O Ministério Público Federal (MPF) investiga se a ex-primeira-dama do Rio Adriana Ancelmo movimentou indevidamente bens que estariam bloqueados por medida judicial. Ela foi interrogada nesta quarta-feira (10) e confirmou que baixou para sua conta-corrente cerca de R$ 1,2 milhão para pagar despesas pessoais, mas disse que a medida foi considerada legal pelo gerente do banco.
O procurador Rodrigo Timoteo, que acompanhou a audiência na 7ª Vara Federal Criminal, presidida pelo juiz Marcelo Bretas, disse que vai oficiar o banco Itaú para saber detalhes de como ocorreu a transação. Ele disse que, dependendo do que for apurado, Adriana pode inclusive deixar a prisão domiciliar e voltar para o Complexo Prisional de Gericinó, em Bangu.
“Nós vamos solicitar informação para o banco Itaú, que vai esclarecer como tomou essa posição, quem deu essa ordem. Pode ser que houve uma quebra de ordem judicial de bloqueio e, se houve isso, vamos tomar as providências necessárias para poder resgatar esse dinheiro. Isso precisa ser investigado. Dependendo do que for apurado, pode ser solicitado pelo Ministério Público [a regressão do regime]”, disse Timoteo.
Segundo Adriana, não houve assinatura de procuração. A sua secretária que teria falado por telefone com o gerente da conta para baixar o dinheiro da aplicação em previdência privada. Ela disse que foi informado, pelo gerente, que a operação era possível e que estaria amparada na lei
“Houve a baixa de uma aplicação de previdência. O meu gerente disse que não estavam sujeitas a bloqueio as previdências de meus filhos. Eu preciso me manter, pois não detenho dinheiro em qualquer outro lugar e minha subsistência depende dos valores que estão na minha conta. Eu baixei aplicação da previdência de meu filho, esse valor entrou na minha conta. Estava no meu nome e eles eram os beneficiários. Eu resgatei um desses valores. Foi solicitado pela minha secretária. Eu estava presa”, explicou.
Ao ser perguntada pelo juiz Bretas se ainda havia algo deste valor em sua conta, Adriana falou que o R$ 1,2 milhão foi totalmente gasto em despesas pessoais e que não restou mais nada. “Esse dinheiro foi transferido imediatamente para o pagamento parcial de honorários e para o pagamento de dívidas com funcionários”, informou ela ao final da audiência, que teve uma hora de duração.
Delação premiada
Antes dela, Bretas ouviu o empresário Luiz Igayara, dono de um frigorífico de frangos na zona oeste do Rio, acusado de lavagem de dinheiro, que assinou um termo de delação premiada na manhã desta quarta-feira, o que surpreendeu a defesa de Adriana. Ele confirmou que lavou cerca de R$ 2,5 milhões para o ex-governador Sergio Cabral, que entregava o dinheiro alegando serem sobras de campanha e que o recurso era entregue no escritório de advocacia de Adriana, dividido em várias parcelas, sob justificativa de consultoria jurídica.
Igayara disse ao juiz que, de fato, houve a prestação de um trabalho de consultoria para sua empresa sobre uma eventual venda do grupo, mas que o valor foi de R$ 7 mil. Ao ser confrontada por Bretas sobre a informação de Igayara, Adriana negou que tenha recebido qualquer quantia ilegal dele e que o serviço foi realizado, ao valor aproximado de R$ 2,5 milhões.
“Efetivamente eu prestei os serviços, o escritório foi demandado e não consigo imaginar por que, num acordo de colaboração premiada, ele venha aqui dizer que isso era fictício. O senhor Luiz Igayara jamais poderá dizer que tratou de pagamentos de contratos fictícios comigo. Nenhum empresário, nenhum delator, nenhum operador, nenhuma pessoa poderá mencionar qualquer tratativa de recebimento de valores ilícitos por meio de meu escritório ou diretamente por mim. Eu jamais participei, jamais contribui, com qualquer tipo de atividade ilícita”, disse Adriana.