No dia 26 de junho, durante depoimento ao Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF), o ex-ministro Antonio Palocci afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atuava diretamente o pedido de vantagens envolvendo projetos do Governo relacionados ao pré-sal.

Segundo o ex-ministro, Lula e o governo petista entraram num clima de “delírio político” com a descoberta das reservas bilionárias de óleo e passaram a atuar de maneira descuidada do ponto de vista jurídico. Ex-braço direito de Lula, Palocci afirma que o petista foi beneficiário direto de propinas de outros projetos do governo, como a negociação do contrato bilionário de compra de caças para a renovação da frota da Força Aérea Brasileira (FAB) e no caso da construção da Usina de Belo Monte.

No depoimento de quatro páginas, obtido pelo Jornal O Globo e também divulgado pelo Jornal Nacional na noite dessa segunda-feira, 10, o ex-ministro volta a narrar fatos do segundo Governo do ex-presidente Lula. Ele relata uma série de pressões realizadas pela cúpula do governo petista sobre os fundos de pensão que financiavam o projeto de sondas da Sede Brasil, a empresa criada durante o segundo governo Lula para construir as sondas de exploração de petróleo em águas profundas que seriam compradas pela Petrobras para extrair o óleo do pré-sal. Segundo Palocci, Lula considerava os recursos do pré-sal suficientes para financiar “quatro a cinco campanhas a presidente”.

O ex-ministro contou que Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff pressionaram para fundos de investimentos aplicarem na empresa, mesmo com falta de estudos técnicos, e que os dois “não se comoviam” com o fato de que o dinheiro investido era de trabalhadores.

“O pré-sal colocou todos os âmbitos do governo em torno dessas riqueza. No governo Lula, o pré-sal foi enxergado como um passaporte para o futuro, que foi um bilhete premiado no final de governo. Que o clima era de delírio político. Que isso dá ao ex-presidente um momento de atuação raro, descuidando da parte jurídica. Que ele passa a atuar diretamente no pedido de vantagens indevidas”, diz Palocci no depoimento. “Que, em outros casos de atuação direta do ex-presidente Lula, como dos caças, com atuação do presidente francês, receberam vantagens indevidas Lula e o PT, ou, no caso de Belo Monte”, segue o ex-ministro.

Fundador do PT, ex-prefeito de Ribeirão Preto, ex-ministro da Fazenda do governo Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, Palocci participou das decisões mais importantes do partido nas últimas duas décadas. Ele foi condenado pelo juiz Sergio Moro, que comanda os processos da Operação Lava-Jato em Curitiba, a 12 anos, dois meses e 20 dias de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Era, até o início das investigações em Curitiba, um dos políticos mais influentes do PT.

No depoimento, o procurador Frederico Ferreira reconhece o status de colaborador de Palocci, cita o acordo firmado pelo ex-ministro com a Polícia Federal – já homologado pelo Tribunal Regional da 4ª Região –, e registra que o depoimento de Palocci “apresenta o caráter de novidade frente ao atual estágio da investigação”. O que significa que Palocci, na condição de colaborador, não será incriminado por suas confissões perante a investigação que corre em Brasília.

Depoimento em ação sobre caças

Lula é réu, por tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa em uma ação penal que apura supostas irregularidades em negociações que levaram o Governo brasileiro a comprar 36 caças da empresa sueca Saab. Na época dos fatos narrados por Palocci, foi cogitada a compra de aeronaves francesas.

Na semana passada, o relator da cação penal, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal da Brasília, autorizou o depoimento de Palocci no processo, para o dia 20 de novembro.

Vallisney diz que, caso Palocci mantenha sua versão, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim deverá ser ouvido novamente no processo, já que, também segundo Palocci, ele também teria participado da reunião com Sarkozy. Jobim já prestou depoimento no caso, no ano passado, mas não mencionou o encontro.

“Desse modo, me parece importante que, após a oitiva de Antônio Palocci, e se mantida por ele a sua versão, sejam reperguntados ao Ministro da Defesa, testemunha Nelson Jobim, sobre a referida reunião que teria ‘durado noite adentro’ entre o último, o ex-presidente Lula e o Presidente Francês da época Nicolas Sarkozy, e se de fato o representante da França saiu com um uma espécie de contrato ou protocolo de compromisso da compra dos caças franceses mirage, um dos objetos deste processo criminal, e ainda se houve alguma menção ou negociação de propina nessa reunião”, escreveu Vallisney.

A assessoria de imprensa do ex-presidente Lula rebateu as acusações do ex-ministro. “Palocci conta mentiras, sem provas, para obter uma delação premiada. A ausência de provas já foi apontada até mesmo pelo Ministério Público”, afirma um dos assessores de Lula.

A ex-presidente também respondeu às acusações do ex-ministro. “O senhor Antônio Palocci mente. Não apresenta provas do que fala e insiste em elaborar narrativas de maneira dócil para agradar seus algozes na esperança de sair da prisão”, afirmou a ex-presidente em nota divulgada por um de seus assessores.

Com informações do Jornal O Globo