O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, disse que não julgar a possibilidade de prisão após condenação sem 2ª instância, só porque o tema tem relação com a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, é “discriminação”. Segundo ele, “tem que colocar em pauta, haja a repercussão que houver”.
Em sua avaliação, é preferível que os 11 ministros da Corte julguem as duas ações que pedem a suspensão da execução antecipada da pena antes de analisar o habeas corpus de Lula. O ex-presidente tenta evitar prisão até o esgotamento de todos os recursos no caso do triplex no Guarujá (SP). “O ato de pautar não é norteado por envolvimento deste ou daquele cidadão. Processo, para mim, não tem cara, tem conteúdo”, disse.
Marco Aurélio é relator de duas ações nas quais o STF firmou, em outubro de 2016, o entendimento de que é possível iniciar o cumprimento de pena após a condenação em 2ª instância. Marco Aurélio foi voto vencido na época. Mesmo liberadas para serem julgadas no mérito, a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, afirmou, no final de janeiro, que usar o caso do ex-presidente Lula para revisar as ações seria “apequenar” o STF.
Uma semana depois das declarações, o ministro Edson Fachin negou o pedido de liminar do ex-presidente para evitar a prisão, e decidiu submeter ao plenário da Corte a análise do caso. Fachin citou que o plenário é o local adequado para julgar o mérito do habeas corpus de Lula, destacando que pendem de julgamento no mérito as ações sob relatoria de Marco Aurélio.
Na terça-feira, 20, num gesto de pressão sobre a presidência do STF, a 2ª Turma da Corte encaminhou para análise do plenário dois habeas corpus que tratam de prisão após condenação em 2ª instância. Os ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello apontaram a necessidade de uma decisão do pleno sobre o mérito das duas ações de relatoria de Marco Aurélio, antes da decisão sobre casos concretos.
Ao comentar a decisão dos colegas, o ministro destacou que o colegiado é sempre uma “caixa de surpresas”. “Não sabemos qual vai ser a definição. Alguns dizem que o ministro Gilmar (Mendes) vai evoluir.” Marco Aurélio disse ainda que, quando a Corte firmou o entendimento de que é possível executar a prisão após condenação em 2ª instância, o fez de forma “precária” e “efêmera”.
Mais cedo, o ministro decano do Supremo, Celso de Mello, comentou que é necessário que o plenário da Corte, “órgão naturalmente competente para decidir essa questão”, se pronuncie sobre o tema. Assim como Marco Aurélio, o ministro considera ideal que o Supremo julgue as ações gerais de 2ª instância antes de analisar o caso de Lula. “Isso permitirá ao Tribunal examinar em tese, sem qualquer vinculação a um caso concreto ou a uma determinada pessoa, a questão.”
Com informações do Jornal O Estado de São Paulo