O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nessa terça-feira (11) que é preciso blindar a Casa de qualquer crise e que o mais importante é o resgate da confiança dos investidores, o equilíbrio das contas públicas e a geração de emprego no país. Ele deu a declaração um dia após os partidos de oposição na Câmara (PT, PSol e PCdoB) anunciarem que vão obstruir todas as votações até que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, deixe o cargo. O ex-juiz federal está no centro de uma crise política desde que mensagens trocadas entre ele e o coordenador da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, foram hackeadas e divulgadas, no domingo, pelo site The Intercept Brasil, com diálogos também de outros membros do Ministério Público Federal (MPF) do Paraná.
“Vamos blindar a Câmara de qualquer crise. Nosso esforço e nosso foco está na aprovação das reformas e de todos os projetos que são essenciais para o Brasil. Nada é mais importante do que o resgate da confiança, com o equilíbrio das contas públicas e a geração de empregos no país”, disse Maia, em suas redes sociais.
A postagem ocorre às vésperas da apresentação do relatório final da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara, marcada para esta quinta-feira (13), pelo relator Samuel Moreira (PSDB-SP).
No Congresso, o caso divide os parlamentares. De um lado, os que concordam com os termos da reportagem do site e acusam Moro de parcialidade por, supostamente, ter aconselhado Dallagnol à época em que era responsável pelos processos da Lava-Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba. De outro, deputados e senadores que defendem uma investigação sobre a responsabilidade pelo hackeamento das mensagens.
Apoiadores de Moro, os deputados Carlos Jordy (PSL/RJ) e Filipe Barros (PSL/PR) protocolaram nessa terça-feira (11) requerimento pela criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar a interceptação, a violação de sigilo e a divulgação das conversas. Conforme o requerimento, as mensagens foram expostas na imprensa com o intuito de denegrir a imagem de Moro e de Dallagnol.
“Importante ressaltar que o ataque não foi um roubo simples de dados, como ocorre com pessoas comuns. O ataque foi direcionado aos principais atores que investigam e processam as mais altas autoridades na Operação Lava-Jato”, diz o texto do documento.
No fim da tarde desta terça-feira (11), os dois deputados estavam em plenário tentando obter as 171 assinaturas necessárias para a instalação da CPI. Já os partidos de oposição ensaiam a criação de uma CPI para investigar possíveis desvios de conduta de Moro, Dallagnol e de outros membros da Lava-Jato.
O deputado Pompeu de Mattos (PDT/RS), vice-líder da minoria, classificou o caso como um escândalo, pois são duas pessoas com responsabilidade pública.
“Isso não pode ser tolerado. Não quer dizer que tem de acabar com a Lava-Jato nem jogar tudo o que foi feito no lixo. Os dois tinham de ser afastados da função pública até que tudo seja investigado.”
Ataque
No Senado, uma das repercussões do caso ocorreu na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Em reunião do colegiado, parlamentares afirmaram que os diálogos evidenciariam indevida coordenação de esforços na força-tarefa. Outros consideram que é preciso investigar como ocorreram os vazamentos.
“Na minha opinião, o ministro da Justiça não pode mais continuar ministro, a não ser que ele coloque, acima de tudo, a necessidade de ter um emprego e jogar por terra, como já jogou, toda sua história de magistrado, que nós todos pensávamos isento e imparcial, o que, pelas últimas informações e notícias dadas como corretas e sérias, não corresponde à realidade”, disse Otto Alencar (PSD-BA).
Já Alessandro Vieira (Cidadania-SE) avaliou que o vazamento indica estar em curso um ataque orquestrado contra a Lava-Jato. “Uma organização criminosa, provavelmente contratada por alguém interessado em prejudicar investigações, está em ação no Brasil. Nós temos uma quadrilha fazendo monitoramento, infiltração e hackeamento de aparelhos smartphones, celulares de autoridades: ministros, juízes, desembargadores, procuradores da República e, quem sabe, senadores.”