Com o grande aumento de casos de dengue no Brasil, é comum questionar se a doença também pode ser transmitida para outras espécies. Os pets, animais mais próximos, são os primeiros da lista de dúvidas, mas, não, eles não podem ser infectados pela doença. Porém, o mosquito transmissor da dengue, a Aedes aegypti, pode picar os bichinhos e transmitir outras doenças, capazes de colocar a saúde dos pets em perigo.
Segundo a médica veterinária Letícia Vargas Falone, a dengue é causada por um vírus que não afeta os animais de estimação, por isso eles não correm riscos em relação à doença. “Segundo alguns estudos e teoria, o mosquito não infecta esses animais, pois eles não têm organismos propícios para se desenvolver, apenas em humanos e em primatas”, explica Letícia. Porém, a profissional completa que a dirofilariose, doença que afeta o coração, é uma zoonose transmitida pela picada de mosquitos de várias espécies, inclusive o Aedes aegypti.
Verme do coração
A dirofilariose é uma doença pouco conhecida. De acordo com o veterinário e diretor da Clínica Veterinária do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac), Igor Melo Zimovski, é causada pelo nematódeo Dirofilaria sp., conhecido como verme do coração dos cães. “É chamado assim porque se aloja no coração e em grandes vasos dos cães, causando disfunções cardíacas e pulmonares”, explica. Esse parasita, que afeta o sistema circulatório, também pode acometer os gatos, mas esses são mais resistentes à infecção.
Para que a doença não se agrave, é fundamental identificar os sinais clínicos da condição, que é bastante endêmica em regiões litorâneas. Esses sintomas podem variar de caso para caso, mas incluem tosse, dificuldade respiratória, intolerância a exercícios, ruídos cardíacos e pulmonares e hepatomegalia (inchaço do fígado).
Além disso, a perda de consciência súbita, chamada síncope, também pode estar presente, assim como congestão aguda do fígado e dos rins. Segundo Zimovski, em casos mais graves, insuficiência cardíaca e morte podem ocorrer.
Tratamento, diagnóstico e prevenção
De acordo com a veterinária Letícia Vargas, para combater essa zoonose existem alguns medicamentos. “O tratamento consiste em dois tipos de adulticida e microfilaricida, ambos devem ser ministrados por médico veterinário”, explica. Esses produtos eliminam as larvas adultas e as formas jovens dos vermes. Em alguns casos, também são usados remédios para aliviar os sintomas e, em situações graves, pode ser necessário uma cirurgia para remoção dos vermes.
Já para a prevenção, existem medicamentos orais e tópicos que ajudam a evitar a contaminação da dirofilariose e outras doenças transmitidas por esses vetores. O uso regular de vermífugos à base de ivermectina e a realização frequente de exames também ajudam na manutenção da saúde do bichinho. “Devemos ter os mesmos cuidados com os pets que temos conosco, como ficar de olho nos bebedouros dos nossos animais e usar coleiras repelentes”, completa Letícia.
Além disso, a aplicação de produtos para repelir os transmissores, chamados de pour on, e o constante combate à proliferação dos mosquitos são medidas imprescindíveis, não só para evitar essa doença como também outras, como a leishmaniose. Essa é bastante endêmica no Brasil e é causada pelo mosquito flebotomíneo, conhecido como mosquito palha. A doença pode infectar animais, como cães e gatos, sendo perigosa e sem cura e, se não houver tratamento, pode levar o bichinho à morte.
O risco de contaminação dessas doenças não é exclusivo para os pets; os humanos também podem se infectar. “O que pode acontecer é um mosquito Aedes picar um cão contaminado com a dirofilariose e, depois, picar o ser humano e acabar transmitindo, mas são raros esses relatos”, explica Letícia. A leishmaniose também funciona da mesma forma e, quando não tratada, pode levar à morte.
Cuidado na rotina
Como muitos tutores de pets, a administradora Hilka Maria Guedes, 41 anos, investe tempo para proteger seus bichinhos dos mosquitos. Vivendo com 21 animais — 18 cães e três gatos —, Hilka procura observar constantemente os ambientes do terreno. “Eu moro em um condomínio que tem muitos lotes sem ocupação, então os donos não limpam regularmente. Nós tentamos limpar da forma possível, mas tem locais externos que não conseguimos, porque não depende só de nós, então é bem complicado”, conta Hilka.
Por isso, a administradora sempre busca vacinar seus bichinhos e, quando não é possível, utiliza coleiras repelentes. “Nós observamos muito os sinais dos nossos pets, porque, aqui, além do mosquito, tem outros bichos que são perigosos, então fazemos dedetização e todas as formas de combate que estão dentro das nossas possibilidades”, pontua. Além disso, se qualquer alteração no comportamento dos pets é percebida, a tutora busca ir ao veterinário o mais rápido possível.
(*)Com informação do Jornal CB