O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, faz um alerta contra o protecionismo e o novo nacionalismo econômico, na declaração preparada para a reunião, hoje, do Comitê Monetário e Financeiro, o principal conselho político do Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse alerta se junta às criticas, frequentes nesta semana, durante a reunião do Fundo, às políticas defendidas pelo presidente norte-americano Donald Trump e por outros políticos nacionalistas e populistas em ascensão na Europa.
Quanto ao protecionismo, tem dito o ministro da Fazenda, o Brasil é menos vulnerável que vários outros países, porque seus mercados são diversificados e a pauta é constituída em boa parte por produtos primários, em geral menos sujeitos que os manufaturados à imposição de barreiras comerciais.
Em relação ao Brasil a mensagem preparada para a reunião foi concentrada na pauta de ajustes e reformas e nas perspectivas de fortalecimento econômico. O País, segundo ele, recupera-se da mais profunda recessão registrada em sua história, a confiança tem aumentado e uma nova política econômica foi implantada para tornar a economia mais eficiente.
O pronunciamento, em nome do Brasil e de mais dez países de seu grupo, tem três páginas, e apenas três dos 12 parágrafos são dedicados à economia brasileira. O tom é contido. O crescimento, facilitado pelo recuo da inflação e pela baixa dos juros, deve ganhar impulso até o fim do ano, conduzindo à elevação do emprego e da renda real, diz o ministro. O documento menciona a criação do teto para o gasto público e o projeto de reforma da Previdência e resume o esforço de contenção da divida pública. Segundo o texto, o governo vem procurando tornar o mercado de trabalho mais flexível e estimular o investimento, “impulsionando o crescimento e a produtividade”.
O último parágrafo a respeito do Brasil contém uma referência ao sistema financeiro nacional, aprovado, segundo o ministro, no “teste real de estresse” da recessão. Regulação prudente e supervisão ativa, de acordo com o documento, têm contribuído para a saúde do sistema.
A ênfase na regulação brasileira estabelece um contraste com a preocupação manifestada, em outra passagem, quanto à possível diminuição dos controles nos Estados Unidos. Não há referência a nomes, nesse caso, mas o afrouxamento das normas bancárias é uma das promessas de Donald Trump.
Risco tangível. O pronunciamento de Meirelles aponta “risco tangível” de “abandono desordenado da agenda regulatória global”. Isso poderia, segundo o documento, “prejudicar os avanços efetivados desde a crise financeira global”. É crucial, diz Meirelles, um forte compromisso com a conclusão da agenda de reformas conhecida como Basileia 3, acordada pelos países associados ao Banco de Compensações Internacionais, conhecido como banco central dos bancos centrais.
Cumprir essa agenda até o fim, argumenta o ministro, é essencial para eliminar as fragilidades já conhecidas, garantir a estabilidade financeira mundial e “garantir um campo nivelado para a indústria bancária global”. Além de minar padrões de segurança, a redução dos controles em alguns países pode afetar a concorrência no mercado financeiro, diferenciando as condições de operação.
Meirelles também faz uma defesa do multilateralismo e da integração global. Nessa parte, o pronunciamento segue o padrão dominante, durante a reunião do FMI, de alertas contra as bandeiras nacionalistas e populistas levantadas nos Estados Unidos e na Europa: políticas voltadas para dentro, contrárias à cooperação internacional e favoráveis, especialmente no caso de Trump, ao protecionismo comercial.
Na mesma semana, Trump lançou, com base em argumento de segurança nacional, uma investigação sobre as condições de importação de aço no mercado americano. A investigação poderá resultar em prejuízo para os produtores brasileiros, embora o alvo mais aparente seja a siderurgia chinesa.
Como economistas do FMI, o ministro reconhece a grande motivação do apoio às bandeiras do protecionismo e do abandono da cooperação internacional – o mal-estar dos grupos deixados para trás na fase recente da globalização. Mas os governos, segundo ele, devem buscar o remédio em políticas de inclusão, em vez de recorrer a barreiras comerciais e à introversão.
Com informações O Estado de São Paulo