A seção Mercado de Trabalho da Carta de Conjuntura do Ipea divulgada nesta segunda-feira, 25/06, mostra um comportamento distinto da ocupação, dependendo da idade do trabalhador e de seu grau de instrução. Enquanto a população ocupada com mais de 60 anos cresceu 8%, a de trabalhadores entre 25 e 39 anos teve um aumento de 0,9% no primeiro trimestre de 2018, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Entre aqueles com ensino médio incompleto, a ocupação se expandiu 10%, mas ela recuou 9% para os que têm apenas o ensino fundamental.

O estudou analisou o mercado de trabalho a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, e dos dados de emprego formal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. A avaliação é de que o mercado apresentou sinais de melhora nos últimos trimestres, mas os dados mais recentes apontam uma estabilidade, colocando em dúvida o ritmo da recuperação.  A taxa de desocupação vem se mantendo em torno de 12,5%, reflexo de uma desaceleração do crescimento da população ocupada.

“Viemos de um período de retração muito grande. Nossa recuperação apresenta bases ainda frágeis, com muita informalidade, o que traz alta volatilidade para o setor, tanto em termos de ocupação, quanto de rendimento.”, explica Maria Andréia Lameiras, pesquisadora do Ipea e uma das autoras da pesquisa.

Os números da PNADC mostram que o desemprego voltou a cair em abril, após apresentar um aumento no primeiro trimestre de 2018, em relação ao observado no último trimestre de 2017. Na comparação com abril de 2017, o recuo do desemprego foi de 0,7 p.p.. Em que pese os dados da PNADC não apresentarem um cenário tão favorável, os dados do Caged indicam uma reação um pouco mais forte do emprego formal. No primeiro trimestre de 2018, os formais ultrapassaram o conjunto dos conta-própria e tornaram-se o segundo segmento que mais retirou trabalhadores do desemprego, atrás dos informais.

Em relação aos desalentados, a evolução desse grupo ao longo de 2017 apontava para um crescimento menos acentuado do que o que vinha ocorrendo até então, chegando, inclusive, a reportar certa estabilidade. No entanto, no primeiro trimestre de 2018, esse grupo voltou a avançar de forma mais significativa, correspondendo a quase 3,0% do total da população em idade ativa. Nota-se que, ao contrário do esperado, esse aumento do desalento não foi proveniente das pessoas que estavam há muito tempo sem emprego e que desistiram de procurar emprego. O aumento do desalento ocorreu por conta da migração de trabalhadores que até então estavam ocupados, mas ao perderem seus postos de trabalho transitaram diretamente para o desalento, ao invés de permanecerem na desocupação.

A ocupação vem reagindo em praticamente todos os setores da economia, mas em intensidades distintas. Mesmo a construção civil já mostra saldos mensais positivos – embora continue apresentando destruição de empregos no acumulado de doze meses. Em maio de 2018, esse setor abriu mais de 3 mil vagas com certeira assinada, apresentando um resultado bem superior ao observado no mesmo mês de 2017 (–294). O setor de serviços foi o que registrou maior dinamismo, com uma criação líquida de quase 190 mil novos postos de trabalho nos doze meses até maio.

Perfil

No primeiro trimestre de 2018, os microdados da PNADC permitem traçar um perfil do desempregado no país: mulher, nordestina, entre 18 e 24 anos, com fundamental incompleto, residente em regiões metropolitanas. Corroborando esse perfil, Piauí, Sergipe, Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro apresentaram um aumento da desocupação, na comparação com o primeiro trimestre de 2017. Em sentido oposto, a queda do desemprego foi maior nos estados do Amazonas, Tocantins, Goiás e Mato Grosso do Sul.

O recuo da taxa de desocupação, na comparação interanual, ocorre de modo disseminado em todas as categorias, sendo mais significativo nas regiões Norte e Centro-Oeste e no grupo de trabalhadores com idade entre 25 e 39 anos, com ensino médio incompleto e não residente nas regiões metropolitanas.

O crescimento dos mais idosos na força de trabalho não ocorre pelo aumento do número desses trabalhadores que estão saindo da inatividade e retornando ao mercado de trabalho, mas porque vem recuando a parcela de idosos que decidem deixar a força de trabalho e ir para a inatividade, independentemente de estarem ocupados ou não.

Maria Andréia Lameiras explica que dois fatores ajudam a entender essa permanência dos mais velhos do mercado de trabalho. O primeiro tem a ver com a renda: ao ficarem no mercado de trabalho, conseguem uma renda maior. O segundo envolve o aumento de expectativa de vida do brasileiro. “Essas pessoas querem se manter ativas, pois têm uma maior expectativa de vida maior. Em sua grande maioria, ainda são chefes de família, aqueles que garantem o sustento da casa.”

 

Com informação da A.I