Na calada da noite, a vontade de comer alguma besteira sempre surge. Mesmo após se alimentar bem durante o dia, esse desejo aparece e é frequente na vida de muita gente. A fome, como muitos a conhecem, possui características diversas e se apresenta de variadas formas.
Física, emocional, psicologicamente. As camadas presentes são sentidas de maneiras diferentes. Entretanto, cada indivíduo atesta isso com as suas particularidades. Afinal, quem nunca sentiu a barriga roncar? Esse sinal, segundo a nutricionista clínica Thaís Cristine Freire da Silva, refere-se à fome física, quando o organismo precisa e pede por energia e nutrientes.
Neste caso, é necessário comer e, de preferência, optar por fontes que sejam nutritivas. “A fome emocional está atrelada a compensação, sensação de precisar comer com urgência e uma grande quantidade”, explica a profissional. Além disso, existe o formato social, que envolve contextos de interações interpessoais, como festas de aniversários e almoços de família.
E o desejo por algo que, geralmente, você não tem em casa? Uma pizza, uma coxinha ou um brigadeiro. Para este tipo, denomina-se fome específica, relacionada ao prazer de comer um alimento em especial, que não é urgente, mas que o indivíduo sabe que o sabor irá lhe satisfazer como nenhum outro.
Apetite ou gula
Esse último tipo de fome, a influencer Paula Melissa, 23 anos, conhece. O ponto fraco da jovem são os doces, principalmente quando bate aquela vontade depois do almoço. Para ela, é quase impossível se segurar. “Dificilmente, consigo me controlar e acabo comendo além da conta”, ressalta.
Atualmente, Paula faz de 4 a 5 refeições por dia. Pela manhã, toma café com tapioca, pão ou biscoito. O almoço, para ela, é a principal refeição. À tarde, quando lancha, sempre come um salgado. “Por volta das 20h é a minha janta e, antes de dormir, faço um lanche leve”, conta a influencer.
Pelo tédio ou ansiedade, a noite é o momento em que a vontade de assaltar a geladeira começa a bater, segundo a jovem. Sempre que se sente triste, o desejo de comer doces e alimentos industrializados aumenta. Sendo assim, brigadeiros, salgadinhos e refrigerantes fazem parte desse cardápio que já começa a ficar cada vez mais no passado.
“Parece que, de certa forma, me sinto aliviada ao comer. Mas sei que, em excesso, pode fazer mal. Principalmente porque tenho casos de doenças como diabetes na família, então, se eu continuar comendo muito, posso acabar adquirindo essas doenças, tanto pelo fator genético quanto pela má alimentação. É um processo difícil, mas necessário”, detalha Paula Melissa, sobre a dificuldade em largar esse hábito.
Física e emocional
Neste amplo debate, duas tipologias de fome se encontram como as mais conhecidas pelo grande público. A fome fisiológica e emocional — essa última também conhecida como hedônica — apresentam-se de maneiras distintas na rotina alimentar.
Alessandra Feltre, nutricionista e head de nutrição da Puravida, explica que a fome fisiológica é a sentida pelo corpo, na qual realmente há a necessidade em comer e absorver nutrientes para realizar as funções vitais, ou seja está relacionada à sobrevivência.
“Conseguimos identificá-la, por exemplo, quando a fome aumenta gradualmente, a escolha da comida é feita com consciência, há sensação de saciedade e satisfação depois de comer, com o passar do tempo pode apresentar aquela dorzinha no estômago, estômago roncando, tontura, dor de cabeça, irritação. Você sabe instintivamente que precisa alimentar-se e não está relacionada a nenhum alimento específico”, afirma a profissional.
Já a fome hedônica não está envolvida com as necessidades fisiológicas e, sim, com mecanismos ligados à sobrevivência, com o estado mental e mecanismos de recompensa e prazer. Aparece nos momentos em que o indivíduo acredita que precisa comer para melhorar a parte psicológica. Entendendo, de alguma maneira, que o alimento vai aliviá-lo.
Sentimentos e alívio
A origem da fome hedônica pode ser múltipla: uma rotina estressante, histórico de dietas restritivas, uma discussão com alguém querido, excesso de trabalho, tristeza e angústia. “E são nestes momentos que entra o ‘eu mereço’. Ela corresponde à vontade de comer alimentos específicos ou um grupo de alimentos em particular, na busca de satisfação e prazer. É fácil de ser identificada pois envolve comer algo gostoso, não é satisfeita com pequenas porções, vem com a necessidade de grandes volumes ou urgência”, avalia Alessandra.
Segundo a nutricionista, essa necessidade vem repentinamente. A escolha é impulsiva e está interligada a combinações alimentares como açúcares, gorduras e variados. Chocolates, alimentos ultraprocessados e biscoitos recheados fazem parte da lista. Essas escolhas podem trazer uma euforia momentânea, mas, quando passa, o estado de tristeza e angústia retorna. Isso, de acordo com Alessandra, se agrava e pode trazer riscos ao indivíduo.
A fome emocional faz as pessoas terem uma relação errada com a comida, além de trazer sérios problemas de saúde como obesidade, diabetes e outras doenças crônicas associadas ao estilo de vida adotado. “Contudo, não tenha medo do prazer em comer. Precisamos criar uma relação mais tranquila com a comida e diminuir a obsessão aos não nutricionais. Se ficarmos mais atentos ao tipo de fome que estamos sentindo, se conseguirmos identificar de que temos fome e respeitarmos saberemos o que precisa ser feito”, finaliza Alessandra.
Convivendo com a fome
Dormir bem: Pode auxiliar no controle dos hormônios ligados à percepção de fome e saciedade.
Começar o dia consumindo fibras e proteínas
Estar atento à velocidade da mastigação
Fracionar de forma nutricional as refeições ao longo do dia
Hidratação correta e diária
(*)com informação do Jornal CB