O livro “Aparelho sexual e Cia.”, que ficou conhecido pejorativamente como “kit gay”, nunca fez parte de nenhum kit nem foi comprado pelo Ministério da Educação (MEC) para ser distribuído nas escolas públicas brasileiras. O livro, porém, foi apresentado como tal pelo candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, em entrevista ao Jornal Nacional na noite de terça-feira, 28.
O livro apresentado pelo presidenciável na televisão e nas redes sociais é a tradução do livro francês “Aparelho sexual e Cia.”, lançado no Brasil em 2007 pelo selo juvenil da editora Companhia das Letras. A obra utiliza o conhecido protagonista da série em quadrinhos “Titeuf”, de origem suíça, e seu conteúdo está destinado à orientação sexual para crianças e adolescentes.
A informação de que o livro da escritora francesa Hélène Bruller seria distribuído em escolas públicas começou a ser difundida por Bolsonaro no dia 10 de janeiro de 2016 através de um vídeo que publicou no Facebook. Dois dias depois, o Ministério da Educação emitiu um comunicado em que afirma que “não produziu e nem adquiriu ou distribuiu o livro ‘Aparelho Sexual e Cia’”.
A instituição também declarou que “não há qualquer vinculação entre o ministério e o livro, já que a obra tampouco consta nos programas de distribuição de materiais didáticos levados a cabo pela pasta”. A assessoria de imprensa da Companhia das Letras confirmou que o interior de um exemplar mostrado por Bolsonaro no mesmo dia da entrevista, em uma publicação no Facebook, realmente faz parte do livro.
De acordo com a assessoria de imprensa da editora, o livro “nunca foi comprado pelo MEC, como tampouco fez parte de nenhum suposto ‘kit gay’. O Ministério da Cultura comprou 28 exemplares em 2011, destinados a bibliotecas públicas”. A Companhia das Letras também afirmou que o livro “conta ainda com uma seção chamada ‘Fique esperto’, que alerta os adolescentes para situações de abuso, explica o que é pedofilia — mostrando como tal ato é crime —, o que é incesto e até fornece o contato do Disque-denúncia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos”.
A obra foi publicada em dez línguas e vendeu mais de 1,5 milhões de exemplares, foi transformada em uma exposição apresentada por duas vezes na Cité des Sciences et de l’Industrie em Paris. O Movimento Brasil Livre (MBL) publicou no Twitter a falsa informação de que o candidato pelo PSL expôs o “Kit Gay” na entrevista organizada pela “Rede Globo”. Outros usuários disseminaram a informação de que crianças recebem a obra nas escolas.
Em 2016, a revista “Nova Escola” publicou um desmentido sobre a falsa informação a respeito do livro. As postagens enganosas foram verificadas agora pela “Nova Escola”, pela “AFP” e pelo jornal “O Povo”, além do UOL, todos integrantes do Projeto Comprova.
Com informações do Portal Uol Notícias