no mesmo palanque “unidos pela democracia”. O partido queria evidenciar, ao mesmo tempo, as forças política e popular do ex-presidente.

Assim que acabou de discursar, Lula deu as mãos a aliados para cumprimentar o público. Nesse momento, duas mulheres invadiram o palco e tiraram fotos com o ex-presidente.
Defesa da chapa

Com covid-19, Alckmin não esteve presente no local, mas participou por meio de vídeo. Em discurso, ele defendeu sua parceria com Lula, de quem era adversário, citando que o governo atual, de Jair Bolsonaro (PL), é o mais “desastroso e cruel” da história do Brasil. Alckmin disse que será um “parceiro leal” de Lula.

“Sem Lula, não haverá alternância de poder. E sem alternância, não haverá garantias para a nossa democracia. Lula é a única via da esperança para o Brasil. O futuro do Brasil também está em jogo”, disse o ex-governador.

Jingle renovado
O evento também ressuscitou o jingle “Sem Medo de Ser Feliz”, da campanha presidencial de 1989, e mais marcante peça de suas candidaturas. Apresentada como surpresa pela noiva do ex-presidente, Janja, a música ganhou nova gravação, com Martinho da Vila, Pablo Vittar, Zélia Duncan, Chico César e outros.

Entre os artistas, estavam presentes ainda a sambista Teresa Cristina, que cantou o hino, a cantora Lia de Itamaracá, a apresentadora Bela Gil e o roqueiro Paulo Miklos, ex-Titãs, que apresentou o evento.

“Sentimento positivo”

No fim do discurso, Lula se dirigiu a Dilma, que estava na lateral do palco. “Que bom que você está aqui. Você não vai ser minha ministra, mas vai ser a minha companheira de todas as horas.” Segundo o ex-presidente, Dilma não caberia em um ministério porque ela tem a grandeza de ter sido a primeira mulher a presidir o país, sendo ovacionada em seguida.

O anúncio dos ex-prefeitos paulistanos Fernando Haddad (PT) e Luiza Erundina (PSOL) —atual deputada federal— no palco também causou fortes aplausos do público. Haddad e o também pré-candidato ao governo de São Paulo Márcio França (PSB) ficaram em lados opostos no palco. Quando nome de França foi anunciado, um grupo menor, ao fundo, gritou “Retira! Retira [a pré-candidatura ao governo]!”.

O palco concentrava todo o alto escalão do PT e dos partidos da aliança progressista —além de Dilma, Haddad, Erundina e França, estavam os governadores Rui Costa (PT-BA), Paulo Câmara (PSB-PE) e Fátima Bezerra (PT-RN) e os ex-governadores Flávio Dino (PSB-MA), Jacques Wagner (PT-BA), Wellington Dias (PT-PI).

Na mesma estrutura, também foram chamados dois ex-BBBs que já declararam apoio público a Lula: Gleici Damasceno e Arthur Picoli. João Pedrosa também estava nos bastidores. Segundo a campanha, os convites são parte da estratégia de aproximar a candidatura de um público mais jovem, por meio das redes socais.

(*)Com informações UOL