Diante de novo pico de transmissão do coronavírus e com a necessidade de um reforço na prática do isolamento social, o portal da Assembleia Legislativa perguntou aos internautas, na enquete realizada entre 22 de fevereiro e 1º de março, se o trabalho remoto deve ser adotado em definitivo pelas empresas.
Para 56,1% dos participantes a resposta é sim, pois a opção do trabalho remoto gera economia e otimiza tempo. Já 43,9% observam limitações tecnológicas que este sistema acentua, além da falta de privacidade.
Na avaliação da deputada Fernanda Pessoa (PSDB), o assunto é mais complexo. A parlamentar ressalta que a modalidade do trabalho precisa ser regulada, pois há muitas nuances que merecem ser consideradas. Ela afirma que o desemprego pode ser um sintoma, ou ainda, a desvalorização do serviço prestado pelos profissionais que trabalham em domicílio, com a oferta de salários menores, por exemplo.
“Ainda tem questões como os custos que algumas empresas não bancam, como gastos com internet, telefone, equipamento de trabalho, caso de computadores e celulares. Tudo isso precisa ser considerado, pois de outra forma haverá economia para as empresas, mas perdas para os trabalhadores”, alerta.
O deputado Jeová Mota (PDT), presidente da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da AL, pensa de forma semelhante. Para ele, a alternativa pelo sistema remoto proporciona melhor qualidade de vida, pois possibilita mais equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal nesse momento específico. Entretanto, de acordo com ao deputado, possui algumas desvantagens que merecem ser observadas e corrigidas antes de se adotar como método definitivo.
“As instituições que optarem pelo trabalho remoto precisam de ferramentas e condições adequadas para seus funcionários. Além disso, é fundamental manter um padrão de horário de trabalho, para evitar que os profissionais se sobrecarreguem”, salienta.
O deputado Queiroz Filho (PDT) concorda que o trabalho remoto é uma boa opção para o momento, mas que precisa ser regulado para os trabalhadores não sofram mais prejuízos antes de ser estabelecido em definitivo.
“O ideal seria que os empregadores disponibilizassem as condições ideais para tal, como equipamento, custos, e delimitando o horário de expediente. Sabemos que nem sempre será possível, então, é necessário que a mínima garantia seja atribuída para que os funcionários não sejam prejudicados”, justifica.
O sociólogo Eduardo Neto Moreira também compreende que a adoção do trabalho remoto em definitivo implica toda uma adaptação e regulação das empresas e dos trabalhadores a esse sistema.
“Deve haver uma corresponsabilização pelo serviço, entre trabalhador e empresa, assim como uma repactuação de tarefas”, aponta.
A respeito da infraestrutura necessária para realização de um home office, Eduardo Neto lembra que nem todas as famílias dispõem de espaço e equipamentos (impressoras, internet, etc.) para o desempenho da função. Ele acrescenta ainda que as atividades devem ser viabilizadas pelos empregadores, pois acarretam custos adicionais que, no modelo convencional, o trabalhador não tem por dispor da estrutura da empresa.
Outro ponto ressaltado pelo sociólogo é a necessidade de disciplina e capacidade de planejamento e organização, visando produtividade, e, no caso do estabelecimento da modalidade pelas empresas, o acolhimento das implicações legais trabalhistas.
“Isso deve ficar bem definido, pois senão a vida do profissional será invadida por completo pelo trabalho, com o risco de ele não distinguir qual o horário destinado ao trabalho, às atividades domésticas e ao lazer”, analisa.
(*)com informação da AL