A nova edição da pesquisa Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024, feito pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), mostrou que pessoas pretas e pardas lideram em mortes ligadas ao uso de álcool. Conforme a pesquisa, em 2022, a taxa de óbitos atribuíveis ao álcool entre a população negra foi de 10,4 por 100 mil habitantes. Em contrapartida, entre as pessoas brancas, essa taxa foi de 7,9.
A disparidade é ainda maior quando analisamos os dados por gênero. A taxa de mortalidade entre mulheres pretas e pardas é de 2,2 e 3,2, respectivamente. Entre mulheres brancas esse número cai para 1,4, o que representa uma diferença bastante significativa. Além disso, é importante destacar que 72% das mortes relacionadas a transtornos mentais e comportamentais associados ao consumo de álcool ocorrem entre mulheres pretas e pardas.
A pesquisa revelou também que a pandemia marcou uma pausa na diminuição das mortes relacionadas ao consumo de álcool. Em 2022, a taxa alcançou 33 mortes por 100 mil habitantes, embora ainda se apresente inferior à de 2010, que foi de 36,7. Outro ponto importante é que dezesseis estados têm taxas de mortalidade atribuídas ao álcool que superam a média nacional, com Paraná (42,0), Espírito Santo (39,4) e Piauí (38,9) ocupando os primeiros lugares no ranking.
A análise inédita utiliza uma metodologia que envolve o processamento de dados de indicadores populacionais relacionados ao consumo de álcool e à mortalidade. Foram aplicadas as Frações Atribuíveis ao Álcool para diferentes agravos à saúde. Entre as fontes oficiais consultadas estão o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Datasus e o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
Para socióloga o estudo aponta uma desigualdade na saúde
O número de mortes ser maior na população preta e parda não significa que esses grupos consumam mais álcool do que a população branca. A socióloga e coordenadora do CISA, Mariana Thibes, explica que o número maior de óbitos não se dá pela quantidade de álcool consumido, mas pela desigualdade de acesso à saúde. “O que explica a diferença nas mortes é a desigualdade em saúde, ou seja, quando se deparam com o problema do uso abusivo, negros têm acesso muito menor a tratamentos de qualidade do que os brancos”, apontou Thibes.
Ela também explica que a discriminação está ligada à deterioração da saúde mental, aumentando a probabilidade de desenvolver diversos transtornos, incluindo o alcoolismo. “Isso ocorre pela via do estresse gerado pela experiência da discriminação. É sabido, ademais, que o uso de álcool como recurso para enfrentar dificuldades é um importante fator de risco para desenvolver dependência”, afirma Mariana.
Para a socióloga, a presença de um estigma histórico no país de que a população negra consome mais bebida alcoólica corrobora para que essas pessoas evitem procurar ajuda quando precisam. “O próprio alcoolismo, independentemente da cor da pele, já é uma doença cercada por estigmas. Quando isso se soma ao preconceito racial, temos uma situação ainda mais difícil”.
Internações por álcool
Quando analisados os dados relacionados às internações totalmente atribuíveis ao álcool por 100 mil habitantes, em 2023, a taxa foi aproximadamente metade da registrada em 2010, reduzindo-se de 57 internações por 100 mil habitantes para 27 por 100 mil habitantes.
Por outro lado, a proporção de óbitos entre os pacientes hospitalizados devido ao uso de álcool aumentou de 3% para 6% ao comparar os anos de 2010 e 2023, o que pode estar relacionado ao aumento no número de internações de indivíduos em condições críticas.
(*)com informação do Jornal CB