“Estamos caminhando para condições menos favoráveis. Já havíamos observado isso, mas não divulgamos porque o panorama poderia ser revertido”. A declaração do meteorologista da Funceme soa como desalento para as informações anteriores que davam conta de uma quadra invernosa acima da média.
De acordo com análise do Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) o Ceará tem a pior situação no Nordeste. Isto porque, diferentemente dos estados a Leste, que sofrem influência de outros sistemas pluviométricos, o Ceará depende essencialmente da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).
“Os ventos alísios de sudeste estão mais fortes do que a média. Quando os ventos estão mais intensos, evapora mais água e a temperatura do mar cai. Durante março, abril e maio, a ZCIT procura região de águas mais quentes”, detalha o pesquisador do Centro de Previsões de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), Paulo Nobre. A instituição é ligada ao MCTIC.
O modelo descrito pelo especialista já havia sido identificado em janeiro e se intensificou no início deste mês, mais precisamente no último dia 3. “Demos mais duas semanas para ver alguns campos que poderiam se modificar e indicar uma condição de mais pluviometria. Eles não se alteraram”, cita.
O meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), Raul Fritz confirma a análise, e aponta o resfriamento das águas do Atlântico Sul como causa para a queda na probabilidade de chuvas. “Na época da primeira previsão havia um dipolo favorável no Oceano Atlântico. As águas próximas ao Nordeste estavam mais quentes que as acima do Equador. Agora está um dipolo desfavorável para a chuva. E ele é o que regula a ZCIT”, afirma.
Segundo ele, a partir do próximo dia 15 será possível fazer um segundo prognóstico para o período, com mais clareza. “A primeira previsão causa mais impacto, mas, na segunda, o Oceano está mais estabilizado”, diz. No fim de janeiro, o MCTIC divulgou que havia 40% de probabilidades de chuvas abaixo da média no Ceará, 35% na média e 25% acima da média. O prognóstico da Funceme, divulgado alguns dias antes, dava conta de que as chances de precipitações na média histórica eram de 40%, 30% de chances de ser abaixo e 30% de ser acima.