Em 2012, Steven Hansen morreu de cirrose hepática, e, por isso, os seus órgãos foram rejeitados para doação. A viúva, Jill, aceitou sugestão dos médicos e doou o cadáver para a ciência. A americana achou que seria benéfico para os médicos estudar mais sobre como o álcool afeta o corpo.
Porém Jill acabou descobrindo que o cadáver, inicialmente entregue ao Centro de Recursos Biológicos em Phoenix (Arizona), foi vendido para o Departamento de Defesa.
O corpo do marido foi usado como “boneco de teste” em uma colisão simulada de veículo militar blindado Humvee, com explosão. Jill ficou completamente perturbada com a revelação e pediu desculpas diversas vezes ao marido.
A CBS News mostrou em reportagem na semana passada que Stephen Gore, fundador da entidade em Phoenix, que não existe mais, vendeu milhares de corpos sem o consentimento das famílias. Eles foram usados em experimentos militares e balísticos que levaram a “mutilação completa e profanação dos corpos doados”. Gore foi preso e condenado a um ano de prisão e quatro anos de liberdade condicional, por violar acordos de consentimento de doadores. A cena no depósito de Gore era tão “abominável” que os agentes envolvidos na operação tiveram que ter acompanhamento psicológico.
“Fiquei arrasada”, disse Jill. “Eu nunca teria feito isso se soubesse. Eu apenas continuo dizendo a ele que sinto muito”, completou a americana.
O caso de Gore não é isolado. Agentes do FBI (polícia federal americana) agiram em várias frentes. Numa delas, prenderam o corretor de corpos Arthur Rathburn, cujo armazém em Detroit (Michigan, EUA) foi posteriormente descrito pelos investigadores como uma “casa dos horrores”.
“Ele tinha um balde cheio de um líquido marrom que tinha fetos e cérebros humanos flutuando nele”, afirmou o agente especial Paul Micah Johnson. “Ele tinha latas de lixo cheias de cabeças humanas, numa maneira desrespeitosa de tratar os restos mortais”, completou. Em 2018, Rathburn foi condenado a 9 anos de prisão.
Todos os anos, informou a CBS News, cerca de 20 mil cadáveres são doados nos EUA para fins de pesquisa científica e educação médica. Mas, ao contrário da doação de órgãos, essas partes do corpo podem ser compradas e vendidas com fins lucrativos – um mercado com pouquíssimas regulamentações federais.
Embora a maioria dos doadores (e suas famílias por conseguinte) consinta com doações para pesquisa e educação, legalmente os acordos podem incluir adendos que permitem que os doadores sejam usados para “projetos não médicos” que incluiriam “investigação da cena do crime” e “segurança veicular”.
Em setembro de 2022, um projeto de lei para a corretagem de corpos foi apresentado no Senado dos EUA, impondo regulação federal sobre o processo de doação de corpos, mas nenhuma votação foi agendada até agora.