O primeiro dia da janela partidária não foi dos melhores para o MDB. A comunicação de saídas de deputados da legenda do presidente Michel Temer, levou o ministro da Secretaria do Governo, Carlos Marun, a entrar em campo, apelando para que outros parlamentares não deixem o partido, evitando uma debandada.
Pelo grupo de Whatsapp da bancada na Câmara, e também por telefone, o ministro trabalha contra o enfraquecimento da legenda às vésperas da eleição. A janela está aberta até o dia 7 de abril e os deputados que trocarem de legenda neste momento não perderão os mandatos pela regra da fidelidade partidária. As mudanças têm, entre outros fatores, relação com a capacidade de cada legenda para financiar as campanhas de quem buscará a reeleição, uma vez que a maior parte dos recursos disponíveis neste ano vem de dois fundos públicos: o partidário e o eleitoral.
Há uma estimativa de descontentes no MDB de que pode chegar a 11 o número de saídas. A bancada peemedebista tem 58 integrantes na Câmara. Ontem, três deputados utilizaram o grupo de WhatsApp chamado ‘MDB DEBATES’ para anunciar a desfiliação: André Amaral (PB), Altineu Côrtes (RJ) e Celso Pansera (RJ). Logo em seguida, Marun pediu “cautela” aos que pensavam em sair, mas admitiu o “momento difícil”.
“O MDB, com todos os seus defeitos, é um partido consolidado e histórico, e onde temos laços consolidados e especiais. Reconheço que o momento é difícil, mas afirmo sem medo de errar que a migração partidária véspera da eleição não é o melhor caminho.”, pediu o ministro aos colegas de partido, em mensagem obtida pelo Jornal O Globo.
O deputado Darcísio Perondi (MDB-RS), um dos vice-líderes do Governo na Câmara, admitiu que haverá perdas. Mas reproduziu uma estimativa de que o partido pode conseguir manter bancada semelhante a que já tem com a adesão de outros parlamentares. “Alguns deputados vão sair, mas muitos também vão entrar. O nosso líder, Baleia Rossi, acha que no fim da janela vai equilibrar”, explicou Perondi.
Um dos deputados descontentes que já foi acionado por Marun para mudar de ideia é Osmar Serraglio (PR). O parlamentar reconhece o assédio para mudar de ideia. “Ele (Marun) me pediu para pensar com calma”, resumiu Serraglio.
O deputado paranaense tem divergência com o cacique peemedebista de seu Estado, o senador Roberto Requião, e argumenta que só considera permanecer no MDB caso tenha garantias de que a condução do pleito no Estado será diferente. “Em todas as campanhas políticas o líder lá é o Requião, e ele me dificulta sempre. E eu cansei”, pontua.
No caso de Celso Pansera, a justificativa é falta de afinidade ideológica em relação às últimas decisões tomadas pelo partido. Ele vai se filiar ao PT. Desde o início do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, de quem foi ministro, Celso Pansera se posiciona — em votações e discursos — de maneira contrária à defendida pelo MDB.
O deputado também votou a favor da abertura dos processos de investigação do presidente Michel Temer. “Nossas divergências foram no campo político. Não levo nenhuma mágoa pessoal e se porventura eu tenha deixado alguma, peço perdão”, escreveu Pansera aos ex-colegas peemedebistas, em mensagem enviada ao grupo. Já André Amaral, o terceiro do MDB que anunciou a saída, está de partida para o PROS.
Dinheiro para campanha é atrativo
Com o fim do financiamento privado das campanhas, o dinheiro a ser disponibilizado pelos partidos passou a ser um atrativo para quem está insatisfeito. Com recursos dos dois fundos públicos, legendas médias, como PP e PR, estariam prometendo disponibilizar até R$ 2,5 milhões para a campanha de quem for buscar a reeleição, justamente o teto permitido para as eleições de deputado federal.
Altineu Côrtes (RJ) deixou o MDB para voltar ao PR, partido que deve crescer na janela. Ele nega que a migração seja diretamente ligada ao financiamento de campanha. “No meu caso não teve absolutamente nada a ver com isso, e não vejo nada definido em números nos partidos, de dar tanto, mas partidos médios e grandes vão ajudar os candidatos”, disse Côrtes.
O DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), informou a filiação de quatro novos deputados nesta quinta-feira: Heráclito Fortes (PI), João Paulo Kleinübing (SC), e os fluminenses Laura Carneiro e Sérgio Zveiter. O PDT, que tem Ciro Gomes como pré-candidato ao Planalto, espera receber dois novos nomes: Chico D’Ângelo e Hugo Legal. O deputado Marco Feliciano (SP) vai se filiar ao Podemos, que tem o senador Álvaro Dias (PR) como presidenciável.
Partido do também pré-candidato Jair Bolsonaro (RJ), o PSL realizou, na última quarta-feira, 7, um ato simbólico para efetuar a migração do deputado Jair Bolsonaro (RJ), pré-candidato à Presidência. No evento, o presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), informou que espera a filiação oficial de outros oito deputados à legenda.
O líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MS), reclama do “leilão” na Câmara. “Quando acabou com o financiamento privado, todo mundo ficou assustado em relação a como fazer uma campanha. E somado a isso, tem o fundo partidário e a janela. Com essa soma de novidade que temos agora, temos praticamente um leilão”, ponderou.
Apesar de receber a filiação — realizada antes mesmo da abertura da janela partidária — dos deputados Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR), o PSB ainda é visto como um dos partidos que pode sofrer o maior número de baixas. Alguns dos deputados da legenda deverão seguir ao DEM de Rodrigo Maia. A migração nessa direção já aconteceu com parlamentares que acabaram expulsos pelo PSB, como a coordenadora da bancada ruralista, Teresa Cristina.
Com informações do Jornal O Globo