O ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fará uma aposta de risco para ser oficializado como candidato do MDB ao Paláciodo Planalto e obter mais apoio do eleitorado – Meirelles aparece estagnado nas pesquisas, com 1% das intenções de voto. Sob desgaste de ter sido ministro da Fazenda do governo de Michel Temer, campeão no quesito impopularidade, Meirelles vai engrossar o discurso e usar na campanha o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, apesar de condenado e preso na Lava Jato, ainda lidera pesquisas de intenção de voto quando seu nome é testado.
A mudança de tom começou na quinta-feira, após a equipe de comunicação de Meirelles concluir que, para crescer nas pesquisas, onde tem 1%, ele precisa “surpreender”, criar fatos políticos e chamar a atenção. O ataque aos adversários Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) faz parte da estratégia. A etapa seguinte será explorar a “herança” de Lula. A ideia é destacar que Meirelles foi presidente do Banco Central nos dois mandatos do petista (2003 a 2010). Enquanto a defesa do legado de Temer aparece nas pesquisas como um “fardo” difícil de carregar, a vinculação com Lula é vista como um “trunfo”.
O ex-ministro faz questão, porém, de separar Lula da ex-presidente Dilma Rousseff. Nessa sexta à noite, 29, em palestra para empresários do Distrito Federal, Meirelles culpou Dilma pelo agravamento da crise. Ao criticar Bolsonaro e Ciro, sob o argumento de que há candidatos que desejam acabar com o teto de gastos, ele deu uma estocada em Dilma. “Isso me lembra de uma reunião de 2006, na qual a então chefe da Casa Civil (do governo Lula) fez uma afirmação impressionante. Ela disse: ‘Despesa pública é vida'”, afirmou Meirelles. Em seguida, deixou clara sua divergência com a petista. “Precisa ver para quem, não é?”, provocou.
Na prática, a campanha quer mostrar que o ex-chefe da equipe econômica é um homem tão “preparado” para tirar o Brasil da crise que está acima de ideologias e partidos. Não será uma tarefa fácil, mesmo porque dirigentes do MDB não o liberaram da missão de defender o “legado” de Temer, reprovado por 79% dos eleitores, de acordo com pesquisa CNI/Ibope. “O primeiro princípio de um candidato crível é ser fiel à sua biografia e o Meirelles está, cada vez mais, assumindo o que fez”, afirmou o ministro Moreira Franco (Minas e Energia). “Ele foi chamado novamente para tirar o Brasil de uma situação de crise, assim como foi chamado pelo Lula quando a situação era gravíssima. E ele não fugiu do chamamento”, completou.
Em carta de próprio punho divulgada nas redes sociais, Meirelles diz que nunca aceitou a divisão do País. “Atendi ao convite de Lula e tenho orgulho de ter comandado o Banco Central e a economia no período mais próspero da história recente. Tenho orgulho de que meu trabalho naquele período possibilitou que tantas pessoas saíssem da pobreza rumo à classe média”, escreveu.
O figurino que o MDB quer vestir em Meirelles, a 99 dias da eleição, é o de candidato de centro com bom trânsito em várias alas, além de ter “equilíbrio” e “pulso firme” para apagar incêndios. Por isso a campanha é ancorada pelo mote #ChamaOMeirelles. O problema é que, ao contrário do que ele próprio previa, a economia não reagiu e o desemprego continua muito alto.
A manutenção do ex-ministro no páreo depende agora das circunstâncias políticas e do seu crescimento nas pesquisas. À portas fechadas, dirigentes do MDB afirmam que Meirelles somente será levado à convenção do partido – prevista para o fim de julho ou início de agosto – se houver uma avaliação interna de que ele tem potencial para se tornar competitivo. Se o quadro não mudar, a tendência do MDB será a de não apresentar chapa própria e liberar arranjos regionais.
Com informações do Uol Notícias