Médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem fizeram uma passeata na manhã de hoje (15) em defesa da paz distribuindo rosas aos pacientes nas imediações do Complexo Hospital das Clínicas e promovendo revoada de balões brancos. A passeata fez parte da campanha do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) pelo fim da violência contra profissionais de saúde.
O Cremesp e o Coren-SP apresentaram uma pesquisa inédita sobre violência contra médicos e profissionais de enfermagem nas unidades de saúde. De acordo com o estudo, 59,7% dos médicos e 54,7% dos profissionais de enfermagem sofreram, mais de uma vez, situações de violência no trabalho. Os resultados foram anunciados durante o Encontro das Comissões de Ética de Medicina e de Enfermagem no Centro de Convenções Rebouças.
Após o encontro, médicos e profissionais de enfermagem seguiram em passeata para reforçar a campanha Violência Não Resolve, lançada nesta manhã, com o intuito de conscientizar sobre o problema, mostrando que respeito e harmonia, além de essenciais, contribuem para a melhoria da assistência.
A presidente do Coren-SP, Fabíola de Campos Braga Mattozinho, espera que a campanha sensibilize o público. “Muitas vezes o paciente está em situação de fragilidade, chega numa unidade de saúde e se depara com a falta de profissionais e medicamentos e isso, obviamente, gera uma insatisfação no paciente, que se volta contra a pessoa que está trabalhando, em sua maioria profissionais de enfermagem”.
Segundo Fabíola, a pesquisa vai ajudar a implantar medidas que possam minimizar essas situações. “[Com a pesquisa] damos voz a esses profissionais para que consigamos identificar as situações e assim criar um fluxo de melhor atendimento, além de implementar medidas para a redução dessa violência”.
Denúncias
O primeiro-secretário do Cremesp, Braúlio Luna Filho, espera que a campanha chegue a todos. “Precisamos que a população entenda que o mau atendimento, a longa espera, a falta de exame, um medicamento indisponível, não é culpa do médico e do enfermeiro, existe uma estrutura que impede isso”, pondera.
“Mas infelizmente tem uma minoria que se desespera, que chega num local que não o atende bem e parte para a agressão, geralmente é uma violência verbal, e às vezes chega a situações de agressão física”, completou.
O representante do Cremesp afirma ainda que o médico agredido, muitas vezes, não quer voltar a trabalhar naquele local e que os governos têm dificuldade de contratar médicos – problema que se multiplica quando há casos de violência.
“Nós queremos que a população entenda que o profissional de saúde é aliado dela, nós temos que lutar para ter mais recursos na saúde e melhores condições de atendimento da população, esse é o nosso intuito”, completou.
Ele lamenta ainda que a maior parte dos casos de violência não seja denunciada, já que os profissionais não acreditam que o problema possa ser resolvido. Além disso, ele defende a criação de uma delegacia especializada.
“Nós defendemos que a Secretaria de Saúde crie um mecanismo mais seguro, como uma delegacia especializada nesse tipo de assunto, talvez isso ajude os médicos a denunciar de maneira mais competente e quem sabe sensibilizar os órgãos públicos a tomar uma conduta para resolver esse problema que desestrutura o sistema de saúde”.
Apoio
O ajudante de serviços gerais Robson Farias que estava aguardando um atendimento no Hospital das Clínicas aprovou o ato. “É bom que a população veja como a gente passa dificuldades e eles [profissionais de saúde] também passam, ninguém pode agredir os enfermeiros e médicos”.
O pedreiro Josias Ferreira da Silva, que também estava no hospital, acredita que a conscientização é importante. “Deveria ter um jeito de acabar com essa violência, eles têm que cuidar bem dos pacientes, mas em quase todos os hospitais somos mal atendidos, a situação da saúde está difícil no Brasil”.
Para a enfermeira Simone Gomide dos Santos, a campanha é uma forma de sensibilizar tanto profissionais de saúde quanto os pacientes. “Muitas vezes não há macas, medicações e condições de trabalhar, enfim, não temos formas dignas de trabalho e isso também é uma violência contra o profissional, que gera um efeito dominó.”
Para ela, a falta de notificações de agressões sofridas pelos profissionais de saúde aumenta o problema. “Não temos números que reforçam a necessidade de criar uma política pública para termos maior segurança no trabalho, por isso essa ação é importante para as categorias.”