O presidente Michel Temer condiciona o sucesso de seu governo à redução, até o fim de 2018, do número de desempregados. Segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14,2 milhões de brasileiros estão nessa situação.
Embora avalie que a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência será muito importante para a retomada do emprego, a derrota no Congresso de uma ou outra não definirá o sucesso do mandato. “O meu principal objetivo é combater o desemprego. Se não conseguir, aí sim você pode dizer que o governo não deu certo. Não é por causa da Previdência.”
O presidente voltou a defender seus ministros citados nas delações da Lava Jato, mesmo com prejuízo para a imagem do governo. “Aqui tem pessoas mencionadas que são da melhor qualificação administrativa, prestam um serviço extraordinário. É um custo-benefício que compensa.”
Em relação ao seu papel na disputa presidencial em 2018, ele disse que vai depender do êxito do governo. “Se eu estiver bem, é claro que todos virão me procurar em busca de apoio. Se eu estiver mal, ninguém vai querer se aproximar.” Depois de lamentar mais uma vez a disputa política agressiva atual no País, afirmou que já não se incomoda tanto com os movimentos que pedem a sua saída do governo. “Aliás, ficou simpático este ‘Fora, Temer’. Eu acho que vou sentir falta.”
O senhor está seguro de que vai aprovar a reforma da Previdência?
Tenho certeza de que será aprovada. As notícias que recebo do Congresso são muito favoráveis. O projeto original foi substancialmente modificado pelo Congresso, as pessoas até me criticam de vez em quando: “O Temer fez uma coisa e já recuou”. Essa é uma visão autoritária que nós próprios temos, nós gostamos de centralização. O presidente da República fez alguma coisa e não pode ser modificada. Não é assim que eu penso. Um segundo ponto: começamos a dizer a verdade, porque muitas inverdades foram ditas no início da campanha (pela reforma). Essas verdades estão começando a ganhar tamanho. Por isso acho que nós vamos aprovar.
O senhor terá os 308 votos necessários para aprovar a reforma na Câmara?
Não temos o levantamento completo. Você tem de contar voto por voto em cada partido. Vocês sabem que eu tenho muito contato com os parlamentares, eu até telefono para os parlamentares. Se tivermos 320 votos, acho que dá para ir para o plenário.
E se não aprovar?
Eu quis demonstrar no meu discurso (de sexta-feira) que a Previdência não era tudo. Num dado momento se dizia que a única coisa que o governo fez em um ano foi propor a reforma da Previdência, como se nada tivéssemos proposto ao longo deste ano. Faltou uma frase (no discurso): a Previdência não é tudo o que o governo fez. É uma das parcelas de tudo o que o governo fez. Eu percebo que centralizou-se tudo na ideia de que o governo será vitorioso se aprovar a Previdência e não será vitorioso se não aprovar. Não é isso que pegou? Isso é uma inverdade. Se não aprovar a Previdência, vamos ter soluções, o Brasil não vai parar por causa disso. O que vai acontecer é que daqui a dois, três anos, vai ter de fazer uma reforma. Não há dúvida.
E neste caso haverá aumento de impostos?
Não. Aliás, eu assumi o governo sob o império da CPMF. Passou um ano e não se falou mais em CPMF, não se falou em tributo. Nós não queremos. Vamos encontrar todos os meios e formas de não aumentar, de não criar tributos. Foi uma decisão política, mas com a compreensão da área econômica. Eles compreenderam que não se podia fazer isso agora.
O PMDB vai obrigar todos os seus deputados a votarem a favor da reforma?
Acho que vai. Está bem encaminhado, assim como com os demais partidos.
Até mesmo o PSDB e o DEM?
Acho que fecham (questão em torno do voto favorável). Não tenho dados concretos, mas tenho informações que, se o PMDB fechar, os outros fecham. Isso aumenta a segurança, até para o deputado. Se fechar questão, ele vai dizer que está votando com o partido.
A ideia do PMDB é dar exemplo para os outros partidos da base?
Não é exatamente para dar exemplo, mas é o que a base naturalmente aguarda, que o PMDB feche (questão) em primeiro lugar. Ou feche concomitantemente.
Passando a reforma da Previdência e a agenda tributária, como o senhor vê o restante de seu mandato?
Passadas as reformas o País começa a crescer, os investimentos virão. Não há uma manifestação de investidores que não diga: “se passar a trabalhista e a Previdência, vamos em frente”. Eu acho que isso vai combater o desemprego. Não vai eliminar os 14 milhões (de desempregados) em um ano, mas vai reduzir o desemprego. Outra coisa que quero é viajar um pouco para tentar trazer investimentos, incentivar o investimento estrangeiro no nosso País.
A taxa de desemprego continua muito alta. Quando pode começar a melhorar?
Todo o nosso trabalho é nessa direção, com vistas a gerar emprego. A própria reforma trabalhista. Muitas vezes dizem que a reforma vai acabar com direitos do trabalhador, vai extinguir o trabalho. Ao contrário! O que queremos é estimular o emprego. Meu principal objetivo é combater o desemprego. Se você não conseguir combater o desemprego, aí sim pode dizer que o governo não deu certo. Não por causa da Previdência. O governo não dará certo se não começar a reduzir o desemprego. Nas projeções da área econômica e da área trabalhista, isso vai começar a acontecer no quarto trimestre deste ano.
Os governos do PT deixaram marca forte na área social. Qual será a marca de seu governo nessa área?
A primeira marca é que durante dois anos o governo do PT não revalorizou o Bolsa Família. Nós revalorizamos em 12,5%.
Qual vai ser o porcentual de reajuste neste ano?
Ainda não estou pensando nisso. Não quero antecipar. Se houver possibilidade, eu reajusto. O segundo avanço é a construção de casas populares. No ano passado (o programa) estava paralisado porque não se pagava o empreiteiro. Outra coisa, no plano social, mas que ninguém dá muita importância, a liberação do FGTS das contas inativas. Aliás, acho que o varejo melhorou por causa disso. Esse dinheiro começou a circular na economia. O Fies, por exemplo, que é para o estudante pobre na universidade, nós ampliamos enormemente: 70 mil vagas neste ano. O Cartão Reforma, que estamos concluindo, vai permitir que a pessoa vá à Caixa e saque R$ 5 mil a fundo perdido para poder pintar sua casa, arrumar o banheiro. Fora o macrossocial, que é a reforma trabalhista e a da Previdência.
O que senhor planeja para o Nordeste, onde o PT ainda é forte?
Reconheço que o PT é muito forte no Nordeste e sempre foi. Eu não sei se é o PT ou o Lula, eu tenho um pouco de dúvida. Talvez mais o Lula até. Nós estamos fazendo o possível lá pelo Nordeste. Vou dar um exemplo que também diz respeito à área social: os agricultores familiares iam ao Banco do Nordeste, sacavam R$ 20 mil, R$ 30 mil para a sua pequena agricultura, não conseguiam pagar e aquilo virava R$ 70 mil, R$ 100 mil.Chegou aos meus ouvidos que eles não conseguiam pagar e não tinham crédito, porque estavam inadimplentes. Editei uma medida provisória permitindo que a pessoa renegociasse, muitas vezes pagando até 5% do débito para recuperar o crédito. Sabe quantos contratos conseguiram lá no Nordeste? Um milhão. Isso tem efeito social. Agora, essa questão do prestígio é uma questão política. Eu acho que, se houver reconhecimento, lá no fim do meu governo, é possível que haja influência de outros partidos no Nordeste.
Como o senhor avalia o fato de sua popularidade continuar tão baixa?
Eu tive a coragem e a ousadia de enfrentar temas que outros governos não tiveram. Estabelecer um teto para os gastos públicos é uma ousadia. Porque o que as pessoas mais querem quando chegam aqui é gastar. Para mim seria muito confortável chegar aqui e dizer vou desfrutar da Presidência, gastar à vontade, ainda mais eu que vou ter dois anos e oito meses de governo. Não fiz isso. Faço um parêntese importante. Porque a oposição é muito militante, muito ativa nessas matérias. Nos primeiros momentos da interinidade, era a tese do golpe. Quando começou a esmaecer, eles pegaram a PEC do Teto dos Gastos, que era a chamada “PEC da morte”. Perderam o discurso do teto dos gastos. Daí qual foi o mote? Não deu a história do golpe? Não pegou a história da PEC da morte? Vamos pegar o ensino médio, e houve uma mobilização. A reforma do ensino médio foi aprovada com larga maioria e com aplauso popular. Depois, a oposição pegou a reforma trabalhista. “Vai acabar com o direito do trabalhador”. Aí nosso discurso: leiam a Constituição para ver que não tem nenhum direito a menos, pelo contrário, a tendência é criar emprego. Aí abandonaram a reforma trabalhista.
Menos o Renan Calheiros, presidente.
(Risos) O Renan agora já está comigo.
Que pressão e que troca-troca houve para esta mudança do Renan?
Nem pressão nem troca-troca.
Foi patriotismo, presidente?
Aí eu não sei, é uma questão subjetiva dele. Com muita naturalidade ele esteve aqui conosco, quando chamei todos os senadores do PMDB para discutir a reforma trabalhista. Ele esteve aqui, fez as observações dele e, convenhamos, até dezembro, janeiro, ele colaborou muito comigo. Vocês se lembram de que não havia uma reunião da base governista que não estivesse o Renan de um lado e o Rodrigo Maia do outro lado. Uma coisa, convenhamos, ímpar no sistema político brasileiro. A posição do Renan mudou no mês de março, abril, mas agora temos conversado, nós nos ajustamos. Aí, depende de conversa, de diálogo.
Dizem que é melhor tê-lo por perto, é isso?
Acho que vale a pena. É bom, é bom.
E tratar bem Alagoas ajuda também, não?
Claro, claro. Eu quero muito ajudar Alagoas porque o filho dele é uma bela figura também. Como tenho ajudado outros Estados. Nós temos uma federação falsa, os Estados têm uma autonomia pela metade. Vocês veem o que fizemos. Há mais de dois anos pleiteavam a negociação das dívidas. Já na interinidade eu chamei os governadores, conversamos, eu coloquei eles com o Meirelles, renegociamos as dívidas. Com a repatriação, compartilhamos com os Estados a multa.
Como o Renan mudou tão rapidamente?
Ele tem muita eficiência, muita sabedoria política. Num primeiro momento ele achou que as reformas trabalhista e da Previdência iam criar problemas, mas não se afastou de mim. Se afastou num primeiro momento, mas depois voltou. Voltou fazendo sugestões. Vamos ver essas sugestões. Agora a oposição pegou a reforma da Previdência, que realmente é o tema mais amargo. Não é uma luta de conteúdo, não é de exame técnico das questões. É uma luta política à qual eu respondo politicamente e com a demonstração de conteúdo. Eu tenho de reconhecer, é luta política, paciência, o que eu vou fazer? É legítimo, a democracia é assim.
Este enfrentamento explica a dificuldade de obter reconhecimento?
Sem dúvida. Veja que até caiu um pouco a minha popularidade depois do lançamento das reformas trabalhista e previdenciária. Na da Previdência dizem que agora o Temer quer acabar com os aposentados, tirar a comida das nossas bocas. Tem essa pregação que torna o governo impopular. Eu nunca jogo com o presente, jogo com o futuro. E aqui eu faço uma distinção entre as medidas populistas, que são aquelas que são aplaudidas amanhã, mas que geram grande prejuízo depois de amanhã. E as medidas populares, que têm de esperar e lá na frente vão reconhecer. Eu jogo com o futuro. Tenho certeza de que concluídas essas reformas, todos vão reconhecer que não é nenhum bicho papão, que vai melhorar a vida das pessoas, produzir empregos, mais estabilidade no País. A única coisa que não quero é deparar mais uma vez com uma foto de uma senhora segurando um cartaz dizendo “Sou aposentada, mas não recebo a minha aposentadoria há três meses”. Isto eu não quero que aconteça no Brasil. O Rio está quebrado por causa da Previdência, o Rio Grande do Sul, Minas Gerais.
O senhor já negou ser candidato em 2018. Qual papel terá na eleição presidencial? Será o fiel da balança?
Sabe que eu não sei dizer! Eu não sei como estarei. Penso que o governo estará bem e terei uma dificuldade porque, no sistema atual, com muitos partidos, tenho uma base com 23, 24 partidos, é evidente que muitos lançarão candidatos. Vejam a minha dificuldade: como é que eu vou agir neste período? Não sei, preciso esperar o momento oportuno, o momento das eleições para fazer esta avaliação.
Mas o senhor terá uma presença nas eleições.
É possível, é possível. Vai depender muito das circunstâncias. Se eu estiver bem, é claro que todos virão me procurar em busca de apoio. Se estiver mal, ninguém vai querer se aproximar. Não é assim a vida?
Quais são as lideranças que vão levar este País adiante? Como o senhor vê os nomes que estão aparecendo?
Em primeiro lugar, não há vácuo. Há nomes pré-lançados e podem aparecer novas lideranças. Para a escolha dos candidatos, estamos a um ano e dois meses. Então, vejam quanta coisa ainda vai acontecer até lá, quantas lideranças podem aparecer, quantas circunstâncias podem determinar a modificação deste momento político. Acho que muita coisa pode acontecer.
O PMDB vai ter candidato próprio?
O PMDB quer ter candidato próprio.
A Presidência vê a sucessão na Procuradoria-Geral da República com preocupação?
Não, vejo com a maior tranquilidade. Se eles apresentarem a lista tríplice, não sei como virá, a minha intenção é acatá-la. Embora vocês saibam, e eu digo isso com muito cuidado, que não está na Constituição. É uma prática que vem do tempo do Lula para cá. Mas eu pretendo acatar. Serão três nomes e um deles será escolhido.
Como o senhor está vendo o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE?
Para ser franco, nem vejo o andamento do TSE. Fico esperando. O melhor é que julguem logo, torço para que julguem o mais rápido possível.
Não tem um custo alto para o governo manter ministros citados nas investigações da Odebrecht?
Não tem porque eu fiz um corte de acordo com a ordem jurídica. Se alguém se tornar réu (sai do governo)… Mas, mesmo assim, você sabe que o réu pode ser absolvido. Mas aí já avançou de uma tal maneira que não dá para ser mantido.
Mas tem um aspecto mais político do que jurídico. Acaba sendo uma marca do seu Ministério.
Mas que não diz respeito ao governo. Quando você vê um elenco de 300 nomes dos mais variados governos, governadores, prefeitos, você verifica que, a não ser que você amplie isso para toda a classe política, (que) aqui tem pessoas mencionadas que são da melhor qualificação administrativa, prestam um serviço extraordinário. É um custo-benefício que compensa.
Há possibilidade de mudanças no Ministério em função dos votos na Câmara para a aprovação da reforma da Previdência?
Não. As pessoas dizem que eu faço uma espécie de semiparlamentarismo, mas é que no presidencialismo você não governa se não tiver o apoio do Legislativo. E o Legislativo no Brasil sempre foi tido como um apêndice do Executivo. E eu faço do Legislativo um parceiro do governo, governamos juntos. Por isso talvez que eu tenha conseguido aprovar muita coisa de difícil aprovação.
Qual o limite ético para as negociações com o Legislativo para garantir votos?
Na minha cabeça funciona da seguinte maneira: quem está ao seu lado tem de ajudar a governar. É mais do que natural que haja indicações políticas (na ocupação de cargos), que haja composição política. E isso não deve chocar a ninguém. Não é exatamente um toma lá dá cá. Quando você obtém a maioria no Legislativo, governa com a maioria.
Passada a reforma da Previdência, qual será o discurso da oposição?
Governo ilegítimo. Porque, na verdade, violou a Constituição. Aí eu remeto para o artigo 79 da Constituição. Nos Estados Unidos, qualquer pessoa ficaria corada se alguém dissesse que o vice-presidente não pode assumir no impedimento ou na ausência do presidente. Aqui não, as pessoas falam com uma impunidade. Volto a dizer, as pessoas aqui têm desprezo pelas instituições e pela Constituição Federal.
Que pessoas?
A oposição. Vão continuar com esta história de governo ilegítimo.
O ‘Fora, Temer’ morreu?
De vez em quando eu vejo com satisfação que uma ou outra pessoa ergue uma faixinha e se perde na multidão.
Mas nas redes sociais o ‘Fora, Temer’ o incomoda?
Tempos atrás eu li o artigo do Elio Gaspari, Fica, Temer. Não sei por que razão eu telefonei e ele me disse “o que que eu fiz?”. Eu respondi: você me convenceu a ficar. Aliás, ficou simpático este ‘Fora, Temer’. Eu acho que vou sentir falta.
Com informações O Estado de São Paulo