A jornalista Miriam Leitão disse, nesta terça-feira, 13, ter sido vítima de “ataques de violência verbal” durante um voo que saía de Brasília, com destino ao Rio de Janeiro, no último 3 de junho. No seu blog, a colunista afirmou que “delegados do PT” proferiram, por duas horas, gritos, xingamentos e palavras de ordem contra ela, chamando-a de, por exemplo, “terrorista”. O episódio ocorreu em uma aeronave da Avianca, que ainda não se posicionou sobre o caso.

Segundo a colunista, o Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e, por isso, muitos dos passageiros ainda estavam vestidos com camisetas do encontro. Ela teria ido à capital federal para gravar um programa da emissora de tevê Globonews. Ainda segundo Miriam, os ataques não partiram de “jovens militantes”, mas de “representantes partidários, que estariam em seus cinquenta anos”. Ela alega ter sido ameaçada, ter tido seu nome achincalhado e acusada de defender posições que não defende.
“Antes de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que embarcariam em outro voo”, contou. A jornalista lembra que foi uma das primeiras pessoas a entrar no avião e logo se sentou na poltrona 15C. Coincidentemente, de acordo com o relato, as pessoas que a atacaram se sentaram em cadeiras próximas a ela: “Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas como ‘terrorista, terrorista'”.
Miriam escreveu que, neste momento, havia pensado na ironia que estava vivendo, pois foi chamada de “terrorista” em um quartel do Exército, aos 19 anos, quando havia sido presa durante a ditadura. “Tantas décadas depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim”, disse.
Outra queixa da jornalista é que a tripulação não tentou intervir na situação, e o voo seguiu como uma espécie de “comício”. O piloto, segundo ela, sequer usou o serviço de som da aeronave para pedir por silêncio. A única atitude da equipe da companhia aérea foi de tentar trocá-la de lugar, “a convite do comandante”, ainda antes da decolagem.
No entanto, Miriam se recusou. “Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar”, respondeu. Minutos depois, a aeromoça voltou e disse que a Polícia Federal estaria ordenando que ela fosse se sentar à frente — caso contrário, a aeronave não partiria. E a colunista novamente negou o pedido: “Diga à PF que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada”.
“Durante o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei, porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias”, escreveu.
Miriam reforçou que “os delegados do PT que a ofenderam” mostraram uma visão totalmente distorcida de seu trabalho. Ela disse que não era uma inimiga do partido, tampouco torceu pela crise. Apenas alertou que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. “Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas, e há vários registros disso”, explanou.
Por fim, a colunista ressaltou que “os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido”. Lula citou, de acordo com ela, mais de uma vez, seu nome em comícios ou reuniões partidárias — assim como teria feito nesse último fim de semana. “É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho”, finalizou.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou uma nota na qual disse que repudia o comportamento dos passageiros, que, “de maneira covarde e intolerante”, atacaram Míriam Leitão. Para a institução, “não há nada que justifique assédio violento a qualquer cidadão por suas posições ou seus atos”.
“Infelizmente, o acirramento de posições políticas tem levado à proliferação de situações como essa, seja em aviões, restaurantes e mesmo hospitais. O dissenso é saudável para uma democracia, e o embate civilizado de ideias é o melhor caminho para a construção de uma sociedade mais justa. A violência, a intolerância e a incompreensão do papel da liberdade de expressão, ao contrário, podem ferir de morte o regime democrático”, escreveu.
Com informações Correio Brasiliense